Mark Knickrehm, líder global de estratégia da consultoria Accenture (Divulgação)
Naiara Bertão
Publicado em 20 de fevereiro de 2017 às 05h55.
Última atualização em 20 de fevereiro de 2017 às 17h56.
São Paulo – O economista americano Mark Knickrehm lidera há três anos a divisão considerada uma tropa de elite dentro da consultoria Accenture. Chefe global da área de estratégia, ele tem uma longa experiência internacional no setor de saúde. Numa recente visita a São Paulo, Knickrehm falou a EXAME sobre o atraso de hospitais e de planos de saúde na corrida digital — e quanto isso afeta a vida de milhões de brasileiros.
EXAME – Por que os custos com saúde não param de crescer no Brasil?
Mark Knickrehm – Esse é um fenômeno global. Na última década, os custos com saúde em todo o mundo aumentaram de 10% a 15% ao ano, o que é totalmente insustentável. A principal causa é que a medicina não está curando mais doenças. Está ajudando os pacientes crônicos a lidar melhor com a doença e a viver mais anos. Além do alto custo, muitos países enfrentam dois outros problemas: a falta de acesso das pessoas aos serviços adequados e a baixa qualidade.
EXAME – Os avanços da tecnologia não deveriam elevar a eficiência?
Mark Knickrehm – A tecnologia existe, mas, sem a integração das informações dos pacientes, o aumento da eficiência fica limitado. Clínicas, hospitais e planos de saúde precisam trabalhar juntos, com bancos de dados conectados virtualmente.
EXAME – De que forma o compartilhamento das informações diminuiria os custos?
Mark Knickrehm – Nas filas dos prontos-socorros brasileiros, há gente que não deveria estar lá por não ter algo urgente e gente que vai refazer exames de forma desnecessária. Fora isso, médicos e enfermeiros não têm acesso a informações que esclareçam o histórico dos pacientes. Prontuários eletrônicos acessíveis em cada unidade de saúde, pública e privada, mudariam isso e certamente teriam um impacto positivo na redução dos custos do sistema como um todo.
EXAME – O que poderia diminuir as filas nos hospitais?
Mark Knickrehm – Casos mais simples, como dor de ouvido, podem ser tratados em casa pelo paciente, com a supervisão virtual de médicos. Já há iniciativas assim na Espanha e nos Estados Unidos.
EXAME – Por que a adoção dessas inovações é lenta?
Mark Knickrehm – As empresas do setor de saúde gastam muito em máquinas de diagnóstico e em novas drogas, mas pouco em captura, manutenção e análise de informações. Vou dar um dado global. Os bancos e as seguradoras gastam, em média, mais de 8% de seu faturamento com softwares de banco de dados e análise. No setor de saúde, esse percentual não passa de 3%.
EXAME – O número de pessoas que fazem mapeamento genético tem aumentado rapidamente. De que forma isso vai impactar os sistemas de saúde?
Mark Knickrehm – Ter o mapeamento genético é um importante avanço. Mas, para tirar melhor proveito das informações que ele oferece, é preciso conectá-lo a um banco de dados clínico. Com base na análise dos genes e do histórico médico, um sistema de saúde poderá prever, por exemplo, qual a probabilidade de uma pessoa desenvolver uma doença crônica, como o câncer. E, a partir daí, definir o melhor tratamento.
EXAME – Em quais países isso já está acontecendo?
Mark Knickrehm – A Inglaterra e a Islândia estão mais avançadas nessa área. A China também está dando alguns passos. No Brasil quase não há iniciativas desse tipo.