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Economia compartilhada é colocada em xeque na pandemia

Temor de contágio provoca o renascimento do antigo status quo: carro próprio e casas grandes

 (BlaBlaCar/Divulgação)

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Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 16 de julho de 2020 às 07h00.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 11h56.

Enquanto diversos setores buscam se reerguer dos efeitos da pandemia da covid-19, uma dúvida fundamental tem afligido empresas e investidores: como fica a cultura do compartilhamento, uma tendência que surgiu com força nesta década entre os jovens e vinha ditando as principais tendências nos negócios? Diante do temor de contágio, quem vai continuar usando carros de aplicativo ou dividindo áreas comuns nos condomínios?

Pelo menos no curto e no médio prazo, pesquisas mostram que os consumidores pretendem usar meios de transporte que permitam manter o distanciamento social. Nesse cenário, modais individuais, como bicicletas, patinetes e carros particulares, são os vencedores, enquanto ônibus, trens e apps como Uber, 99 e Cabify devem sofrer.

Uma pesquisa global realizada pela consultoria Capgemini mostra que 35% dos consumidores pensam em adquirir um carro em 2020. No público abaixo dos 35 anos de idade, nota-se a maior intenção, admitida por 45% — uma reversão da preferência histórica por evitar a compra e pagar apenas pelo uso.

Mesmo assim, Regis Nieto, sócio da consultoria Boston Consulting Group, diz acreditar que o modelo tradicional de posse de automóveis sofrerá mudanças. O mais provável, em sua opinião, é que novos modelos, como o aluguel mensal de veículos, cresçam.

Nesse segmento está a brasileira Turbi, que conta com uma frota de 700 carros em estacionamentos 24 horas prontos para ser acionados pelo app. Na pandemia, a startup acabou com o valor mínimo de aluguel e notou que as viagens dos clientes ficaram mais curtas e frequentes: 40% estão pegando os carros para ir ao supermercado.

Outro levantamento, do Grupo Zap, indica que a busca por casas disparou 390% na crise, e a procura por apartamentos de um quarto caiu de 25% para 21% do total. “Os usuários buscam também imóveis mais distantes das grandes cidades”, afirma Deborah Seabra, economista do grupo imobiliário.

Para a construtora Tecnisa, os consumidores vão querer mais espaço nos apartamentos, mas, com as limitações de orçamento, as áreas compartilhadas ainda serão valorizadas.

A empresa tem adicionado aos empreendimentos espaços colaborativos de trabalho para que os moradores tenham um home office mais estruturado. Para ajudar pequenos empreen­dedores, a construtora criou um espaço para embalar, testar e preparar produtos para envio. “Em vez de fazer uma sauna ou uma biblioteca, vamos construir esse tipo de espaço colaborativo”, diz Romeo Busarello, vice-presidente de marketing e ambientes digitais da Tecnisa.

Mas essas tendências vieram mesmo para ficar? Na opinião de Robin Chase, empreendedora serial americana, autora do livro Economia Compartilhada e fundadora de um dos maiores apps de caronas do mundo, o Zipcar, tudo dependerá da evolução da pandemia e do segmento de atuação da startup do nicho colaborativo. “Não é possível ver a economia compartilhada como um bloco só”, diz Chase.

Segundo ela, a demanda por apps de caronas, como o Blablacar, retornou a patamares pré-crise em países como a França. O Airbnb estava pessimista, mas já detectou um aumento na demanda por casas próximas das cidades, que possam ser acessadas de carro, já que o avião será evitado.

Assim, uma crise global de saúde pública pode se tornar uma oportunidade para tais serviços. “É hora de pedir aos governos o aumento de ciclovias e infraestrutura para transporte individual barato e seguro”, diz Chase. “Isso já está acontecendo em algumas cidades e pode mudá-las de forma permanente.”

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