Huf Haus (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h39.
Um dos dilemas enfrentados pelas empresas de várias partes do mundo hoje é como se posicionar diante da cada vez mais premente questão da sustentabilidade. É uma unanimidade mundial que aparecer na mídia como agressor do meio ambiente provoca imenso estrago à imagem — e ao próprio negócio. Outro ponto — bem menos pacífico — é como e quando mudar os produtos para atender consumidores preocupados com questões como o aquecimento global. Para a empresa alemã de casas préfabricadas Huf Haus, essa é uma questão resolvida.
Criada em 1912 pelo carpinteiro Johann Huf, a empresa permaneceu décadas com atuação restrita aos arredores de sua cidade de origem, Hartenfels — onde até hoje funciona sua fábrica. A partir do final da Segunda Guerra Mundial, já sob o comando do herdeiro Franz, a Huf Haus participou de obras como a reconstrução dos prédios centrais dos Correios em Colônia e Frankfurt, destruídos pelos bombardeios aliados, sem nunca chegar a ser uma referência. Em busca de uma identidade, na década de 70 criou sua primeira casa sustentável, com ideias então inovadoras, como o aproveitamento da água da chuva. Mesmo na Alemanha, um dos precursores da conscientização verde, o sucesso dessa proposta não foi imediato.
As vendas da Huf Haus só deslancharam a partir do ano 2000, quando leis de incentivo à produção local de energia renovável foram criadas. Foi então que as casas com telhados cobertos por células fotovoltaicas para a produção de energia solar e com paredes envidraçadas para diminuir o consumo de eletricidade captaram o imaginário dos milionários. Sim, a Huf Haus faz casas pré-fabricadas, mas é uma marca de grife. Uma construção de 400 metros quadrados — sem contar o valor do terreno — custa, em média, o equivalente a 2 milhões de reais, um preço 30% superior ao de uma casa de metragem semelhante e quase o dobro do cobrado pela empresa no começo da década. Sua marca registrada é o estilo arquitetônico Bauhaus.
Em 2002, Georg e Thomas, dois netos do fundador, assumiram o comando e deram início a um ambicioso projeto de internacionalização. Para eles, fazia todo o sentido seguir a onda verde que se espalhava para fora das fronteiras alemãs. Hoje há representações em 17 países, incluindo escritórios recém-abertos em Cleveland, nos Estados Unidos, e em Pequim, na China. “Encontramos na China um mercado mais receptivo do que imaginávamos. Já vendemos cinco projetos, todos na província de Qingdao”, diz Michael Baumann, diretor da Huf Haus. A expectativa é repetir em outros países o sucesso que a marca faz na Inglaterra, onde ganhou fama há cinco anos, depois de um de seus projetos ter sido destacado pelo programa de TV Grand Designs, transmitido pelo Channel 4. Agora, um quarto da produção de 200 casas anuais é vendido no mercado inglês.
Um dos aspectos que mais seduzem os admiradores da marca é a perspectiva de ter um design exclusivo, feito sob medida, a partir das muitas possibilidades de composição dos módulos. “Nenhum dos nossos projetos já executados é igual a outro”, diz Baumann. As peças são transportadas em caixas para ser montadas in loco por equipes treinadas. Dependendo do nível de complexidade do projeto, tudo pode estar concluído em apenas um mês — sem produção de resíduos e sem os típicos desperdícios comuns a todas as obras. Uma vez montadas, as casas chamam a atenção pelo número de recursos usados para diminuir o consumo de energia.
Com a intenção de aumentar o isolamento térmico, os vidros têm três camadas, mas talvez o mais inovador seja o sistema de refrigeração. Quando o dono do imóvel quer resfriar o ambiente interno e o ar de fora da casa está mais frio, bombas fazem a troca. Mesmo sendo ecologicamente correta, uma grife e sinal de distinção entre os ricos e descolados, a Huf Haus tem vários críticos entre seus clientes. Na Inglaterra, cerca de dez casas estão à venda. São imóveis espaçosos e com preços entre 4 milhões e 7 milhões de reais. Uma das reclamações mais comuns é a dificuldade de limpar tantos vidros, incômodo que para os donos se tornou maior que a vontade de preservar a natureza.