Revista Exame

Academia na empresa é trabalho ou malhação?

Uma academia dentro do escritório. Esse é o benefício da vez em empresas que levam a sério a saúde (e a produtividade) dos funcionários

Alongamento em sala dentro da Asics, em São Paulo: a passarela vazia virou academia (Asics/Divulgação)

Alongamento em sala dentro da Asics, em São Paulo: a passarela vazia virou academia (Asics/Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 30 de janeiro de 2020 às 05h20.

Última atualização em 30 de janeiro de 2020 às 12h50.

O que uma empresa pode oferecer para fazer os olhos do funcionário brilhar? A lista tem crescido nos últimos anos: horário flexível, sala de descompressão, propósito… A resposta também passa pela saúde. É na área do bem-estar que parecem estar os novos e desejáveis benefícios. Um deles é oferecer mais do que apenas acesso a uma academia de ginástica — e, sim, uma academia dentro do próprio escritório.

Foi o que fez a Asics, empresa de material esportivo, ao mudar de endereço em dezembro. Pedro Zannoni, presidente da marca japonesa na América Latina, viu na passarela vazia que liga duas torres de escritórios o espaço perfeito para montar uma academia para os 130 empregados que atuam presencialmente — os colaboradores externos recebem uma carteirinha da Gympass, com descontos em várias academias. A própria Asics opera o espaço. “Em uma cidade como São Paulo, não precisar se locomover para praticar atividade física já traz um ganho para a qualidade de vida”, afirma Zannoni.

Na enorme sede do Mercado Livre — não à toa batizada de “Melicidade” —, em São Paulo, os 2.600 empregados têm acesso livre a uma academia própria, administrada pelo Grupo Bioritmo com toda a grade que a rede de fitness oferece: salas de musculação e exercícios aeróbicos, aulas funcionais, modalidades de luta, entre outras. “Hoje, quase um terço dos colaboradores frequenta a academia local semanalmente”, diz Patrícia Monteiro, diretora de recursos humanos do Mercado Livre no Brasil. “Pesquisas de satisfação com os usuários mostram que a academia no local é um benefício de valor e favorece a redução dos níveis de absentismo, combate o estresse e melhora o entrosamento com os colegas.”

A tendência é impulsionada por algo mais do que altruísmo: cuidar da saúde dos funcionários é bom, também, para a companhia. No mundo, segundo levantamento da Organização Mundial da Saúde, os gastos anuais em consequência da inatividade física chegam a 67,5 bilhões de dólares, entre perda de produtividade e cuidados médicos. No Brasil, são 3,6 bilhões de dólares por ano. Uma quantia nada desprezível.

Ações de saúde e bem-estar são diretrizes globais em algumas empresas. A farmacêutica suíça Roche lançou mundialmente em 2013 o programa Live Well, Find Your Balance, com quatro pilares: práticas de prevenção, estilo de vida saudável, bem-estar emocional e recursos de bem-estar. “Olhamos para a saúde do funcionário de forma integrada e holística”, diz Cintya Silva, coordenadora de cultura, diversidade e bem-estar da Roche. “Oferecemos desde acompanhamento médico e nutricional periódico até programas de acolhimento e suporte emocional, passando por facilidades como salão de beleza.” Lá, a academia de três andares, administrada em parceria com o Sesi, tem aulas de dança, pilates, circuito e spinning, além de infraestrutura para musculação.

Na empresa americana de bens de consumo Johnson & Johnson, a ambição é “ter a força de trabalho mais saudável do planeta”, diz Betina Lackner, gerente de recursos humanos no Brasil. Para isso, os funcionários contam com aulas de meditação, boxe, treinamento funcional e dança em salas perto do escritório, e têm desconto na academia da Bodytech que fica no mesmo prédio. Os familiares também estão liberados para participar das aulas gratuitamente. “Pesquisas de clima e satisfação mostram o engajamento dos funcionários. Não se trata apenas de malhação, mas de promover um ambiente saudável física e mentalmente”, diz Betina.


WHEY FEITO DE ERVILHA

Suplementos de proteína vegana ganham espaço entre consumidores preocupados com o planeta

Suplemento da Mother Nutrients: estudos para melhorar o sabor e a textura | Divulgação

Suplementos esportivos de proteína, ou whey protein para os íntimos, são quase tão imprescindíveis para a turma da malhação quanto os tênis de corrida. A maioria é feita com o soro do leite. Marcas como a biO2, no mercado há 15 anos, e a Mother Nutrients, dos empresários Eduardo Phillips e Marcos Leta, porém, vêm ganhando espaço nas gôndolas de supermercados e nas lojas de suplementos. As alternativas veganas à altura do campeão de vendas Whey Protein são elaboradas à base de proteína de ervilha e de arroz. O crescimento na oferta desses produtos foi proporcional ao aumento da demanda: atualmente, 14% dos brasileiros se declaram vegetarianos, segundo o instituto Ibope Inteligência. Em capitais como São Paulo, Recife e Rio de Janeiro, a parcela sobe para 16%. Houve um crescimento de 75% dessa população nos últimos seis anos.

“Cada vez fica mais comprovada cientificamente a eficácia de uma dieta à base de plantas para o desempenho esportivo”, afirma Leandro Farkuh, fundador e presidente da biO2. “As pessoas passaram a ter mais consciência da cadeia produtiva e nunca se falou tanto sobre meio ambiente. Tudo isso fez crescer o interesse por suplementos veganos.” O endocrinologista e médico do esporte Bruno Menezes confirma: estudos recentes apontam que suplementos proteicos de origem vegetal têm qualidade equivalente ao Whey Protein. “A absorção da proteína vegetal pode ser inclusive melhor do que a de origem animal”, diz Menezes.

A nutricionista Luna Azevedo observa que muitos pacientes, mesmo os que não são veganos, têm optado pela suplementação de origem vegetal. “Alguns relatam digerir mal a proteína do soro do leite, outros dizem ter melhor digestão com as opções vegetais”, diz ela. Terreno fértil para a Mother Nutrients, fundada em 2018. “Notamos a insatisfação de consumidores com o sabor e a textura das opções veganas”, diz Phillips. “Investimos em pesquisa e tecnologia até chegar a nosso produto. Os atletas conhecem esse mercado, mas muita gente quer se alimentar de forma mais limpa.” 

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