Larry Keeley: “Uma empresa brasileira pode muito bem se tornar a mais inovadora do mundo” (Miguel Cervantes/ Creative Commons)
Da Redação
Publicado em 15 de junho de 2012 às 15h20.
São Paulo - Eleito pela revista Bloomberg BusinessWeek um dos especialistas de inovação mais influentes do mundo, o americano Larry Keeley é presidente e cofundador da Doblin Inc., empresa de inovação estratégica recentemente adquirida pela Monitor.
Em visita ao Brasil, Keeley falou a EXAME.
1) EXAME - Qual é o erro mais comum quando o assunto é inovação?
Larry Keeley - A inovação falha 95,5% do tempo porque as empresas buscam soluções no lugar errado. De modo geral, a tendência é criar novas versões de velhos produtos.
Por isso, há 60 tipos diferentes de escovas de dentes nos supermercados. Mas os consumidores não precisam de variações das mesmas coisas. O mundo precisa de ideias com o poder de mudar completamente as categorias de produtos. Foi o que o Google fez. As empresas precisam entender, em seus setores, qual é a facilidade que as pessoas buscam.
2) EXAME - Então inovação é sempre criar novos produtos?
Larry Keeley - Não. Há dois tipos principais de inovação. As que criam novos modelos de negócio e as que criam novas experiências. No Brasil, a Casas Bahia descobriu como oferecer a experiência de comprar em muitas prestações.
Seus donos entenderam como assumir o risco da inadimplência e colocá-lo em seus preços. Para completar, tiveram a ideia de fazer as pessoas caminharem até o fundo de uma loja para pagar a prestação, vendo, no caminho, tudo o que está exposto e, muitas vezes, voltando a comprar.
3) EXAME - O senhor conhece bem a realidade brasileira?
Larry Keeley - Hoje, o Brasil é visto como um dos principais motores do mundo. Há muito potencial no setor agrícola e nos combustíveis flex. Nessas áreas, o país é responsável por algumas das melhores inovações. Mas dá para fazer mais.
4) EXAME - Como?
Larry Keeley - Essa é uma tarefa complexa, mas as linhas gerais são conhecidas. O Brasil precisa aproveitar o bom momento da economia para criar uma estratégia nacional de inovação. Isso só pode ser feito conectando as universidades, o governo e o setor privado. Singapura e Canadá fizeram exatamente isso — com enorme sucesso.
5) EXAME - Olhando para o universo das empresas, quanto elas deveriam investir em inovação?
Larry Keeley - Com exceção das startups, quase nenhuma empresa investe mais de 10% de seu faturamento em inovação. A esmagadora maioria está bem longe desse percentual. As farmacêuticas são as que chegam mais perto, mas ainda assim não é o suficiente. Nos últimos dez anos, vimos muito poucas inovações nesse setor.
6) EXAME - Há outras maneiras de estimular a inovação?
Larry Keeley - Toda vez que uma empresa investe em prêmios para pessoas que apresentem boas ideias, ganha muitas vezes mais na área de pesquisa e desenvolvimento. Dez milhões de dólares em prêmios equivalem a 170 milhões de dólares em ganhos. É um cálculo comprovado.
7) EXAME - Qual é a empresa mais inovadora do mundo?
Larry Keeley - Há uma disputa entre Google e Apple, mas essa é uma briga sem importância. Em pouco tempo, a empresa mais inovadora será uma que nem eu nem você conhecemos. Com certeza, fará algo que mudará o mundo. Poderá, muito bem, ser uma empresa brasileira. Impossível? Por quê?