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É preciso resgatar a esperança, diz professor de Stanford

Para um dos maiores especialistas do mundo em democracia, os partidos tradicionais devem apresentar soluções para os perdedores da globalização

O presidente americano Donald Trump (Pool/Getty Images)

O presidente americano Donald Trump (Pool/Getty Images)

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Eduardo Salgado

Publicado em 27 de julho de 2017 às 05h55.

Última atualização em 30 de agosto de 2017 às 18h23.

Fort Myers, Flórida – Professor de ciência política na Universidade Stanford e membro do centro de estudos conservador Hoover Institution, Larry Diamond é uma grande referência no meio acadêmico americano. Leia a seguir a entrevista que Diamond concedeu a EXAME.

EXAME – Qual é sua definição de populismo?

Larry Diamond – Os líderes populistas se apresentam como os verdadeiros representantes da vontade do povo e tratam seus adversários como políticos sem legitimidade. Tentam passar por cima do controle de partidos e instituições. Tentam firmar uma linha direta com seus eleitores. Não é inevitável, mas o populismo tem tendências não democráticas. Não é plural. Trump certamente é um populista e um desafio às instituições democráticas americanas.

EXAME – Quais são as principais causas do crescimento do populismo no mundo rico?

Larry Diamond – Há causas locais para cada caso, mas, como os políticos populistas estão recebendo um apoio maior em diferentes lugares, é provável que haja causas globais em ação. Uma delas provavelmente é a insegurança econômica. Muitas pessoas nos países ricos perderam a esperança. Sentem que seus pais tiveram uma vida melhor do que elas têm e acham que seus filhos terão ainda mais dificuldades no futuro. Isso tem a ver com o processo de desindustrialização e com os deslocamentos no mercado de trabalho causados pela tecnologia.

Outro fator global é o dramático aumento da desigualdade social. As pessoas veem suas possibilidades diminuir ao mesmo tempo que tem gente se dando bem com o processo de globalização. Sentem que isso é injusto e miram a elite política e econômica.

EXAME – Há alguma causa não relacionada à economia?

Larry Diamond – A questão da imigração é de extrema importância. Embora tenha conotações econômicas, como a maior pressão no mercado de trabalho, seu componente também é cultural. Muitas pessoas em países ricos sentem-se estrangeiras em seu país. Elas têm a impressão de que os imigrantes são tratados com privilégios. Hoje sabemos que os votos recebidos por Trump nos Estados Unidos e pelos partidos populistas na Europa têm alta correlação com regiões onde parte da população está preocupada com a imigração. Essas manifestações têm algo de racista? Em alguns casos, sim. Mas não necessariamente.

EXAME – Qual é a maneira mais eficaz de combater os populistas?

Larry Diamond – É importante tentar ver o mundo da perspectiva das pessoas que votaram nos políticos populistas. As preocupações delas são legítimas. Se as forças políticas que defendem o pluralismo não ouvirem essas pessoas, os populistas terão cada vez mais poder. Mas não é apenas ouvir. Precisam criar políticas públicas que tentem resolver os problemas delas. Obviamente terão de ser políticas diferentes das adotadas pelos populistas.

Em vez de banir a entrada de imigrantes, talvez seja possível diminuir sua entrada. Dá para fazer isso sem ser intolerante. Outra frente deve ser aberta em relação à questão da redistribuição mais justa das oportunidades e da renda. Nesse sentido, é uma ironia imaginar que a política fiscal de Trump, que diminui a taxação dos mais ricos, vá, na verdade, aumentar a desigualdade.

EXAME – A derrota de políticos como a francesa Marine Le Pen não diminui a ameaça do populismo?

Larry Diamond – De forma alguma. Caso Emmanuel Macron, o novo presidente francês, não responda às demandas do eleitorado, Marine Le Pen certamente ganhará mais para a frente.

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