Revista Exame

CEO do Oscar vê na cinematografia brasileira um momento oportuno para prêmios

Bill Kramer, diretor-executivo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, desembarcou no Rio para se aproximar do cinema do Brasil

Bill Kramer no Festival do Rio: entusiasmo com o cinema nacional depois do sucesso de Ainda Estou Aqui (Claudio Andrade/Divulgação)

Bill Kramer no Festival do Rio: entusiasmo com o cinema nacional depois do sucesso de Ainda Estou Aqui (Claudio Andrade/Divulgação)

Publicado em 24 de outubro de 2025 às 06h00.

Rio de Janeiro (RJ)* - Bill Kramer pode ser um nome não muito conhecido no Brasil quando aparece desacompanhado de seu cargo. Mas, na função de CEO da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, é ele quem está à frente da maior premiação de cinema do mundo, o Oscar.

Em outubro, Kramer desembarcou no Brasil para participar do Festival do Rio, uma das maiores mostras de filmes do país. Entre palestras e filmes, veio entender o novo momento da indústria cinematográfica brasileira, que vive uma retomada de ascensão após a vitória de Ainda Estou Aqui na premiação, e a possível indicação de O Agente Secreto, vencedor dos prêmios de Melhor Ator (Wagner Moura) e Melhor Direção (Kleber Mendonça Filho) em Cannes.

Proibido de falar sobre o filme de Mendonça por uma regra interna da Academia, Kramer falou à EXAME Casual sobre o mercado de cinema do país.

Qual é sua visão e perspectiva sobre a indústria cinematográfica brasileira?

Eu noto um entusiasmo no cinema de vocês que é único e que parece que vai continuar. Senti isso com Ainda Estou Aqui no ano passado. Se vocês seguirem produzindo histórias autênticas, culturais e brasileiras, o resto da comunidade global responderá, tenho certeza. Há uma autenticidade na produção cinematográfica brasileira que o público adora ver.

Como você enxerga a ascensão do streaming hoje em dia?

As pessoas estão fazendo e assistindo a filmes mais do que nunca. O streaming teve muito a ver com isso: criou pontos de acesso para a exibição de filmes internacionais, independentes, de artistas emergentes... Mas ir ao cinema ainda é essencial. Essa é uma forma de arte feita para ser vista em um ambiente teatral, em silêncio, na telona.

Qual é sua percepção sobre a indústria de Hollywood agora, com tantas mudanças sobre como e onde gravar filmes?

Acho que Hollywood está se expandindo além dos Estados Unidos e se tornando uma indústria cada vez mais global, filmes estão sendo feitos em todo o mundo. Isso abre portais para aprender sobre diferentes culturas, criar empatia, criar um senso de comunidade global.

Como você vê o uso de inteligência artificial em filmes e como a Academia tem lidado com a tecnologia no Oscar?

A maioria dos nossos membros vê a IA como uma ferramenta para fazer filmes. Ao mesmo tempo, há preocupações sobre o uso ético dessa ferramenta. Acabamos de adicionar uma cláusula às nossas regras de premiação que diz que o uso de IA não ajuda nem prejudica a chance de um filme ser considerado para um Oscar, mas a autoria tem que ser humana. Isso é muito importante para a Academia.

*A jornalista viajou a convite do Festival do Rio


Duas vezes Hilda Hilst

Instituto Hilda Hilst: acervo pessoal da autora (EdgardMC79/Wikimedia Commons)

A escritora é celebrada com eventos em seu instituto e relançamentos de obras | Júlia Storch

Aos 35 anos, Hilda Hilst se mudou para a chácara Casa do Sol, lugar em que se dedicou à criação literária, entre livros de poesia, ficção e peças de teatro. A escritora viveu na casa em Campinas até sua morte, em 2004. De lá para cá, o espaço de 700 metros quadrados sedia o Instituto Hilda Hilst.

Há dois meses, o casarão da escritora, construído em 1964 na fazenda de sua mãe, foi reaberto, após anos de reformas. Agora, o espaço que também guarda o acervo pessoal da autora, com seus objetos, livros e roupas, também sediará eventos culturais na cidade, como o Festival Literário Hilstianas.

Neste mês, a escritora também é celebrada em publicação da Companhia das Letras, que reúne os textos O Caderno Rosa de Lori Lamby (1990), Contos d’Escárnio — Textos Grotescos (1990) e Cartas de um Sedutor (1991), no livro Trilogia Obscena.

Inconformada com o alcance limitado de seus livros, em 1990 Hilst decidiu dar uma guinada radical em sua escrita ao encerrar sua “literatura séria” e iniciar sua fase pornográfica. Os três romances reunidos foram os primeiros publicados pela autora nessa nova etapa.

Casa do Sol | Programação e agendamentos de visitação em @instituto_hilda_hilst

Trilogia obscena | Hilda Hilst, Companhia das Letras, 99,90 reais (Companhia das Letras/Divulgação)


O caminho de Malala 

No meu caminho, Malala Yousafzai, Companhia das Letras, 69,90 reais (Companhia das Letras/Divulgação)

A trajetória de Malala Yousafzai é acompanhada pelo mundo desde seus 15 anos. Após o atentado pelo Talibã contra sua vida, a jovem paquistanesa se transformou em um símbolo internacional e foi reconhecida com o Prêmio Nobel da Paz, com apenas 17 anos, em 2014.

Mas pouco se sabe sobre a trajetória da ativista para além das manchetes. Agora, Malala apresenta pela primeira vez sua história pessoal, na autobiografia No Meu Caminho.

A publicação mostra episódios comuns à vida da maioria dos jovens de todo o mundo, entre estudos, amores e ghosting.


Crime recontado

Ângela Diniz: Assassinada e Condenada | Estreia em 13 de novembro, na HBO (HBO/Divulgação)

Em 2020, a produtora Rádio Novelo decidiu recontar no podcast Praia dos Ossos a história da socialite Ângela Diniz, assassinada em 1976 pelo então namorado Doca Street, em Búzios. Com mais de 5 milhões de streams, o podcast com oito partes agora é revisitado em uma produção da HBO. Dirigida por Andrucha Waddington, a minissérie de seis episódios será estrelada por Marjorie Estiano e tratará de temas íntimos de Diniz, como a relação próxima com a mãe e o período marcado por festas após o divórcio do primeiro marido.  


Faroeste caboclo

Wagner Moura: distância e intimidade com o legado nordestino (Gareth Cattermole/Getty Images)

Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho falam sobre o filme O Agente Secreto, com estreia prevista para novembro | Luiza Vilela, do Rio de Janeiro*

No meio do sertão pernambucano, durante o Carnaval, um fusca amarelo corta a estrada e para em um posto de gasolina. Logo à frente das bombas está o corpo de um homem morto, coberto com pedaço de papelão, sem rosto nem identidade. Com uma naturalidade (e brasilidade) que fazem a situação parecer corriqueira, o dono do posto grita para afastar os cachorros que rodeiam o corpo, enquanto o cliente, dentro do carro, tapa o nariz, perplexo.

O momento, meio cômico e meio desesperador, é um reflexo de uma época do Brasil “cheia de pirraça”, como descreve o diretor Kleber Mendonça Filho na cena de abertura de O Agente Secreto, seu novo filme, com estreia prevista para 6 de novembro. Dentro do fusca, um Wagner Moura desconfiado interpreta Marcelo, a caminho de Recife, fugindo de algo. É um de seus maiores papéis na última década, segundo Juliette Binoche, que, na função de presidente do júri do Festival de Cannes, concedeu a ele e a Kleber os prêmios de Melhor Ator e Melhor Direção, em junho passado.

“Quando conheci Kleber, rolou uma química. Um negócio meio Trump com Lula. Só que temos gostos políticos muito parecidos”, brincou o ator em entrevista à Casual EXAME, durante o Festival do Rio. “Ele desenvolveu uma linguagem cinematográfica muito particular, são filmes muito brasileiros. E me dá uma felicidade a mais quando as coisas são do Nordeste, porque é uma região muito rica culturalmente. Me sinto em casa.”

Essa química entre ator e diretor, na política e na brasilidade, é mais do que recíproca. O roteiro do filme, produzido ao longo de três anos, foi escrito para Wagner desde o início, contou Kleber.

“Wagner tem um domínio de quadro muito grande. O carisma dele se traduz em empatia, você começa o filme e sabe que ele é o seu correspondente. Habita esse papel do herói do cinema popular americano e francês, mas de um jeito diferente”, disse o diretor à Casual EXAME.

O filme constrói um retrato desse homem que tenta reconstruir a vida no Recife ao lado do filho e dos sogros. Mas a trajetória dele — e o entorno do que acontece na cidade — traduz a maneira como as coisas eram conduzidas no Brasil em 1977, em uma mistura cômica, tensa e sarcástica. Apesar de não fazer uma citação direta ao regime militar, Kleber colocou nas entrelinhas o autoritarismo do governo e sua influência na memória do país e dos brasileiros. Em especial no Nordeste. “A única regra que impus a ele é que o personagem não carregasse uma arma. Esse é um trabalho para outros personagens”, diz Kleber.

*A jornalista viajou a convite do Festival do Rio


Samba e bossa nova

Cartaz de divulgação do Festival Novabrasil: música moderna brasileira (Novabrasil/Divulgação)

Alcione, Caetano, Marisa Monte e Ney Matogrosso movimentam os palcos de São Paulo nos últimos meses de 2025 | Luiza Vilela

O ano terminará em música nos palcos de São Paulo. Marisa Monte retoma a turnê Phonica — Marisa Monte & Orquestra Ao Vivo, que passa por diversos estados brasileiros e chega a São Paulo nos dias 8 e 9 de novembro, no Parque Ibirapuera. A cantora sobe ao palco acompanhada em uma fusão com a orquestra regida pelo maestro André Bachur, com clássicos de sua carreira.

Mais para o fim do mês, Alcione e Xande de Pilares preparam uma noite de samba na Vila América. Juntos no mesmo palco, a cantora relembra a carreira de sucessos ao lado de um dos grandes representantes do samba da atualidade. A apresentação será única na capital paulista, no dia 28.

Seguindo a programação de novembro, no dia 29 o Festival Novabrasil traz Seu Jorge, Alceu Valença, Nando Reis, Falamansa, Miguelzinho do Cavaco, Paula Toller, Zélia Duncan e muito mais para o Parque Villa Lobos, em um evento que celebra o “melhor da música moderna brasileira”, seguindo a linha da rádio.

No mesmo dia, Caetano Veloso anuncia apresentação da turnê -Caetano nos Festivais no Espaço Unimed. O cantor traz um repertório diversificado, com uma série de canções de diferentes fases da carreira, como Branquinha, Vaca Profana e Não Enche, além de Anjos Tronchos, do seu último álbum de inéditas, Meu Coco (2021).

Em dezembro, na penúltima semana de 2025, Ney Matogrosso volta a botar o bloco na rua para encerrar a turnê de Homem com H, no Allianz Parque. A apresentação será no dia 21 e trará setlist composto de músicas como Poema, Sorte, Yolanda, Sangue Latino, entre outras.

Serviço:

Marisa Monte — Phonica Marisa Monte & Orquestra Ao Vivo 8 e 9/11, no Parque Ibirapuera

Alcione e Xande de Pilares 28/11, no Clube Atlético Aramaçan, 29/11, Festival Novabrasil, no Parque Villa Lobos

Caetano Veloso — Caetano nos Festivais, 29/11, no Espaço Unimed

Ney Matogrosso — Homem com H, 21/12, no Allianz Parque





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