Revista Exame

Para quem pensa em longo prazo, ações compensam

Está difícil achar motivos para ser otimista com a Bovespa. Mas os analistas indicam ações de empresas que vêm melhorando seus resultados mesmo com a economia em baixa

Abertura de capital da Smiles neste ano: agora as empresas estão desistindo de lançar ações na Bovespa (Divulgação)

Abertura de capital da Smiles neste ano: agora as empresas estão desistindo de lançar ações na Bovespa (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 5 de outubro de 2013 às 19h16.

São Paulo - lhada em seu conjunto, a Bovespa parece, e tem sido, uma péssima alternativa de investimento. O baixo crescimento econômico piora as previsões para os resultados das empresas. A inflação alta tem elevado os custos das companhias e reduzido seu lucro.

A subida dos juros também contribui para aumentar as despesas, porque torna o crédito mais caro. Nada disso torna as perspectivas para os preços das ações minimanente atraentes. Por último, os investidores estrangeiros estão preferindo tirar o dinheiro daqui e comprar ações de empresas americanas, em meio à expectativa de recuperação da economia dos Estados Unidos.

O Ibovespa caiu 15% neste ano — e novamente está entre os mercados com o pior desempenho do mundo. Grandes empresas que planejavam abrir o capital, como a fabricante de cimento Votorantim e a companhia aérea Azul, desistiram dos planos. E os analistas acham pouco provável que haja ofertas iniciais de ações nos próximos meses. 

É melhor, então, fazer como os estrangeiros, esquecer a Bovespa e comprar ações no exterior? Ou buscar outros investimentos com maior chance de retorno no Brasil? Nenhum dos executivos de mercado consultados por EXAME recomenda ficar fora da bolsa.

A avaliação geral é que quem está montando uma carteira de investimentos para o longo prazo deve resistir ao vaivém de curto prazo e colocar uma parte dos recursos em ações — o volume total depende do perfil: pode variar de 5% a 30% do patrimônio. Só que, como o cenário é pouquíssimo favorável, a estratégia para tentar ganhar dinheiro no mercado é diferente de alguns anos atrás. 

De 2003 à crise de 2008, as ações de praticamente todas as grandes empresas subiram — e algumas subiram mui­to. Nesse período, a siderúrgica Usi­minas valorizou 4 500%; e a Petrobras, 1 000%. O Ibovespa ganhou 550%.

Com a crise de 2008 e a desaceleração da economia mundial nos anos seguintes, as perspectivas para as exportadoras e as produtoras de commodities pioraram, o que fez cair os papéis das siderúrgicas, das companhias de papel e celulose, da mineradora Vale e da Petrobras (prejudicada também pela interferência do governo).

Aí começou a era das empresas voltadas para a economia doméstica — como as varejistas, as fabricantes de bens de consumo e as companhias de educação. Um índice criado pela Bovespa para acompanhar as ações desse setor subiu 260% de 2009 a maio deste ano, enquanto o Ibovespa teve alta de 49%.

Até setembro do ano passado, as empresas que pagavam dividendos elevados, como as companhias de energia elétrica, também estavam dando dinheiro aos investidores. Só que o consumo esfriou e o governo mudou as regras para o setor elétrico, o que está piorando os resultados dessas empresas.


Segundo um levantamento da agência Bloomberg, nove das dez companhias do Ibovespa que tiveram redução na recomendação dos analistas neste ano são ligadas ao setor de consumo, como a varejista Pão de Açúcar, a fabricante de cigarros Souza Cruz e a rede de laboratórios Dasa. Depois de tudo isso, os analistas deixaram de ter um setor favorito.

Hoje, eles preferem apostar em empresas específicas. “As análises gerais já não dizem muita coisa. É preciso analisar empresa por empresa para encontrar boas oportunidades”, diz Carlos Cons­tantini, chefe da equipe de pesquisa da corretora do banco Itaú BBA.

A pedido de EXAME, a empresa de informações financeiras Thomson Reuters fez um ranking das ações mais recomendadas pelos analistas das corretoras para os próximos 12 meses. Seus ramos de atuação são os mais diversos: há desde companhias de commodities até uma operadora de planos de saúde e uma fabricante de equipamentos industriais.

Os analistas indicam essas ações por três motivos principais: ou porque as empresas estão passando por reestruturações internas que podem aumentar seu lucro mesmo sem um crescimento nas vendas; ou porque ficaram baratas demais; ou por conseguirem proteger seus resultados da inflação.

Uma das preferidas é a fabricante de medicamentos e de produtos de higiene pessoal Hypermarcas, que estava em baixa na bolsa há pouco tempo. A companhia comprou 23 empresas desde 2007 e passou por um período complicado até conseguir integrar as operações.

Em 2011, sua ação caiu 62%, um dos piores desempenhos da Bovespa. Nos últimos dois anos, passou por um processo de ajustes, que incluiu vendas de marcas de limpeza e alimentos. O resultado apareceu: seu lucro cresceu dez vezes, e a geração de caixa, 16%, no primeiro semestre deste ano.

Outra vantagem da empresa, na opinião dos analistas, é o fato de vender remédios, que são itens de primeira necessidade, e produtos de preço baixo, como cremes, sabonetes e xampus, que não devem ser tão afetados pela desaceleração da economia.

A Vale faz parte da lista não porque os analistas estejam otimistas com a China, que compra metade da produção da mineradora — mas porque acham que o preço atual da ação já reflete um cenário bem pior para a economia chinesa. A previsão do Fundo Monetário Internacional é que o PIB da China cresça 7,8% neste ano e 7,7% no próximo.

“A desaceleração da China está pesando demais no preço. É bastante provável que a Vale consiga aumentar seu lucro no segundo semestre, com o processo de corte de custos que vem implementando”, diz Daniel Gewehr, estrategista-chefe do banco Santander.


Hoje, a ação da Vale está, em média, 20% mais barata do que a de suas principais concorrentes, as anglo-australianas BHP Billiton e Rio Tinto — diferença que os analistas consideram alta demais. O ranking da Thomson Reuters inclui as ações da administradora de shoppings BR Malls, principalmente porque os aluguéis das lojas são reajustados por índices de preço, o que protege seus resultados da inflação. 

Ainda que concordem que há boas opções na bolsa, os especialistas dizem que é melhor ser cauteloso ao aplicar em ações. Não é hora de aumentar a parcela do patrimônio aplicada na Bovespa nem de comprar grandes quantidades de papéis de uma só vez. Com exceção da Vale, os analistas não acham que as ações brasileiras estejam especialmente baratas.

O problema é a perspectiva de lucros menores. De acordo com o banco Goldman Sachs, o índice que mede a relação entre o preço das ações e o lucro das empresas ficou, em 2012, 37% acima da média histórica.

“Esperávamos uma recuperação dos lucros já em 2013, mas  isso parece bem pouco provável agora. Mesmo em 2014, ela está ameaçada, porque as condições econômicas continuam ruins”, diz Fábio Motta, superintendente de investimentos em renda variável da gestora Western Asset, que tem 4,5 bilhões de reais em ações de empresas brasileiras.

As companhias indicadas nesta reportagem têm boas perspectivas, mas mudanças na nossa economia ou no cenário externo podem alterar seus resultados. Por enquanto,  grandes investidores estrangeiros estão vendendo ações aqui.

Em 2008, os cinco maiores fundos americanos de ações que investiam no Brasil, como os das gestoras BlackRock e T. Rowe Price, aplicavam 73% de sua carteira dedicada à América Latina em empresas brasileiras, o que representava naquela época 9 bilhões de dólares.

Em 2013, o percen­tual caiu para 55%, o que hoje equivale a 4  bilhões de dólares. Outros países da região, como Colômbia e México, entraram no radar desses investidores. Eles não desistiram do Brasil, mas estão mais cautelosos — e cautela na bolsa é a recomendação dos analistas para os brasileiros também.

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