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É melhor esperar sentado pela retomada econômica global

Responsável por administrar 3,5 trilhões de dólares, Robert Kapito, da gestora BlackRock, alerta que a recuperação econômica mundial pode levar mais tempo que o esperado

Kapito, da Blackrock: a bolsa brasileira não está cara (Omar Paixão/EXAME.com)

Kapito, da Blackrock: a bolsa brasileira não está cara (Omar Paixão/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h39.

Há gestores de recursos, e há Robert Kapito. Aos 53 anos, o americano é responsável por administrar os 3,5 trilhões de dólares sob gestão da BlackRock, maior empresa de investimentos do mundo — acima dele está apenas Larry Fink, o fundador da companhia. Atualmente, sua tarefa é ainda mais complexa que o normal. Imerso em um cenário nada favorável para investir, com baixas taxas de juro e incertezas quanto ao desempenho das empresas na maioria dos países, Kapito sofre as pressões de seus investidores — que querem ver seu patrimônio crescer, não importa se o ambiente é hostil ou não. Em entrevista a EXAME durante sua primeira passagem pelo Brasil, Kapito demonstrou preocupação com o futuro dos mercados. Segundo ele, a recuperação econômica não será imediata — e, com exceção de mercados como o brasileiro, os investidores devem seguir retraídos enquanto a confiança não for restaurada. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

EXAME - Qual é a saída para a atual situação econômica mundial?

Robert Kapito - A solução é o tempo passar. No mundo de hoje, as pessoas esperam que tudo aconteça muito rapidamente, mas criar empregos e gerar confiança no mercado pode demorar mais desta vez. O atual ciclo econômico está sendo muito mais difícil do que o esperado, então eu acredito que a recuperação também vá demorar mais do que se imagina. Tudo é uma questão de confiança. Mas, enquanto você tiver um país que precisa equilibrar as contas, como a Irlanda, as pessoas permanecerão nervosas, pouco confiantes e com menos disposição para fazer investimentos apropriados, porque estão mais preocupadas com segurança. E sempre ficará a insegurança: depois da Irlanda, quem será o próximo?

EXAME - Qual é a melhor opção de investimento diante desse cenário?

Robert Kapito - As ações são um excelente investimento hoje em dia — mas de companhias grandes, que possuam um histórico de produtos de sucesso e que paguem dividendos. Dentro dos diversos setores do mercado, um de nossos favoritos é o de recursos naturais. O fornecimento de insumos no mundo está limitado — seja ouro, minério ou outros. Estamos otimistas com o mercado de ações. As empresas estão com o caixa cheio e vão usar esse dinheiro para aumentar o pagamento de dividendos ou para recomprar suas próprias ações. Mas, neste caso, não acreditamos que a ascensão da bolsa de valores será, necessariamente, um indicador de melhora da economia. Pode ser apenas um sinal de que há menos ações à venda.


EXAME - No Brasil, as ações subiram 85% desde o início de 2009. A bolsa corre o risco de estar vivendo uma bolha?

Robert Kapito - Acho que essa é uma hipótese muito extrema. Não acredito que o mercado brasileiro esteja caro. É consenso que o crescimento no Brasil e em alguns outros países será superior ao da Europa e dos Estados Unidos. Por isso, o país merece investimentos. Há uma quantidade significativa de dinheiro a ser investido no mundo e, neste momento, o Brasil é uma das melhores opções para esses investidores. Nós gostamos do mercado brasileiro por uma série de motivos. O Brasil é um país muito jovem. À medida que o país cresce, as pessoas buscam elevar sua qualidade de vida e passam a procurar, por exemplo, uma moradia melhor, o que é bom para os preços do mercado imobiliário. A situação também é boa para o mercado de investimentos — como as pessoas estão ganhando mais dinheiro, elas vão querer investir mais. Muitas pessoas no Brasil investem em renda fixa, e nós acreditamos que, dentro de algum tempo, haverá migração para aplicações de risco.

EXAME - O investimento em fundos atrelados a índices, os ETFs, é muito popular em outros países, mas ainda pouco relevante no Brasil. esse é um mercado muito importante para a Blackrock. Isso decepcionou vocês?

Robert Kapito - De forma nenhuma. No México, começamos a oferecer esse tipo de fundo em 2007 — hoje, o papel mais negociado da bolsa mexicana é um ETF. Esse mesmo processo de aprendizado está em curso no Brasil. Estamos trabalhando para que os investidores e as instituições que aplicam nesse produto entendam exatamente o que ele é.

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