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Melhores e Maiores: Suzano / Fibria é a melhor do agronegócio

As produtoras de papel e celulose Suzano e Fibria, campeãs de rentabilidade, uniram-se para explorar um mercado em franco crescimento no mundo

Melhores e Maiores 2019: as melhores do agronegócio

Melhores e Maiores 2019: as melhores do agronegócio

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Denyse Godoy

Publicado em 29 de agosto de 2019 às 04h18.

Última atualização em 29 de agosto de 2019 às 14h49.

A melhor empresa do agronegócio desta edição de MELHORES E MAIORES é fruto de uma série de uniões bem-sucedidas. Sua história remonta à década de 70, quando o empresário norueguês Erlin Sven Lorentzen fundou a produtora de celulose Aracruz no Espírito Santo. Há dez anos, a capixaba uniu-se à paulista Votorantim Celulose e Papel, da família Ermírio de Moraes, para formar a Fibria, maior fabricante de celulose de eucalipto do mundo. Em 2018, a companhia teve receita de aproximadamente 3 bilhões de dólares, 114% superior à de 2017 e a maior desde sua criação.

O lucro líquido, de 835 milhões, foi o triplo do ano anterior e também bateu recorde. São números que lhe rendem o posto de campeã do agronegócio nesta edição. Mas 2018 marcou também um novo casamento para a Fibria. No início do ano, a empresa anunciou sua fusão com a concorrente Suzano Papel e Celulose, empresa controlada pela família Feffer e a segunda melhor do setor de madeira e celulose, com uma alta de 32% no faturamento do ano passado, para 3,4 bilhões de dólares, e um lucro líquido de 141 milhões.

A aprovação do negócio veio em novembro e as duas companhias começaram a operar juntas em janeiro de 2019, com dez fábricas, 1,3 milhão de florestas plantadas, três portos para exportação e participações em empresas de pesquisa em biotecnologia, agora sob o nome de Suzano S.A. “Estamos combinando duas empresas vencedoras”, diz Walter Schalka, presidente do grupo Suzano.

Germano Lüders
Walter Schalka, presidente da Suzano, e executivos: com sinergias operacionais, o grupo ficou mais forte

Por muitos anos, o mercado de papel e celulose especulou que a união das duas potências faria sentido. A Fibria tinha unidades produtivas em Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Espírito Santo, onde também possui participação majoritária no terminal portuário Portocel. A Suzano tem unidades em São Paulo, na Bahia e no Maranhão.

São próximas o suficiente para construir uma rede complementar. Ainda mais depois que a Suzano aumentou suas ambições no setor de papel, com a compra da paraense Facepa e com o investimento de 540 milhões de reais na instalação de novos maquinários nas fábricas maranhense e baiana para ampliar a produção de papéis sanitários, como o higiênico — com marcas próprias lançadas no Nordeste. Até 2017, a Suzano não atuava nesse segmento, porém a Fibria sempre fabricou a celulose de fibra curta, própria para tais produtos. A compra da Fibria foi consumada no início deste ano com o pagamento de 28 bilhões de reais da Suzano para os acionistas da Fibria, inclusive o grupo Votorantim, que encerrou, assim, seu ciclo no setor de papel e celulose.

A família Feffer tornou-se a maior acionista da nova companhia, com uma participação de 47% do capital. “A união é um negócio muito positivo para as duas empresas”, diz Pedro Galdi, analista da corretora Mirae Asset. O valor de mercado da Suzano pós-fusão gira em torno de 43 bilhões de reais. O número de funcionários próprios e terceirizados chega a 35 000.

Fábrica em Limeira: a capacidade total de produção de celulose é de 11 milhões de toneladas | Germano Lüders

O foco da Suzano agora está na captura dos ganhos possíveis com a junção das operações. Eliminando a sobreposição de áreas, reorganizando o fornecimento de madeira para as unidades industriais, redistribuindo a produção de acordo com a proximidade dos clientes e negociando conjuntamente com fornecedores e compradores, a Suzano espera ter ganhos de até 900 milhões de reais por ano de 2019 a 2021.

Mais 2 bilhões de reais também devem ser economizados em tributos com a associação. O primeiro passo para a consolidação das atividades é a implementação do sistema integrado de gestão, em curso neste momento. Enquanto isso, a cultura organizacional também está sendo unificada, aproveitando o que cada uma das empresas tem de mais eficiente.

Os três pilares fundamentais da filosofia que vai guiar a empresa daqui para a frente oficialmente são: o estímulo para a evolução contínua dos funcionários, o compartilhamento com empregados e investidores do valor gerado por ganhos de produtividade resultantes, por exemplo, da digitalização de processos e o esforço para impactar positivamente o mundo com responsabilidade social e ambiental na operação.

As empresas que se juntaram na Suzano fabricaram em 2018 um total de 10 milhões de toneladas de celulose — 9% mais do que em 2017 — e 1,3 milhão de toneladas de papel — 9% acima do volume do ano anterior. Com isso, contribuíram com 46% da produção que faz do Brasil o sexto maior no ranking global de papel e celulose.

O primeiro é a China, com 34% da produção mundial, ou 110 milhões de toneladas por ano; e o segundo, os Estados Unidos, com 17%. Mas a Suzano tem grandes vantagens em relação aos competidores chineses e americanos com os quais compete. Seu custo de produção de celulose, de 697 dólares por tonelada, é o menor do mundo.

A maioria dos produtos comercializados pela empresa brasileira, ligados a higiene pessoal, torna-se mais acessível e ganha novos mercados, especialmente na Ásia. Além dos papéis sanitários, a Suzano fabrica celulose do tipo fluff, usada na fabricação de absorventes higiênicos e fraldas descartáveis. Nas nações desenvolvidas, as compras de papel para imprimir têm caído por causa da digitalização, enquanto itens mais sofisticados, como o papel-toalha e os lenços umedecidos para limpar bebês e tirar maquiagem, vêm subindo. Ganha a Suzano.

Ventos pró e contra

A aquisição da Fibria foi bastante motivada pela expectativa de elevação da demanda global nos próximos anos. Com maior capacidade produtiva e mais eficiência operacional obtida pela absorção da concorrente, a Suzano teria melhores condições de aproveitar o esperado aumento do consumo. No ano passado, aliás, sobrava otimismo com as perspectivas, como os resultados das duas empresas mostram. A celulose subiu de 598 para 745 dólares a tonelada de um ano para o outro.

Outro catalisador para o aumento da receita e do lucro veio da valorização do dólar ante o real. A taxa de câmbio média no ano passado ficou em 3,65 reais, 14% superior à de 2017. Mais de 90% da celulose produzida pela empresa é exportada. Os principais destinos são a Ásia, com 34%, e a América do Norte, com 16%.

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Se os ventos a favor podem impulsionar os ganhos, os na direção contrária vão testar a força desse gigante. A mudança dos ventos veio já em 2019. A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China tem alimentado o temor de uma recessão mundial e derrubado o preço da celulose. Como nos últimos anos houve aumento da capacidade produtiva das fábricas e do volume fabricado para aproveitar os preços mais elevados, os estoques globais estão altos, contribuindo para a queda da matéria-prima. No primeiro semestre, o preço da celulose recuou 15%, para 630 dólares a tonelada, neutralizando o benefício do aumento da taxa média de câmbio.

A Suzano estima sua produção neste ano em 9 milhões de toneladas, 18% abaixo da capacidade instalada, para tentar reduzir o estoque. Concorrentes no segmento de fibra curta, como a chilena CMPC, avaliam fazer paradas nas fábricas. A Eldorado Brasil Celulose, sexta no ranking do setor de madeira e celulose de MELHORES E MAIORES, paralisou um projeto de 12 bilhões de reais para adicionar uma segunda linha de produção à sua fábrica em Sete Lagoas, em Mato Grosso do Sul, por causa de uma briga entre os sócios — o grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, e a holandesa Paper Excellence. “O mercado vai esperar um pouco antes de tomar decisões mais relevantes. Neste momento, é impossível prever quanto tempo vai durar a retração”, diz Marcelo Schmid, diretor da consultoria Forest2Market para a América Latina.

Floresta de eucaliptos da Suzano: o custo de produzir a celulose aqui é o menor do mundo | Divulgação

A piora do cenário exacerba o principal risco financeiro da Suzano: o endividamento. O fechamento da compra no ano passado demandou a tomada de empréstimos bancários. Assim, a nova companhia nasceu com uma dívida de 54 bilhões de reais, o equivalente a 3,4 vezes sua geração de caixa operacional. Ao final do segundo trimestre deste ano, apesar da estratégia de vender bônus no mercado externo de prazo mais longo e custo inferior para pagar as dívidas de curto prazo, o índice subiu para 3,5 vezes.

O vaivém dos preços faz parte do jogo no setor de commodities, e o comando da Suzano argumenta que a empresa está preparada para enfrentar as intempéries. “A volatilidade não é boa para nós nem para nossos clientes. Mas encaramos os ciclos do mercado com muita tranquilidade. Não trabalhamos para maximizar os resultados no próximo trimestre, mas ao longo do tempo”, diz Schalka. Essa visão, segundo ele, deve-se bastante à maneira como a família Feffer dirige o negócio. A gestão é feita por executivos profissionais, mas David Feffer, maior acionista individual e neto do imigrante ucraniano Leon Feffer, fundador da Suzano há 95 anos, preside o conselho de administração. Seus irmãos Daniel e Jorge também fazem parte do colegiado.

O futuro da Suzano está sendo construído também com a diversificação do portfólio para além das áreas tradicionais. Novos usos para a fibra da celulose, como em tecidos, estão em estudo. Há ainda pesquisas sobre a nanocelulose cristalina, uma partícula que pode ser utilizada em curativos, acelerando a cicatrização de ferimentos, ou para deixar materiais de construção mais fortes. A lignina, substância extraída da parede celular das plantas, deve ser a base de um novo tipo de combustível. É assim que a companhia espera escrever novos capítulos de uma história centenária. 

Terminal do Portocel: a maior parte da produção da Suzano é exportada | Ricardo Teles/Pulsar Imagens

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