Cristo Redentor, no Rio de Janeiro: a cidade foi apontada como a “capital do Brasil” por 27% dos americanos ouvidos em uma pesquisa recente (Creative Commons)
Da Redação
Publicado em 31 de janeiro de 2013 às 09h59.
São Paulo - A Embratur, estatal que tem a função de promover a imagem brasileira no exterior, realizou em julho uma pesquisa para avaliar a percepção dos americanos em relação ao Brasil. Dos 1 045 entrevistados, apenas 30% souberam responder corretamente que a capital do Brasil é Brasília.
Outros 27% disseram que a capital do país é o Rio de Janeiro, 19% afirmaram que é São Paulo e 19% apontaram... Buenos Aires. “Os dados mostram que o Brasil ainda é muito pouco conhecido lá fora”, diz Flávio Dino, presidente da Embratur. Ele acredita que a Copa de 2014 pode ser o momento da virada.
Em 2010, a Copa na África do Sul foi transmitida para 204 países e territórios e vista por 3,2 bilhões de pessoas, quase metade da população mundial. Em 2014, estima-se que mais de 20 000 jornalistas e 400 emissoras de TV do mundo inteiro cobrirão o evento no Brasil. “Durante a Copa, teremos milhões de notícias sobre o Brasil. Isso ajudará a consolidar o país como um destino internacional de turismo”, afirma Dino.
Sob os holofotes da Copa do Mundo, o Brasil espera melhorar sua posição no ranking de turismo. Em 2011, o país atraiu 5,4 milhões de visitantes estrangeiros, ou 0,5% do mercado mundial — bem abaixo da participação brasileira no PIB global, que é de quase 3%. As últimas edições da Copa do Mundo mostram que o evento pode, de fato, impulsionar o turismo.
Em 2006, ano da Copa na Alemanha, o número de turistas estrangeiros naquele país cresceu 9%. Em 2010, na África do Sul, o aumento foi de 15%. Em 2014, segundo projeção da Embratur, o Brasil deverá receber 7,2 milhões de turistas, crescimento de 16% em relação ao ano anterior.
O maior desafio será manter o mesmo ímpeto depois que passar a euforia da Copa. Não será uma tarefa fácil. “O fator que mais limita o turismo é a distância, e o Brasil tem a desvantagem de estar longe dos países mais ricos do mundo”, diz Mario Petrocchi, consultor de turismo.
Cerca de 80% das viagens no mundo ocorrem dentro do próprio continente. Na França, o país que mais recebe turistas no mundo, 70% dos visitantes são de países europeus vizinhos. No Brasil, quase 30% dos turistas são argentinos — somados aos outros países da região, os sul-americanos representam quase 50% dos estrangeiros que visitam o Brasil. “É ilusão achar que a Copa do Mundo vai colocar o turismo brasileiro em outro patamar”, diz Petrocchi. “A América do Sul já abrigou quatro Copas e atraiu apenas 2,6% dos turistas do mundo em 2011.”
As Copas do passado, no entanto, não tinham a visibilidade de hoje. Quando o Brasil sediou a Copa de 1950, as transmissões pela TV davam os primeiros passos. Hoje, os jogos da Copa são vistos até na Antártida. O Brasil estará numa grande vitrine — ou pode ser a vidraça, se alguma coisa não correr bem. Além da conhecida deficiência nos aeroportos, outro foco de preocupação é a rede hoteleira.
Segundo o IBGE, os hotéis das 12 cidades-sede da Copa têm menos de 420 000 camas disponíveis. Como a expectativa é receber 600 000 turistas estrangeiros durante a Copa — e mais 3,1 milhões de turistas brasileiros que se deslocarão dentro do país —, a conta não fecha.
“Muitos turistas vão se instalar numa cidade próxima onde haja hotel disponível e fazer o bate-volta no dia do jogo”, diz Cristiano Vasques, sócio da consultoria paulista HotelInvest, especializada em hotelaria. “Se faltar hotel no Rio de Janeiro, as pessoas podem se hospedar em Angra dos Reis, em Búzios ou mesmo em São Paulo.”
Para Vasques, o maior risco é de superoferta de quartos depois da Copa. Um estudo da HotelInvest aponta que, com a abertura de novos empreendimentos hoteleiros previstos até 2014, sete cidades-sede poderão sofrer com a baixa ocupação depois do evento: Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Manaus, Salvador, Porto Alegre e Recife. “Em alguns hotéis, a taxa de ocupação pode cair para cerca de 45%, o que é insuficiente para o negócio dar retorno”, diz Vasques.