Special T, da Nestlé, lançada ano passado na França: na Europa, a máquina sai por 129 euros e o kit com dez cápsulas de chá sai por 3,50 euros (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 18 de junho de 2011 às 08h14.
São Paulo - Nos últimos anos, a multinacional suíça Nestlé revolucionou o mercado de cafés de alto padrão com o Nespresso. Quando parecia impossível surgir algo atraente e novo para consumidores de expresso, a empresa criou uma máquina que funciona com café embalado em cápsulas de alumínio fechadas a vácuo.
A novidade virou uma febre entre consumidores de alta renda — principalmente na Europa. Além de vender as cafeteiras, a empresa manteve a caixa registradora ocupada com o comércio das cápsulas de café. Nos últimos cinco anos, o faturamento com a marca, também conhecida como a Louis Vuitton dos cafés, cresceu mais de 35% ao ano.
Somente em 2010, as vendas somaram 3,3 bilhões de dólares, no que muitos acreditam ser uma das melhores margens da maior multinacional de alimentos do mundo.
Com tamanho sucesso, a Nestlé está convencida de que é possível repetir a dose — desta vez com o mercado mundial de chás, estimado em mais de 30 bilhões de dólares anuais pela consultoria Euromonitor.
No segundo semestre de 2010, a empresa lançou a Special T, uma máquina para preparar chás gourmets, o segmento que mais cresce, 10% ao ano.
A Nestlé optou por introduzir a novidade na França, onde custa 129 euros, porque o país é o maior consumidor mundial da marca Nespresso. Se a moda pegar por lá — a companhia afirma que as vendas estão indo bem —, a Nestlé pretende lançar em breve o produto em outros países da Europa Ocidental, na Rússia e na China.
Se tudo der certo, passará a disputar um mercado dominado por uma de suas maiores concorrentes, a Unilever, que atende cerca de 15% do mercado de chás com a marca Lipton.
Para se preparar para a briga com a Unilever, a Nestlé foi buscar a matéria-prima em fazendas de China, Japão, Sri Lanka, Índia e África do Sul. Ao todo, são 25 variedades de chás vendidas em cápsulas. A máquina reconhece eletronicamente qual o tipo selecionado e ajusta o tempo de infusão e a temperatura correspondentes.
De acordo com os críticos, o grande desafio será convencer os consumidores de que eles precisam de mais um eletrodoméstico em casa. No caso, um que torna mais caro o hábito de preparar um bom chá — um kit com dez cápsulas custa 3,50 euros.
Em grande medida, foi exatamente esse o desafio superado pelas máquinas Nespresso. “O grande sucesso da Nestlé com o Nespresso foi criar uma nova necessidade para o consumidor. Algo semelhante ao que a Apple consegue com seus aparelhos eletrônicos”, diz Mark Tungate, escritor e jornalista inglês especializado em consumo de luxo.
O que pode tornar a tarefa mais complicada desta vez é o fato de que é bem mais fácil preparar um chá de altíssima qualidade do que um café gourmet. Com uma boa seleção de folhas e água filtrada e aquecida à temperatura recomendada, é possível obter um chá excelente.
Já os apreciadores de café sabem bem que um bom expresso depende da qualidade do produto, sim, mas também da pressão da máquina e de como a bebida é tirada. A Nestlé já deu sinais de que entendeu a dimensão do atual desafio.
Na época do lançamento da Special T, o executivo Henk Kwakman, responsável pelo projeto, reconheceu que desta vez a tarefa de revolucionar o consumo de uma bebida vai exigir esforços maiores. A empresa terá de gastar mais em marketing e ter paciência para esperar por resultados.
No caso das máquinas de Nespresso, lançadas em 1988, as vendas deslancharam especialmente quando a empresa contratou o ator americano George Clooney, em 2006, para estrelar a sua campanha.
Por enquanto, a Nestlé nega ter planos de contratar outro astro hollywoodiano para divulgar a Special T. Apesar disso, é pouco provável que os suíços estejam planejando esperar mais de 18 anos para ver se a máquina de chá vai mesmo decolar.