Revista Exame

Dólares no interior para viagens no exterior

A Fitta se tornou uma das maiores corretoras de moedas do país abrindo lojas em pequenas cidades, para atender quem só agora começa a viajar para o exterior

Nunes, da Fitta: a única casa de câmbio num raio de centenas de quilômetros  (Alexandre Battibugli/EXAME.com)

Nunes, da Fitta: a única casa de câmbio num raio de centenas de quilômetros (Alexandre Battibugli/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 7 de julho de 2011 às 17h02.

São Paulo - A cidade baiana de Vitória da conquista tem cerca de 300 000 habitantes e uma nova classe de consumidores que, como no resto do Brasil, vem descobrindo as delícias do turismo internacional. Trata-se de uma transformação mais profunda do que parece. Os novos turistas de Vitória da Conquista deram origem a um mercado de moedas estrangeiras, até então inexistente na região.

A cidade não tem casa de câmbio. Hoje, as operações devem ser feitas numa agência bancária autorizada, situada a 200 quilômetros de distância, ou próximo aos aeroportos internacionais, onde os turistas embarcam.

Esse mercado descoberto pode ser visto hoje em várias regiões do interior brasileiro — e é ele que empurra o crescimento da Fitta, atualmente uma das maiores corretoras de câmbio do país. Nos próximos dias, a Fitta deve inaugurar sua primeira loja em um dos shopping centers de Vitória da Conquista. Será a 22a unidade da Fitta no interior.

Desde 2007, a corretora adotou uma estratégia de expansão longe dos grandes centros urbanos, em cidades médias e emergentes, como Pontes e Lacerda, em Mato Grosso, Aparecida de Goiânia, em Goiás, e Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Outras dez lojas devem ser inauguradas até dezembro.

“Na maioria desses locais, somos a única instituição que pode comprar e vender moedas estrangeiras. Em vários deles, não existem outros agentes num raio de centenas de quilômetros”, diz André Luiz Nunes, fundador da Fitta, que faturou 545 milhões de reais em 2010 com as operações de câmbio e a venda de pacotes turísticos e seguros de viagem.

Como os bancos e, mais recentemente, algumas corretoras de ações, a Fitta tenta ganhar com o aumento do poder de compra das famílias que vivem no interior do país. Números do Ministério do Turismo mostram que, em abril deste ano, quase 30% das famílias brasileiras planejavam ir ao exterior nos próximos seis meses, o dobro do patamar de janeiro de 2010.

Segundo o Banco Central, os brasileiros compraram 532 milhões de dólares para viajar em abril, 60% mais que no mesmo período do ano anterior. “Faltam casas de câmbio para atender à demanda, que cresce mais do que a oferta”, diz Leandro Gomes, presidente da Associação Brasileira das Corretoras de Câmbio.

As outras grandes casas de câmbio do país, a Confidence e a Cotação, também vêm crescendo, mas a expansão é concentrada nas capitais e nas grandes cidades, sobretudo naquelas que receberão turistas durante a Copa do Mundo de 2014.


“Também estamos atentos a esse movimento”, diz Nunes. “Mas acreditamos que a grande oportunidade, hoje, está no pouco explorado mercado do interior.” Das lojas da Fitta que serão abertas neste ano, 60% ficam em cidades médias e pequenas.

Direto do garimpo

O interior é um velho conhecido dos profissionais da Fitta. A empresa foi criada em 1999 como uma corretora que comprava ouro diretamente de garimpeiros próximos a cidades como Oiapoque, no extremo norte do Amapá.

A partir de então, o metal era purificado em São Paulo e revendido em polos da indústria joalheira, como São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, e Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Nos dois primeiros anos da empresa, Nunes, então com 27 anos, viajou com o sócio Rodrigo Macedo por 50 cidades em regiões de garimpo para instalar postos de compra.

Hoje, a Fitta é líder na venda de ouro no mercado brasileiro — somando as operações de ouro às de câmbio, a empresa faturou 2,5 bilhões de reais em 2010. Nunes decidiu fundar a corretora depois de perder o emprego de gerente da mesa de ouro no banco Fonte Cindam, que quebrou em janeiro de 1999 em meio a um escândalo de favorecimento por parte do Banco Central.

“A Fitta tem ajudado a formalizar o mercado de câmbio. Com acesso a corretoras, as pessoas usam menos o serviço de doleiros”, diz Tarcisio Rodrigues Joaquim, diretor do Banco Paulista, uma das quatro instituições financeiras dedicadas a revender moedas estrangeiras para agências de turismo e casas de câmbio.

As novas lojas da Fitta funcionam no sistema de franquia: por meio dele, empresários das cidades onde a empresa deseja operar são transformados em correspondentes cambiais. É uma maneira, segundo Nunes, de crescer rapidamente investindo um mínimo de capital.

Os concorrentes alegam que há uma lei que proíbe a franquia de instituições financeiras. “A Fitta terá de reformular todas as suas lojas, e rápido”, diz o diretor de uma corretora concorrente. Segundo o BC, o modelo é permitido e a responsabilidade sobre as operações realizadas nessas lojas é da Fitta. “Faço as coisas de um jeito diferente”, diz Nunes. “Mas sempre dentro da lei.”

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