A empreendedora Luisa Abram em sua fábrica de chocolates em São Paulo: cacau colhido à beira dos rios Purus, Tocantins e Cassiporé (Leandro Fonseca/Exame)
Leo Branco
Publicado em 23 de março de 2022 às 15h00.
Um dos desafios da empreendedora paulistana Luisa Abram logo após a formatura em gastronomia, em 2015, foi encontrar um espaço no mercado de trabalho. O timing não ajudou. Em meio à recessão profunda da economia brasileira, o desemprego foi para a casa dos dois dígitos. Boa parte dos colegas de faculdade de Abram foi fazer bicos na cozinha de restaurantes. Depois de uma temporada de pós-graduação na Europa, ela retornou a São Paulo decidida a explorar uma matéria-prima típica do país: o cacau.
“Os especialistas em chocolates da Europa são fascinados pela qualidade do cacau brasileiro”, afirma ela. “Na época, eles tinham mais conhecimento do assunto do que a gente aqui.”
No rol de coisas sobre o cacau até então pouco conhecidas pela empreendedora estava a importância do manejo por ribeirinhos da Amazônia, região pioneira no cultivo do fruto. “O cacau precisa da sombra de árvores maiores a seu redor para dar bons frutos”, diz Abram. “Por isso, a extração do cacau mantém a floresta em pé.”
Boa parte dos pés de cacau da região é do tipo selvagem, semeado pela força da própria natureza, num contraste com as lavouras do fruto no sul da Bahia, onde estão as fazendas de cacau mais tradicionais do país. Apesar da importância estratégica do cacau da Amazônia, Abram deparou com um desconhecimento sobre o potencial dessa produção. “Praticamente não havia cadeias de fornecimento desses frutos selvagens para consumidores de grandes centros dispostos a consumir um chocolate com modo de produção sustentável”, diz.
Em incursões à região, Abram montou uma rede de fornecedores de cacau 100% da Amazônia. Em outra ponta, pediu dinheiro à família para erguer uma fábrica para transformar o cacau em barras de chocolate premium. A linha da marca, que tem o nome dela, soma mais de 20 produtos — a maioria leva o nome dos rios de origem do cacau, como Purus, Tocantins e Cassiporé.
“Sigo o conceito de bean to bar [da semente à barra]”, diz ela. Um site próprio vende as barras de chocolate mundo afora — 25% vão para entregas no exterior. O restante fica em 150 pontos de venda, como o supermercado Casa Santa Luzia, em São Paulo. Em 2022, a Luisa Abram deverá faturar 5 milhões de reais, o dobro do ano passado.