Revista Exame

Dilma Rousseff vai sobreviver?

Ainda dá tempo para Dilma Rousseff tirar seu governo da esfera do Código Penal, uma situação resultante das escolhas feitas por ela e por seu antecessor no Palácio do Planalto. Mas não será fácil

Dilma enfrenta mais uma crise: com tanta gente em sua equipe fugindo da lei, sobra alguém para trabalhar? (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

Dilma enfrenta mais uma crise: com tanta gente em sua equipe fugindo da lei, sobra alguém para trabalhar? (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

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Da Redação

Publicado em 6 de outubro de 2011 às 19h14.

São Paulo - Conseguirá a presidente Dilma Rousseff sobreviver a seu próprio governo? Impossível não é. Dilma ainda não completou nem 20% do seu mandato, o que lhe deixa tempo de sobra para tirar sua administração da esfera do Código Penal onde está atolada, reduzir a níveis aceitáveis a situação de anarquia que se instalou na máquina oficial e dar início efetivo à tarefa para a qual foi eleita.

A situação econômica, no meio dos abismos abertos nas finanças mundiais, é incerta, mas o Brasil já esteve pior em outros momentos de crise.

A combinação entre bons preços na área agromineral, pelo menos até agora, o volume das reservas internacionais e os investimentos externos tem ajudado a manter a economia em movimento e o nível de emprego em excelente forma.

Há pela frente as oportunidades oferecidas pela Copa do Mundo e pelos Jogos Olímpicos — que, se forem razoavelmente aproveitadas, podem servir como uma bela vitamina para o ânimo geral e para a saúde do governo.

A popularidade da presidente, apesar desse esquisito “regular positivo” que reforçou seus índices de aprovação numa das últimas pesquisas de opinião, não lhe dá motivos para preocupação até o momento. Pode ser, portanto, que ela chegue lá. Mas está difícil.

Está difícil pela roubalheira descontrolada que se tornou a marca principal, ou a única, do governo nestes seus sete meses na Presidência — mas, além e acima disso, pelos efeitos que o gangsterismo oficial em larga escala tem causado no funcionamento cotidiano da administração pública, impedindo, até agora, que ela consiga índices mínimos de competência em tudo aquilo que deve fazer.

O controle da máquina pelo elemento criminal chegou a patamares nunca atingidos antes — em quantidade de dinheiro desviado do erário, variedade de delitos cometidos, número de ladrões, parasitas e aproveitadores em ação, e por aí afora.

As “faxinas” anunciadas pelo Palácio do Planalto não assustam minimamente as quadrilhas que a “governabilidade” instalou de alto a baixo no governo.


Sim, são feitas demissões no ministério “A” ou na repartição “B” — e daí? O que a presidente vai fazer em relação ao resto, de “C” a “Z”? Se continuar tirando uns tantos peixes graúdos aqui, outros tantos ali, vai ter de mexer em quase tudo.

É mais ou menos um consenso em Brasília, no momento, que ainda não foram tocados os ministérios mais sinistros em termos de corrupção — nem as figuras mais influentes que estão ligadas a essa calamidade geral. Que disposição, ou que condições reais, a presidente tem para levar a limpeza até eles? Não se sabe.

O que se sabe é que nenhum governo consegue operar com um mínimo de racionalidade e eficácia em situações como essa. Se uma quantidade tão grande de gente está ocupada em roubar ou em esconder-se da Polícia Federal e do Ministério Público, quem sobra para trabalhar? Quanto tempo podem dedicar ao serviço público em sua jornada de trabalho? Que projetos conseguem articular e colocar em execução?

Esse não é o único efeito perverso da ladroagem. Ela desmoraliza todos aqueles que querem trabalhar honestamente e se veem no papel de bobos diante do sucesso, da impunidade e da “confiança” que desfrutam os delinquentes que têm acima de si ou a seu lado. Fica difícil, sem dúvida, esperar dedicação, profissionalismo e boas ideias dos que se dispõem a trabalhar com decência.

É um veneno, também, o estímulo que a criminalidade de alta potência cria para safadezas menos escandalosas, ou consideradas menos graves — como empregar em massa familiares, amigos e serviçais, contratar empresas ou ONGs de parentes para fornecer ao governo ou, simplesmente, furtar importâncias menores. É comum, quando um caso desses aparece, ouvir no governo manifestações abertas de alívio: “Só isso? Não vai dar em nada”.

Essa situação é fruto das escolhas feitas pela presidente Dilma Rousseff e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O futuro do presente governo, para o bem ou para o mal, também será.

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