Revista Exame

Diálogos artísticos: 80% dos participantes da 35ª Bienal de São Paulo não são brancos

Arte, arquitetura e gastronomia propõem debates sociais e culturais na 35a Bienal de São Paulo

A artista Citra Sasmita, de Bali, na Bienal de São Paulo de 2020: na edição deste ano, 80% dos 121 expositores são negros, indígenas ou não brancos (Yeo Workshop/Divulgação)

A artista Citra Sasmita, de Bali, na Bienal de São Paulo de 2020: na edição deste ano, 80% dos 121 expositores são negros, indígenas ou não brancos (Yeo Workshop/Divulgação)

Júlia Storch
Júlia Storch

Repórter de Casual

Publicado em 24 de agosto de 2023 às 06h00.

Muitas vezes fixada em espaços de exclusão, a arte cumpre o seu papel durante as bienais em um diálogo franco com o público que visita o Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque Ibirapuera. Para a 35a edição, os curadores Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel assinam em conjunto a mostra batizada de Coreografias do Impossível.

“Nossa abordagem se fundamenta no desejo de compreender como o conceito de coreografia foi expandido, com sua capacidade de absorver, refletir e questionar o contexto social em que vivemos. Essas coreografias representam também os corpos presentes, tão essenciais à criação artística, pois são esses corpos que se movem através do impossível”, diz o coletivo curatorial da Bienal. Já o impossível, por sua vez, faz alusão às realidades políticas, legais, econômicas e sociais que envolvem as práticas artísticas e sociais do evento.

Serão 121 artistas que apresentarão seus trabalhos, sendo que 80% dos nomes são negros, indígenas ou não brancos. Para além desse número, os curadores buscaram artistas que abordassem o tema do impossível de maneiras variadas, pelo uso de material, pela exploração de questões políticas ou sociais ou por meio de abordagens inovadoras à criação artística, frequentemente ligadas às condições materiais de vida em contextos desafiadores. “Nosso interesse recai sobre artistas que trazem perspectivas e experiências diversas para a exposição”, diz.

A edição também apresenta uma nova proposta de visitação. Pela primeira vez na história, o vão central do Pavilhão da Bienal será inteiramente fechado. Ao bloquear a visão e o acesso ao segundo pavimento, o projeto transforma a circulação convencional do edifício, fazendo dele o último dos pavimentos a ser visitado. “A chegada ao segundo andar revela que o vão não é fechado por paredes, mas sim por um corpo cuja espessura dispõe, em torno do vão, uma série de salas expositivas, fazendo com que toda a circulação em volta dele tenha vista direta para o Parque Ibirapuera.”

A escolha de quem ocuparia o espaço da alimentação também foi pensada para harmonizar com o tema da mostra. Com isso, a Cozinha Ocupação 9 de Julho — MSTC apresentará seu trabalho gastronômico e social. Além de operar como restaurante, o grupo também desempenhará uma intervenção artística no Pavilhão da Bienal. “Além de lidar com a urgente questão da moradia em uma metrópole como São Paulo, eles são agentes diretos de mudança e estão alinhados com uma das maiores preocupações atuais, que é a produção e a distribuição de alimentos que diferem das normas do agronegócio, focando a saúde e o apoio aos pequenos produtores locais”, dizem os curadores.

35a Bienal de São Paulo — Coreografias do Impossível

De 6 de setembro a 10 de dezembro | Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera, São Paulo | Entrada gratuita


FILME

Memórias cinematográficas

Com lançamento mundial no Festival de Cannes, em maio, chega aos cinemas brasileiros o quinto longa-metragem do premiado diretor Kleber Mendonça Filho. Retratos Fantasmas, ambientado na cidade natal de Mendonça, Recife, é fruto de sete anos de trabalho e pesquisa, filmagens e montagem. O espaço histórico da cidade é revisitado através dos cinemas que serviram como espaços de convívio durante o século 20.

(Divulgação/Divulgação)

Retratos Fantasmas | Kleber Mendonça Filho | Estreia em 24 de agosto


LIVRO

A mente de Musk

O que se passa na mente de um dos maiores e mais excêntricos empresários do mundo? Depois de colocar 31 foguetes em órbita, vender milhões de carros elétricos e se tornar o homem mais rico do planeta, Elon Musk reconheceu sua fixação por drama. “Preciso mudar minha mentalidade e sair do modo de crise, no qual passei a maior parte da minha vida”, disse. Logo em seguida, Musk comprou o Twitter e rebatizou a companhia de X. Agora, a trajetória completa do polêmico empresário será contada na biografia escrita por Walter Isaacson, biógrafo de Steve Jobs, que acompanhou a rotina do empresário por dois anos.

(Intrínseca/Divulgação)

Elon Musk, por Walter Isaacson | Editora Intrínseca | 89,90 reais | Lançamento 12 de setembro


MÚSICA

Pessoas do amanhã

Após seis anos sem edições no Brasil, o festival Tomorrowland desembarca no Parque Maeda, em Itu, para três dias de apresentações

Você pode não ser um “people of tomorrow”, como são conhecidos os frequentadores do festival Tomorrowland, mas provavelmente conhece o evento de música eletrônica criado na Bélgica. Após seis anos sem apresentações no Brasil, a cidade- de Itu, em São Paulo, recebe em outubro a terceira edição do festival. Durante três dias, mais de 96.000 pessoas de 98 países poderão viver a imersão do evento e assistir a mais de 40 artistas.

“Estar no Parque Maeda proporciona uma conexão com a natureza que é superalinhada com a identidade do festival, um grande diferencial do evento no país. Tenho certeza de que os consumidores vão se surpreender”, diz Rodrigo Mathias, CEO da DCSet, empresa que organiza o Tomorrowland no Brasil.

Cada país que sedia o festival apresenta suas peculiaridades, mas alguns pontos se mantêm em comum, como os palcos principais. “Há um investimento de 6 milhões de euros por ano na cenografia do palco principal, que está vindo para o Brasil da Bélgica. Só os palcos ocupam 80 contêineres dos mais de 120 que vão desembarcar aqui”, comenta Mathias.

Mais do que um evento de três dias, o Tomorrowland se estende por todo o ano em algumas regiões do mundo com ações sociais. Em Itu, o Tomorrowland Foundation e o Instituto Tecendo Infâncias firmaram uma parceria para o desenvolvimento de um projeto de educação de música e artes para crianças. Já foi captado 1,5 milhão de reais para formar os futuros artistas que um dia poderão se apresentar no festival.

(Fille Roelants Photograph)

Tomorrowland Brasil | De 12 a 14 de outubro | Parque Maeda, Itu (SP)

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