Revista Exame

O que David Bowie e Toots Hibbert fizeram em comum?

Mais um grande veterano lança álbum e morre na sequência. O mestre do reggae Toots Hibbert demonstra vigor em Got to Be Tough

Toots Hibbert: precursor da música jamaicana e sucesso desde os anos 1960 (Divulgação/Divulgação)

Toots Hibbert: precursor da música jamaicana e sucesso desde os anos 1960 (Divulgação/Divulgação)

Tem sido, infelizmente, mais frequente que grandes veteranos da música façam belos álbuns de retorno e morram logo em seguida. Aconteceu com o astro inglês do rock David Bowie e com o cantor poeta canadense Leonard Cohen. Voltou a ocorrer agora com o jamaicano Toots Hibbert, mito do reggae e do pop, que divulgou o novo Got to Be Tough, seu primeiro trabalho completo (sob o nome de sua banda de sempre, Toots and the Maytals) em oito anos, e foi internado dois dias depois com sintomas de covid-19. Acabou morrendo em 11 de setembro, aos 77 anos.

Bowie, morto aos 69 anos, produziu Blackstar sabendo que seu câncer era terminal e que a obra seria uma despedida — morreu dois dias depois do lançamento. Cohen também declarava se sentir nos estertores da vida em entrevistas naquela época e expirou aos 82 anos de leucemia, 19 dias depois de You Want It Darker sair. Os dois casos aconteceram em 2016.

Já Toots não tinha em mente seu fim iminente quando gravou o disco. Ao que tudo indica, ele contraiu ­covid-19, embora a causa oficial da morte não tenha sido divulgada até o fechamento desta edição da EXAME. O que implica que não há exatamente um tom solene em sua obra final, e sim uma celebração de retorno à atividade. O novo trabalho é um dos primeiros do ainda incipiente selo Trojan Jamaica, afiliado à BMG e que tem como um dos fundadores Zak ­Starkey, baterista e filho do ex-beatle Ringo Starr. O novo empreendimento deu a Toots a chance de voltar à ação.

Com os Maytals, a partir de 1962, Toots foi um dos pioneiros do ska e do reggae na Jamaica, inclusive alegando que batizou este último gênero com sua música Do the Reggay, de 1968. A banda teve muitos hits no país e, bem antes de Bob Marley and The Wailers cruzarem fronteiras, alcançou sucesso internacional em 1970 com Monkey Man, que foi ao topo da parada do Reino Unido. Seus discos seriam influentes para uma geração posterior de roqueiros brancos britânicos nos anos 1980.

Se o CD anterior de Toots, de 2012, era um unplugged de regravações de músicas antigas com roupagem nova, o novo Got to Be Tough é uma criação atual e cheia de vigor. Há uma cover de Three Little Birds, de Bob Marley, com participação de Ziggy Marley (filho mais famoso do mais famoso dos reggaemen) e Ringo Starr. Mas nem de longe é a melhor faixa do álbum. O som é bem variado. A abertura Drop Off Head é um reggae intenso. Just Brutal é praticamente um funk na marcação da guitarra. A faixa-título e Warning, Warning são reggaes mais tradicionais e Stand Accused tem um sabor mais africano.

Got to Be Tough | Álbum de Toots and the Maytals | Trojan Jamaica/BMG | Disponível em streaming


FILME

O cineasta e o papa

Esse documentário tem a distinção de ser dirigido por um cineasta de primeira linha — o alemão Wim Wenders, de clássicos como Paris, Texas, As Asas do Desejo e Buena Vista Social Club. O filme de 2018 chegou a sair muito timidamente em DVD no Brasil e agora entra na Netflix praticamente como se fosse inédito. O diretor acompanhou pelo mundo o religioso argentino, atual autoridade máxima da Igreja Católica, e registrou o humanismo que guia Francisco.

(Divulgação)


LIVRO

O maior time da história

Não que o Brasil tenha ignorado os 50 anos da conquista do tri pela seleção de futebol na Copa do Mundo de 1970. Mas os britânicos parecem ter uma obsessão maior do que a nossa com o time comandado por Pelé. O jornalista escocês Andrew Downie, que foi correspondente aqui, publica agora este livro, que será lançado em 1o de outubro e está em pré-venda. Downie é autor de uma ótima biografia do ídolo corintiano Sócrates e, na nova obra, conta com prefácio de Roberto Rivellino.

(Divulgação)


MÚSICA

Sons da China

A violonista clássica Xuefei Yang retorna às raízes de seu país, mas com pitadas ocidentais | Marcelo Orozco

(Divulgação)

A violonista clássica chinesa Xuefei Yang construiu reputação internacional baseada num repertório ocidental, de obras de J.S. Bach a reinterpretações de música brasileira. No novo álbum, Sketches of China, ela volta seu olhar para seu país, com composições tradicionais do folclore e outras mais recentes. Ela também resgata músicas de minorias de seu país.

Com o violão, estranho à cultura chinesa, Xuefei tem a destreza de simular sons de instrumentos tradicionais da China. Em algumas faixas, ela é apoiada pelo acompanhamento da orquestra filarmônica de Xiamen, sob regência de Renchang Fu. Há faixas que parecem trilha sonora de filme, outras chegam perto do jazz ou do rock eletrônico, por mais inesperado que seja.

O que é interessante notar ao ouvir as 23 faixas em sequência é que, apesar de serem canções chinesas, muitas têm pontos de contato sonoros com estilos ocidentais. Ocasionalmente, o que se ouve parece um flamenco. Outras estabelecem um transe semelhante à da música do norte da África e do Oriente Médio. Uma feliz prova de que a música é universal e, apesar das variações regionais, tem um idioma comum. Um ótimo álbum para deixar tocando.

Sketches of China | Álbum de Xuefei Yang | Decca | Disponível em streaming

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