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De volta aos anos 1990: a pandemia vai nos deixar mais nostálgicos?

Da volta da papete ao renascimento de marcas icônicas, não faltam referências a símbolos daquele tempo

Mercado: marcas como Umbro e Redley relançam clássicos (Divulgação/Divulgação)

Mercado: marcas como Umbro e Redley relançam clássicos (Divulgação/Divulgação)

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Matheus Doliveira

Publicado em 19 de agosto de 2021 às 05h43.

A música Como uma Onda, de Lulu Santos e Nelson Motta,­ não se refere exatamente à moda. Ainda assim, a frase “nada do que foi será” é um bom exemplo para falarmos sobre os costumeiros revivals de outras épocas. A onda retrô do momento tem como referência os anos 1990. Da volta da papete ao renascimento de marcas icônicas, não faltam referências a símbolos daquele tempo.

Mais exigente do que no passado, o consumidor mais jovem quer, sim, provar o gostinho do legado daquilo que já foi tendência. Ao mesmo tempo, nada pode parecer velho — caso contrário é cringe. Para esse público, a palavra de ordem é nostalgia, mas não de qualquer tipo. “Os millennials têm de 30 a 40 anos, aproximadamente. São pessoas que no geral estão há mais tempo no mercado de trabalho e têm cargos mais altos. Por esse motivo, são mais propensas a investir em peças atemporais”, explica Mariana Santiloni, chefe de atendimento ao cliente da WGSN, empresa de previsão de tendências e consumo.

Esse resgate do que fez sucesso no passado está longe de ser novidade. O que tem de diferente agora? Talvez a pandemia explique, afirma Santiloni. “O interesse pela nostalgia é projetado por meio de uma ótica otimista. A necessidade de resgatar a positividade em tempos de pandemia é inseparável dessa tendência inspirada em décadas passadas.”

(Divulgação/Divulgação)

A Lightning Bolt, marca havaiana que fez muito sucesso por aqui nos anos 1980 e 1990 e que nunca deixou de ser a queridinha do surfe lá fora, voltou a atuar neste ano no Brasil. Com o sócio Kiko Bonventi, o publicitário Carlos Perrone está colocando no ar o primeiro e-commerce brasileiro do logotipo do raio. O surfe continua como pano de fundo, mas a proposta passa a ser totalmente focada no lifestyle masculino, não apenas no esporte. “O consumidor quer marcas próximas a ele. A história delas é, sim, importante, mas quem ficar só olhando o retrovisor vai ficar para trás”, diz Perrone. Nesse relançamento, que deverá ganhar a primeira loja física até o final do ano, itens como bonés, mochilas, bucket hats e até mesmo moletons ganham vez e se misturam a peças clássicas, como as famosas bermudas de tactel já conhecidas pelos clientes.

Outra marca que revisita o clássico com uma nova perspectiva é a Redley, fundada há 35 anos no Rio de Janeiro. O negócio que começou focado nos calçados atingiu seu ápice na década de 1990, quando virou sinônimo da moda de praia entre os cariocas mais jovens. Desde 2019 a Redley se posiciona também como uma marca de lifestyle do asfalto, apostando em sapatos mais urbanos, como o modelo Nauru, feito de lona cinza e costura aparente. “Hoje temos um pé na areia e outro no asfalto. Nossas coleções trazem nostalgia e modernidade ao mesmo tempo”, diz o CEO Thomas Simon.

(Divulgação/Divulgação)

Na moda esportiva também tem destaque a Umbro, que estampou o uniforme da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1994. A marca de origem inglesa também quer conquistar os millennials de hoje repaginando seus símbolos de outrora. Prova disso é sua mais nova coleção de camisetas de times de futebol, que mantêm as cores e os emblemas de patrocinados como Grêmio, Santos e Chapecoense em uma estética vintage — arrisca-se dizer, chique. Mirando um lifestyle esportivo casual, a Umbro chamou para a campanha de sua nova coleção figuras da música como o rapper Fleezus e os DJs Peroli e MC Bin Laden, como forma de se aproximar das novas gerações.

Não dá para falar de nostalgia dos anos 1990 sem citar o calçado mais emblemático (e polêmico) da moda: a papete. A Rider ressuscitou o modelo de sandália em 2017. “A papete tem extrema relevância para nosso posicionamento da marca”, diz Alexandre Reis, gerente de comunicação da Rider. “É um arquétipo democrático, sem gênero e de grande importância para o segmento de calçados abertos. O design está sempre em evolução, mas a essência continua a mesma: o conforto e a praticidade de ter uma sandália arejada e que fica segura no pé.” E por que a controvérsia em relação a seu estilo? Reis desconversa. “Muita gente ainda associa o produto a algo do passado e com uma estética estranha. Mas a papete comprovou que voltou para ficar. É só olhar para o público antenado nas tendências e nas passarelas dos desfiles de moda.”

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