(Cyla Costa/Exame)
O empreendedor baiano André Barretto tem ojeriza a passar perrengue na balada — perder tempo para entrar num bar, demorar até conseguir pagar a comanda; e a lista vai longe. Tudo isso o levou a fundar alguns negócios de biometria facial. O primeiro deles, em 2016, foi o ZigPay, um app de gestão de eventos alvo de aporte de 40 milhões de reais em 2021 de um grupo de investidores de peso, como Edgard e Diogo Corona (Smart Fit) e Ricardo Goldfarb (Lojas Marisa).
Em 2019, às vésperas da pandemia, Barretto abriu a Unike Technologies, uma startup com sede em São Paulo dedicada ao uso de biometria facial para, nas palavras dele, facilitar o vaivém de pessoas. “Somos uma ‘frictech’, uma empresa de tecnologia dedicada a reduzir atritos em operações simples do dia a dia”, diz Barretto. Em 2021, o negócio bombou. O faturamento da Unike saltou 3.078% e fechou o ano em 10,5 milhões de reais.
O que explica o interesse pela identidade digital num momento de atividades sociais restringidas pela pandemia, como foi o ano passado? A aversão ao contato físico é uma das explicações. A tecnologia desenvolvida por Barretto combina câmeras e algoritmos para relacionar a imagem do rosto de alguém a outros dados, como contas bancárias. Tudo isso para limar a necessidade de tirar um cartão de crédito do bolso para pagar por um produto.
Na quarentena, Barretto passou a vender a lojistas ansiosos por soluções para convencer os clientes a sair de casa. Em outra frente, criou produtos específicos para nichos. Um deles foi o de indústrias interessadas em trocar o cartão de ponto dos funcionários pela biometria. Outro foi para empresas de logística em busca de agilidade no delivery. “Estávamos na hora certa, no lugar certo e com o produto certo”, diz. A volta dos eventos presenciais trouxe novos clientes para a Unike. É o caso de cinemas e de parques temáticos — o Beach Park, complexo aquático no Ceará, é um deles.
A interação descomplicada com clientes alavancou também os negócios da gaúcha Ubots, dona de uma plataforma de chatbots, robozinhos virtuais para atendimento de consumidores em sites e redes sociais. Fundada em 2016, fruto de um projeto piloto com a rede de drogarias Panvel, a Ubots hoje automatiza mais de 2 milhões de diálogos por mês em espaços como WhatsApp e Messenger. “As empresas querem estar onde os clientes estão, e hoje eles estão nos aplicativos de mensagem”, diz Rafael Souza, CEO da Ubots. Em 2021, a empresa quase triplicou as receitas, para 11,7 milhões de reais. Boa parte da demanda veio de bancos. “Com o fechamento em massa de agências físicas nos últimos anos, cada vez mais instituições financeiras recorrem às nossas soluções”, diz Souza.
Mesmo os negócios da economia real, boa parte deles alheia à guinada tech puxada pelas startups, aceleraram a digitalização para sobreviver e criar oportunidades na pandemia. Foi o caso da ótica carioca Zerezes. Aberta em 2012 como uma revendedora de óculos com design refinado a clientes descolados do Rio de Janeiro, a marca mudou quase tudo em plena pandemia.
A começar pelo início da venda de óculos de grau, na esteira de um aumento nos casos de doenças oculares entre trabalhadores enfurnados em casa — e de olho em telas o dia inteiro. Em paralelo, a empresa deu uma reformulada no e-commerce para incluir ferramentas pioneiras no varejo de óculos no Brasil, como um sistema para envio de receitas digitais e uma vitrine virtual para a escolha de armações e lentes. “Tudo começa pela busca por identidade, transparência no preço e simplicidade na hora de achar a armação ideal”, diz Rodrigo Latini, um dos fundadores da marca. A ousadia provou estar acertada. Em 2021, as vendas da Zerezes saltaram 104%, para 18,8 milhões de reais.
Em boa parte das empresas com expansão acelerada qualificadas no ranking da EXAME, o jeito de crescer muito em 2021 foi simplesmente fazer o dever de casa bem-feitinho — e confiar na estratégia. Na rede de franquias de fast-food Frango no Pote, de Brasília, a pandemia serviu para abrir os olhos para o risco da presença em shopping centers, alvo preferencial de leis para a quarentena.
Quase 80% da receita já vinha de unidades de rua. “Isso não era comum no nosso ramo, mas foi essencial para enfrentar os últimos dois anos”, diz Carlos Júnior, CEO da rede. Em 2021, a combinação de uma consultoria de uma aceleradora de franquias com a criação de um modelo de loja menor e mais econômica ajudou a Frango no Pote a multiplicar por quatro as vendas, para 7,3 milhões de reais. O número de lojas triplicou — hoje são 61.
Há quem cresça apostando em demandas que acabaram ficando em alta após a fase mais aguda da pandemia. A Oncare, especializada em segurança do trabalho e saúde corporativa com mais de 100.000 vidas atendidas, foi um desses casos. A Oncare desenvolveu protocolos para permitir que essas empresas voltassem aos trabalhos. Em outras palavras, eles serviram como um manual de boas práticas e recomendações ligadas à realização de testes, equipamentos adequados e divisão de risco ocupacional por setores e grau de envolvimento de funcionários. Foi um incremento numa operação até então focada em exames admissionais e demissionais.
Em 2021, a Oncare cresceu mais de 1.370%, para uma receita de 26,5 milhões de reais. “As empresas precisam entender o que aconteceu com as pessoas nesses últimos anos e olhar para o pós-covid”, diz Ricardo Pacheco, CEO da Oncare. Rede de clínicas odontológicas fundada em 2018, a Dentz também se beneficiou da atenção à saúde. Para facilitar o acesso a tratamentos odontológicos, com grande potencial de serem considerados dispensáveis durante uma pandemia, a Dentz recorreu a parcerias com os bancos Votorantim, Bradesco e Santander, além de um cartão de crédito próprio, para que clientes pudessem financiar os procedimentos. “Somos como a Casas Bahia de odontologia”, diz Tiago Carvalho, presidente da rede. Em 2021, a empresa faturou 21 milhões de reais, mais do que o dobro de 2020.
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