Zannoni: desafio de integrar a região da América do Sul e fortalecer os meios digitais (Divulgação/Divulgação)
Ivan Padilla
Publicado em 18 de junho de 2020 às 05h05.
Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 12h41.
Em dezembro de 1993, Pedro Zannoni, então um jovem tenista de 17 anos, venceu pelo Brasil o torneio Sunshine Cup, na Flórida, uma espécie de Copa Davis juvenil, disputada entre países. Márcio Carlsson e Gustavo Kuerten faziam parte da equipe. Carlsson não foi muito longe na carreira. Nunca ganhou um título e a posição máxima que alcançou foi a de 119o no ranking da Associação dos Tenistas Profissionais. Gustavo Kuerten fez história. Venceu 20 campeonatos, permaneceu 43 semanas como número 1 do mundo e amealhou 14 milhões de dólares em premiações. Zannoni foi tenista profissional por um breve período. Depois, estudou direito, fez um programa para executivos em Wharton, na Pensilvânia, e seguiu carreira corporativa em marcas esportivas, como Wilson, Puma e Asics.
Quando era tenista juvenil, Zannoni teve o patrocínio da Lacoste. Por voltas do destino, em maio deste ano, quase três décadas depois, ele assumiu o cargo de CEO para a América Latina da mesma Lacoste. Com um detalhe: o então companheiro de equipe Gustavo Kuerten, de quem ficou amigo e com quem disputou jogos de duplas, é embaixador global da marca. “Ainda não nos falamos, mas está na minha agenda”, afirma Zannoni. Kuerten é peça-chave na comunicação da grife e um elo entre o Brasil e a matriz, a França. Tricampeão de Roland Garros, é uma figura adorada em Paris. Com suas vitórias, foi responsável por um aumento expressivo do interesse dos brasileiros pelo tênis — e consequentemente pelos produtos da Lacoste, que tem no esporte da raquete sua origem.
“O Brasil é o quarto mercado em importância estratégica para a Lacoste, depois da França, dos Estados Unidos e da China”, diz Zannoni. O que não significa share em faturamento, um dado não revelado pela empresa, controlada por um grupo familiar suíço. O executivo chega com a missão de integrar as subsidiárias do Brasil, hoje com Rachel Maia no comando (uma das entrevistadas na reportagem Mulheres contra a crise), da Argentina, do Chile e do Uruguai. No ano que vem a região deve incorporar o escritório da Colômbia, que responde hoje ao bloco dos Estados Unidos, e abrir uma representação no Peru. Apesar de o carro-chefe da marca ser a clássica camisa polo, é no segmento de sneakers que está a aposta maior de crescimento local, principalmente entre o público mais jovem.
O desafio, como acontece com todos os segmentos, é a atual crise causada pela pandemia. Duas lojas em outlets devem ser inauguradas em breve, mas apenas porque já estavam previstas antes da propagação do coronavírus. Entre as recentes medidas estão o investimento na plataforma própria de e-commerce, inaugurada há um ano, e novas parcerias com marketplaces. No ano que vem, assim que as condições forem mais favoráveis, a ideia é ter mais lojas em outras capitais brasileiras, além de São Paulo e Rio de Janeiro, no novo conceito global chamado Le Club, com uma linguagem visual que simula um estádio de tênis, em que predominam a cor verde e o mobiliário clássico de madeira.
A herança da grife, fundada pelo tenista René Lacoste em 1933, é bastante presente. Basta lembrar que Novak Djokovic, número 1 do mundo, é patrocinado pela Lacoste. Apesar de ter uma linha de performance, a Lacoste quer cada vez mais ser reconhecida como uma marca de moda. Esse reposicionamento ficou marcante a partir de 2010, quando o estilista português Felipe Oliveira Baptista assumiu a direção criativa da maison. Ele sacudiu a poeira de cima do crocodilo, inovou em cores e modelagens e voltou a colocar a Lacoste para desfilar na conceitual Semana de Moda de Paris. Dois anos atrás, Baptista saiu, sendo substituído pela inglesa Louise Trotter, a primeira mulher no cargo de chefe de criação. Em entrevista recente, Trotter revelou o caminho que imagina para a grife: “Quero fazer a roupa que as pessoas querem usar. Todos desejam viver mais, parecer jovens e transitar com naturalidade entre o trabalho e o dia a dia”.