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Carta de EXAME | De grão em grão

Vale para o país, nas contas públicas, o mesmo que vale para as pessoas em dieta. Conquistas pequenas, porém constantes, são mais saudáveis

Sinais de retomada no comércio: a continuidade das reformas vai definir se o crescimento brasileiro será medíocre, razoável ou alvissareiro  (Leandro Fonseca/Exame)

Sinais de retomada no comércio: a continuidade das reformas vai definir se o crescimento brasileiro será medíocre, razoável ou alvissareiro (Leandro Fonseca/Exame)

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Da Redação

Publicado em 19 de dezembro de 2019 às 05h20.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 15h51.

Não é mero desejo de fim de ano. O Brasil finalmente embicou na direção de um crescimento, se não pomposo, pelo menos visível. Não exatamente para 2019, quando as projeções indicam uma variação do produto interno bruto de pouco mais de 1% em relação ao que foi em 2018, uma diferença que quase some quando se computa o aumento da população, cerca de 0,8%. Mas 2020 deverá ser o ano do descolamento: 2,5% de aumento do PIB, a média atual das projeções, não chega a ser uma taxa de encher os olhos, mas já pode fazer diferença. Principalmente porque — e aí é que as projeções dão razão para certo otimismo — tem chance de ser um crescimento consistente.

Vale para o país, nas contas públicas, o mesmo que vale para as pessoas em dieta. Conquistas pequenas, porém constantes, são mais saudáveis do que grandes saltos seguidos de recuos de mesma monta. Nesse sentido, os três cenários expostos por um estudo da consultoria econômica 4E convergem.

O menos alvissareiro estima um crescimento da economia de 2% em 2020, mantendo-se razoavelmente estável por dez anos e chegando a 1,7% em 2030. O cenário médio é de 2,8%, caindo também muito pouco na década seguinte. O cenário otimista começa com 4,1% e vai se acomodando aos poucos, até chegar a 3,5% em 2030.

Os pontinhos de diferença entre os três cenários projetam países bem diferentes ao final da próxima década. Crescimento robusto gera oportunidades, investimentos, satisfação, correção de mazelas que, por sua vez, geram novas oportunidades. Enfim, riqueza gera riqueza.

A diferença entre os três cenários está na capacidade de manter o ritmo de reformas iniciadas no governo Temer e aprofundadas no primeiro ano do governo Bolsonaro. Os sinais não são de causar euforia, mas estão longe de provocar depressão. Entre os Poderes Executivo e Legislativo, pode ter-se formado uma dinâmica de vaivéns que permite acreditar num saldo positivo para a agenda econômica.

As grandes reformas saem da rusga natural da política um pouco esmaecidas, mas podemos tocar um universo de microrreformas, que, em seu conjunto, fazem uma senhora diferença no clima de negócios, na percepção emitida para investidores, no mercado de trabalho e na vida em geral dos brasileiros. Reformas, como as dietas, não são uma tacada única, não são um ippon — até porque, se quiser manter o adversário imobilizado, o judoca fica preso a ele. Bem ao contrário, reformas (e dietas) devem ser um hábito, o exercício da vigilância contra exageros que prejudiquem o organismo.

Foi assim que a Austrália conseguiu escapar da crise e da armadilha da renda média, nas décadas de 80 e 90, e tornar-se um país rico: com consistência nas reformas, durante diversos governos de matizes diferentes. A qualidade das reformas conta muito, é claro. Mas a persistência nelas é crucial. De grão em grão, evita-se que nosso crescimento seja um voo de galinha.

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