Revista Exame

"Cuidado para não ser muito cautelosos", aconselha Alexander Slocum

Segundo o professor de engenharia do MIT, é impossível garantir 100% de segurança na exploração de petróleo em áreas novas, como o pré-sal

Slocum com Obama: “No caso da Chevron no Brasil, a prioridade deve ser conter o vazamento” (Jewel Samad/AFP Photo)

Slocum com Obama: “No caso da Chevron no Brasil, a prioridade deve ser conter o vazamento” (Jewel Samad/AFP Photo)

DR

Da Redação

Publicado em 26 de abril de 2012 às 10h45.

São Paulo - Em 2010, o americano Alexander Slocum, especialista em máquinas de precisão do Massachusetts Institute of Technology (MIT), foi um dos cientistas convocados pelo governo Barack Obama para ajudar a conter o vazamento da BP no golfo do México, o maior registrado na história dos Estados Unidos.

Criador de 60 patentes na área de engenharia, Slocum não acredita em exploração com risco zero, mas diz que as regras de segurança poderiam ser mais severas.

1) EXAME - Como o time de cientistas ajudou a conter o vazamento de óleo da BP no golfo do México?

Alexander Slocum - Todas as tentativas haviam falhado. Eu me reuni com engenheiros da BP para pensar em alternativas. Foi aí que criamos um dispositivo para vedar o poço e evitar que ocorressem outras explosões. E deixamos engatilhados planos de contingência caso a tentativa de fechar o poço falhasse. 

2) EXAME - Que lições o vazamento da BP deixou? 

Alexander Slocum - Depois do acidente, as grandes empresas se uniram para definir quais tecnologias de segurança poderiam ser desenvolvidas. O investimento vai beneficiar toda a indústria nos próximos anos, o que inclui aperfeiçoar os sistemas criados emergencialmente na época do acidente da BP. 

 3) EXAME - No Brasil, houve dois vazamentos em um poço da Chevron nos últimos cinco meses. Por que esses acidentes continuam ocorrendo?

Alexander Slocum - É como na indústria de aviação. Suponha que um avião originalmente tivesse quatro sistemas de emergência. Com o tempo, eles se tornam tão confiáveis que é preciso apenas dois deles. O problema é que, ao começar a operar em maiores altitudes, essa confiança precisa ser revista.

O mesmo se aplica à extração em águas profundas. Apesar de os modelos matemáticos afirmarem que aquilo é seguro, só é possível verificar a segurança na prática.

4) EXAME - A indústria está pronta para explorar o pré-sal?

Alexander Slocum - Não se sabe se a tecnologia necessária para explorá-lo existe. Ao mesmo tempo, se os campos não forem perfurados, não dá para verificar na prática as simulações criadas no computador. É preciso ter cuidado para não ser excessivamente cauteloso. Ou a indústria não avançará. 

 5) EXAME - Isso não estimularia mais acidentes?

Alexander Slocum - As empresas terão de redobrar os cuidados para testar as novas tecnologias. Hoje é feito um poço principal. Em caso de acidente, é preciso construir o chamado poço de alívio para controlar a pressão do fluxo de óleo. Isso pode demorar semanas, como no caso da BP.

Então, no lugar de apenas um poço principal, teria de haver, no mínimo, dois, o que aumentaria a segurança. Por isso, é preciso endurecer as regras para áreas como o pré-sal.

6) EXAME - Essas imposições não afastariam investidores?

Alexander Slocum - A indústria vai dizer que é caro. Vai pressionar por exigências mais brandas. O Brasil está emergindo como um grande país petroleiro, e será tarefa do governo dizer: “Se não cumprirem as regras, aqui vocês não vão tirar petróleo”.

7) EXAME - Além de multas, o governo brasileiro confiscou o passaporte de executivos da Chevron. É o certo?

Alexander Slocum - Os executivos da Chevron deveriam estar preocupados em acabar com os vazamentos, e não em entregar seus passaportes à Justiça. Com o vazamento interrompido, daí, sim, é hora de identificar os culpados.

Acompanhe tudo sobre:Edição 1013EnergiaEnsino superiorEntrevistasFaculdades e universidadesMITPetróleo

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda