Revista Exame

Saúde mental: o momento pede atenção redobrada ao colaborador

Benefícios ligados ao bem-estar mental são prioridade para nove em cada dez profissionais brasileiros ao buscar um novo emprego — e as empresas estão alinhadas a esse debate

Prática no dia da ioga, em Nova York: a pandemia acelerou a discussão sobre bem-estar (Tayfun Coskun/Getty Images)

Prática no dia da ioga, em Nova York: a pandemia acelerou a discussão sobre bem-estar (Tayfun Coskun/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 4 de outubro de 2022 às 06h00.

A saúde mental no ambiente profissional nunca esteve tão em pauta. O tema, que já vinha sendo discutido nos últimos anos, ganhou coro na pandemia, diante de uma mudança drástica na relação das pessoas­ com o trabalho.

Nesse período, grande parcela dos trabalhadores relatou uma piora em seu estado emocional. Um levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), por exemplo, mostrou que 56% dos trabalhadores tinham dificuldades para equilibrar a vida pessoal e a profissional durante a crise sanitária. 

A fase desafiadora, no entanto, teve seu lado positivo, trazendo o assunto para os holofotes. Hoje, 90% das pessoas valorizam mais as empresas que abordam ativamente a saúde mental e o bem-estar dos funcionários.

Benefícios nesse sentido são a preocupação central na hora de buscar um novo emprego para 86% dos profissionais em todo o mundo — no Brasil, a questão é ainda mais relevante, sendo prioridade para 92% deles, conforme dados da pesquisa Pearson Global Learner Survey 2022. 

Se por um lado o cenário fortaleceu a percepção do colaborador de que o seu empregador é, em parte, responsável pelo seu bem-estar psicológico, por outro as companhias cada vez mais também vêm entendendo e assumindo esse papel.

Nos últimos cinco anos, o interesse das corporações nessa área cresceu 33%, segundo a consultoria Willis Towers Watson (WTW), e são diversos os exemplos de boas práticas.

Conquiste um dos maiores salários no Brasil e alavanque sua carreira com um dos MBAs Executivos da EXAME Academy.

Nestlé: cuidado multidisciplinar

Com uma série de ações nesse âmbito, a ­Nestlé é uma das corporações que têm olhado a questão mais de perto. Nos últimos dois anos, foram ampliados ou criados benefícios e programas voltados para saúde, nutrição e bem-estar dos colaboradores, a fim de promover um ambiente saudável.

“A saúde mental de nossos colaboradores já era tratada com muita seriedade antes mesmo da pandemia, mas, posteriormente, passou a ter ainda mais relevância”, afirma Katia Regina, diretora ­Total Rewards da Nestlé Brasil.

A companhia faz parte da iniciativa #MenteEmFoco (promovida pela Rede Brasil do Pacto Global da ONU, pela Sociedade Brasileira de Psicologia e pela assessoria de comunicação InPress Porter ­Novelli), que reúne empresas comprometidas com atitudes concretas para a promoção da saúde mental no ambiente corporativo e no combate ao estigma ao redor do assunto. 

Entre as ações adotadas está a estruturação do home office, que foi implementada com flexibilidade. “Entendemos que hoje a casa virou uma extensão do trabalho. Adotamos um estilo híbrido, com a opção de realizar as atividades de casa ou no escritório”, conta Katia Regina.

Para deixar essa rotina mais leve, a pausa no home office é incentivada e há suporte em diversas frentes, desde a preocupação com a ergonomia até serviços de telemedicina e atendimento psicológico online. Isso garante um acompanhamento individua­lizado e uma rede de apoio permanente, formada por médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e educadores físicos.

Outras boas práticas incluem atendimento virtual por nutricionistas da Nestlé para colaboradores e familiares; estímulo à atividade física com aplicativo próprio e videoaulas; aulas de ioga, meditação, alongamento e respiração; permissão para levar os pets ao escritório em São Paulo, visando motivar a interação; e uma plataforma que conecta as habilidades da vida profissional e os interesses da vida pessoal, para que os colaboradores vivam novas experiências em assuntos que os inspirem.

Até uma websérie foi produzida para ser exibida internamente, sensibilizando para a importância da prevenção de transtornos emocionais. Para situações mais delicadas, são oferecidas sessões guiadas por especialistas em saúde mental, com a consultoria da House of Feelings, cujo principal tema é o acolhimento e a superação do luto. 

Ainda houve a extensão da licença-paternidade, de 20 para 30 dias. “A companhia já oferece licença-maternidade estendida de seis meses e uma licença parental para colaboradores homoafetivos”, complementa a diretora.

Em parceria com o Hospital Albert Einstein, também são desenvolvidos programas para a formação da liderança em saúde mental e inteligência emocional. “É de extrema importância que a liderança esteja próxima de seus times, saiba o que se passa com as pessoas e possa atuar da melhor forma entendendo que cada colaborador é único e enfrenta situações diferentes todos os dias”, afirma.

Esses esforços acabam de render à Nestlé o certificado FEEx — FIA Employee Experience —, prêmio baseado em uma avaliação dos próprios funcionários sobre o clima organizacional.

“Conciliar trabalho e vida pessoal é uma questão fundamental para todos e uma prioridade para a Nestlé, que tem uma preocupação diária em prover uma rotina equilibrada. Nesse contexto, ter um programa de qualidade de vida bem estruturado faz a diferença e eleva o nível de satisfação das pes­soas­, bem como a percepção de todos quanto à importância de hábitos que contribuam para a prevenção de doenças e a promoção da saúde como um todo”, comenta Katia Regina.

Decolar: anywhere office

Encontrar esse balanço entre o lado pes­soal e o profissional também é prioridade na ­Decolar. Flexibilidade é, aliás, o ponto central nas iniciativas relacionadas à qualidade de vida na empresa. Assim como na Nestlé, por lá o modelo de trabalho é híbrido, podendo ser executado remota ou presencialmente. Mas com um sistema totalmente maleável: sem horário fixo e com retorno voluntário. 

“Acreditamos que a flexibilidade é fundamental para que cada colaborador se sinta confortável e encontre o ritmo de trabalho que seja mais produtivo. O principal feedback­ que recebemos da equipe é que isso torna mais fácil conciliar as idas ao escritório com a rotina familiar”, explica Camila Russo, diretora de recursos humanos da Decolar.

E não para por aí. Os funcionários da empresa de viagens têm ainda a opção do anywhere office: podem trabalhar até 90 dias por ano em qualquer lugar do mundo que escolherem.

Os dias podem ser divididos e combinados com férias. Outro benefício que se destaca é a licença remunerada para cuidadores primários e secundários. São garantidos seis meses de licença estendida para os primários — seja a mãe, seja o pai, seja qualquer outra pessoa com a guarda — e um mês para cuidadores secundários.

“A ideia é proporcionar um início de vida saudável aos filhos e colaborar para que aqueles que ingressam no trabalho depois de terem sido pais tenham uma transição bem-sucedida.” 

Parque Ibirapuera, em São Paulo: no Brasil, mais de 90% das pessoas preferem empresas que valorizam a saúde (Cris Faga/Getty Images)

Ainda são promovidas, mensalmente, palestras com temas de saúde e bem-estar e, em breve, a companhia vai implantar a ­Vittude, plataforma online de saúde emocional em que é possível realizar sessões de terapia com preços atraentes.

A diretora de RH acrescenta que, somado aos benefícios e programas, é essencial oferecer oportunidades de desenvolvimento e ter uma boa comunicação com as equipes. Por isso, na Decolar há capacitação constante dos colaboradores e reuniões periódicas de acompanhamento e celebração.

“Bons resultados e produtividade são positivos desde que não repercutam negativamente nas pessoas. Por isso, além do cumprimento dos objetivos, estamos atentos a como os colaboradores se sentem em toda a sua jornada na empresa.” 

Quer atingir a profissão mais valorizada na pandemia? Vire um "dev" com o curso de Data Science e Python da EXAME.

Salesforce: folga é coisa séria

Boas práticas também não faltam na ­Salesforce. A preocupação com a qualidade de vida dos funcionários no gigante de CRM está presente, aliás, desde o modelo de gerenciamento de desempenho, já que saúde mental e bem-estar estão entre os objetivos da companhia. 

Priscila Castanho, diretora sênior de employee success da Salesforce para a América Latina, explica que, além dos benefícios essenciais — como convênio médico, odontológico, seguro de vida —, o programa de bem-estar da Salesforce é dividido em cinco pilares fundamentais. 

Nutrição é um deles e tem foco em levar informação sobre alimentação saudável. Recarga é o segundo, com incentivo para que os colaboradores durmam bem, tirem um tempo de folga e se desconectem.

Em seguida, a frente Movimentação estimula a realização de atividades físicas. O quarto pilar é Superação, que inclui programas de apoio para gerenciamento de estresse. E, por fim, Prosperidade, sobre finanças, para ajudar no planejamento do futuro. No Brasil, há até reembolso mensal de atividades de bem-estar para a família, que abrangem de aluguel de bicicleta a aulas de culinária, dança ou música. “Isso tem um papel importante para estimular esses pilares”, acrescenta Castanho. 

A valorização dos momentos de folga, que são motivados pela Salesforce globalmente, é um diferencial relevante. “Todos nós precisamos de tempo para nos afastarmos do trabalho — seja para simplesmente recarregar energias, seja para aproveitar com nossa família os grandes marcos da vida”, ressalta.

Com essa visão, a empresa oferece folgas flexíveis e voluntárias, bem como licenças adicionais por motivos médicos, momentos de luto e questões pesso­ais­.­ No dia a dia de trabalho, os funcionários são incentivados a priorizar o bem-estar com sextas-feiras sem reuniões ou semanas assíncronas, por exemplo. 

Para medir a qualidade da saúde mental dos colaboradores, Castanho explica que a equipe de employee success realiza a Great Insight Survey duas vezes ao ano. A pesquisa ajuda a entender se — e como — os benefícios estão sendo suficientes, se é preciso um plano de ação e, em casos mais críticos, como tomar decisões em conjunto com os líderes para encontrar uma solução específica para um problema.

Ela assinala, entretanto, que os benefícios fazem parte do plano de cuidar da saúde emocional dos funcionários, mas são apenas uma parte dessa equação.

“Bem-estar também inclui garantir que as pessoas tenham boas experiências, possam realizar um bom trabalho, construam relacionamentos de confiança umas com as outras e encontrem propósito e pertencimento”, afirma a executiva. “Isso passa, necessariamente, pela criação de uma cultura e uma liderança realmente inclusivas, próximas e empáticas”, completa.

SulAmérica: saúde integral

Uma visão holística é compartilhada também pela SulAmérica, que fomenta o princípio da saúde integral, uma proposta em que as dimensões de saúde física, emocional e financeira devem estar em equilíbrio para viver melhor.

“Esse é um conceito proprietário, que é colocado em prática também dentro da companhia”, diz Patrícia Coimbra, vice-presidente de capital humano, marketing e sustentabilidade da SulAmérica.

Ela conta que a concepção foi a base para manter a equipe fortalecida durante a pandemia, por exemplo. Mesmo já tendo a flexibilidade e a tecnologia para que todos aderissem ao home office (desde 2014, 40% dos colaboradores estavam habituados a trabalhar remotamente), foi feita uma série de pesquisas para entender as principais dificuldades e ajustar o necessário, tendo a saúde emocional como prioridade. 

Sessão de exercícios: hoje, o incentivo a esportes é parte da prática de diversas empresas (Ridofranz/Getty Images)

Com essa escuta ativa e uma análise do mercado, a seguradora descobriu que 99% dos colaboradores preferem um modelo híbrido de trabalho pela qualidade de vida. Por isso, hoje, três quartos dos mais de 4.000 colaboradores espalhados pelo país permanecem nesse formato, em caráter definitivo.

“Desenvolvemos diversas ações e melhorias que possibilitam aos nossos colaboradores encontrar esse lugar-comum de suas relações de trabalho e vida pessoal, como o trabalho híbrido e a oportunidade de manter horários flexíveis, alinhados com os gestores diretos, e inúmeros projetos de bem-estar, atendimento nutricional, orientação psicológica”, ressalta Coimbra.

Entre essas iniciativas, os colaboradores contam, por exemplo, com suporte de psicólogos e assistentes sociais, que realizam o trabalho de avaliação e acompanhamento. Além da psicoterapia individual, a atuação também é preventiva, nas áreas em que sejam percebidas demandas específicas no campo da saúde emocional.

Os funcionários têm acesso, ainda, a serviços como o Psicólogo na Tela, que disponibiliza sessões de psicoterapia por vídeo, 24 horas, todos os dias. “Identificamos que eles se sentem acolhidos com as ações. Foi possível, inclusive, perceber e mensurar um aumento na produtividade e no engajamento.”

Patrícia Coimbra lembra que, como seguradora, a essência da SulAmérica é cuidar das pessoas. A saúde mental é um tema tão relevante na companhia que esse é o foco de atua­ção do Instituto SulAmérica, fundado em abril.

A organização sem fins lucrativos tem o propósito de disponibilizar para pessoas em situação de vulnerabilidade social o acesso ao cuidado emocional. “O objetivo é amenizar o preocupante cenário de piora dos indicadores de depressão, ansiedade e outros transtornos no Brasil, que é considerado pela Organização Mundial da Saúde o país mais ansioso do mundo”, explica.

Até o momento, mais de 6.000 consultas gratuitas com médicos e psicólogos foram viabilizadas. Em cinco anos, o compromisso é impactar 150.000 vidas.


 

(Publicidade/Exame)

Acompanhe tudo sobre:exame-ceo

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda