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Da Redação
Publicado em 31 de maio de 2013 às 19h21.
Que o sudeste da Ásia vem conseguindo bons resultados econômicos nas últimas décadas não é nenhuma novidade. Tampouco que Singapura se destaca como um grande centro financeiro da região. Mas atingir números de crescimento de PIB muito superiores a qualquer um dos países do Bric - o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China - é de inspirar respeito em qualquer economista. E foi o que fez a ilha de Singapura na primeira metade de 2010. Nos três primeiros meses do ano, Singapura atingiu um crescimento anualizado de 16,9%, e mais 18,8% nos meses subsequentes. A ilha tem menos da metade do tamanho da cidade de São Paulo e conta com uma população que não chega a 5 milhões de habitantes. Seu mercado interno é, portanto, muito pequeno. Mas são as exportações de Singapura - o país tem o porto de carga mais movimentado do planeta (um quinto dos contêineres do mundo passa por lá anualmente) - que contam a história de seu crescimento neste ano. Com um quarto da economia dependente da manufatura de eletrônicos e outros 70% ligados aos serviços financeiros, Singapura foi duramente afetada pela crise mundial. Mas a retomada deste ano tem surpreendido até os mais otimistas.
Enquanto o mundo desenvolvido busca formas de reavivar sua economia por meio de grandes investimentos de infraestrutura (como os pacotes americano e chinês), Singapura buscou um caminho diferente. "O governo singapuriano deu incentivos fiscais para sua força de trabalho estudar e suas empresas investirem em tecnologia", diz Irvin Seah, vice-presidente do DBS, o maior banco do Sudeste Asiático. "Quando o mundo voltou da crise, o país estava ainda mais preparado para aproveitar o bom momento." O fato de haver poucos entraves burocráticos para os empreendedores também ajudou: enquanto a entrada de capitais caiu 5% em Luxemburgo e 1% na Suíça, centros financeiros no coração da Europa, os investimentos em Singapura cresceram 7% em 2009. O inglês como língua corrente e um sistema legal herdado dos colonizadores ingleses deixam os ocidentais muito mais à vontade do que seus vizinhos.
Mas essas não são as únicas explicações para o melhor semestre do país desde que o crescimento do PIB nacional passou a ser calculado, em 1975. Nos últimos anos, Singapura tem feito um grande esforço para diversificar sua economia. Começou pela indústria farmacêutica, há cerca de 15 anos. Singapura lidera os rankings de proteção à propriedade intelectual e abertura ao comércio internacional divulgados pelo Fórum Econômico Mundial.
Essas garantias, somadas aos incentivos fiscais, à mão de obra qualificada e à infraestrutura de exportação, atraíram empresas do porte de Bayer, Boehringer- Ingelheim, GlaxoSmithKline, Merck Sharp & Dohme e Roche, entre outras. A demanda por remédios em emergentes como China e Índia também empurra adiante a indústria farmacêutica de Singapura, que já responde por cerca de 5% do PIB nacional. O turismo cresceu em importância. Em 2005, o governo afrouxou a legislação sobre os jogos. Desde então, o fluxo de turistas cresceu em 30%, segundo o governo local, e a cada mês é comemorado um novo recorde.
A preocupação, agora, é com os efeitos do recente superaquecimento da economia. O enorme crescimento, logo na sequência de um 2009 com queda de 2,1% no PIB, começa a pressionar os preços. A Autoridade Monetária de Singapura (equivalente ao banco central) lançou mão de um pacote de medidas em abril para segurar a inflação, principalmente pela apreciação da moeda local, o dólar de Singapura. Os observadores internacionais estão otimistas. "Singapura vive um momento mágico. Tudo estava dando errado nos últimos dois anos, mas de repente tudo passou a dar certo: o turismo, a indústria, o setor financeiro... e nada indica que vá piorar nos próximos anos", diz Arpitha Bykere, analista sênior da consultoria americana Roubini Global. Para Singapura, afinal, parece ter valido a pena ter resistido às tentações dos momentos de crise.
A gêmea rival
Diante do sucesso econômico de Singapura, a Malásia constrói uma cidade para concorrer com a vizinha
Diz um ditado em inglês que a cópia é a forma mais sincera de elogio. Singapura, então, pode se considerar lisonjeada. Em 2006, o governo da vizinha Malásia resolveu erguer uma cidade na região de Iskandar, separada de Singapura apenas por uma estreita faixa de mar. Talvez a palavra mais adequada seja metrópole: a nova Iskandar terá 2 217 quilômetros quadrados, o dobro da área de Nova York. O objetivo do governo malaio é dar opções aos investidores que querem diversificar seu portfólio no Sudeste Asiático e procuram evitar a imprevisível legislação chinesa que regula os negócios em Hong Kong.
A construção da cidade começou justamente pelo distrito financeiro, chamado Nusajaya, em uma área de 4 000 metros quadrados onde antes havia uma plantação de dendê. Mas a Malásia sabe que, para atrair bancos e fundos, é preciso oferecer qualidade de vida para os estrangeiros se sentirem tentados a se mudar para a região. Por isso foi criado um comitê especial de "limpeza e embelezamento" da região. Também foi feito um investimento de 214 milhões de dólares na construção, prevista para ser concluída em 2012, de um parque temático de Lego (a Legoland). Preocupados em atrair jovens do mundo inteiro e oferecer mão de obra qualificada, também está sendo levantada a "Edu-city", um complexo de 1 milhão de metros quadrados preparado para receber vários campi universitários. A faculdade de medicina inglesa de Newcastle se comprometeu a investir 180 milhões de dólares em suas instalações.
O projeto todo está orçado em 100 bilhões de dólares, e a previsão é que seja finalizado em 2025. Até agora, 20 bilhões já foram levantados. Apenas 10% vêm do governo. O restante será dividido entre investidores malaios e estrangeiros. O maior investidor individual foi a espanhola Acerinox, que colocou 1,3 bilhão de dólares para instalar uma siderúrgica na região. Mas a crise freou os planos, e a estratégia malaia para atrair investimentos mudou um pouco. "Tínhamos muitas conversas encaminhadas para trazer grandes nomes do mercado financeiro, mas alguns deles nem existem mais, por isso estamos buscando empresas da cha mada economia real", diz Arlida Ariff, diretora da Iskandar Investment, agência responsável por atrair financiamento. Não que isso seja um problema. Se até 2008 os principais países interessados em Iskandar eram do Oriente Médio, Índia e China já os ultrapassaram em busca de espaço e mão de obra qualificada para instalar empresas de tecnologia e multimídia.