Revista Exame

MM 24: empresas listadas na premiação têm desempenho melhor que o PIB

As companhias listadas no ranking Exame Melhores e Maiores 2024 faturaram 8,28 trilhões de reais em 2023, 5,51% a mais do que em 2022 

São Paulo é o estado mais representado no ranking:  com 511 empresas listadas, é seguido do Rio de Janeiro, com 132 (Leandro Fonseca/Exame)

São Paulo é o estado mais representado no ranking: com 511 empresas listadas, é seguido do Rio de Janeiro, com 132 (Leandro Fonseca/Exame)

Marcus Lopes
Marcus Lopes

Jornalista colaborador

Publicado em 17 de setembro de 2024 às 20h55.

Última atualização em 17 de setembro de 2024 às 21h00.

Após a travessia por mares extremamente agitados durante longos períodos, como a pandemia de covid-19, os ventos sopraram mais calmos e a economia brasileira viveu uma fase de relativa calma e estabilidade em 2023. Além de o crescimento do produto interno bruto (PIB) ter se mantido estável em relação ao ano anterior, eventos importantes, como a aprovação da reforma tributária pelo Congresso Nacional e a volta do país ao posto de nona economia mundial, dispersaram as nuvens e abriram perspectivas positivas no horizonte econômico.

O setor privado brasileiro também encontrou bons motivos para celebrar o ano de 2023. As 1.000 empresas listadas no Ranking EXAME MELHORES E MAIORES 2024 registraram, no conjunto, 8,28 trilhões de reais em receita líquida no ano passado, o que representa crescimento de 5,51% em comparação a 2022, quando a soma da receita das empresas publicadas foi de 7,85 trilhões de reais, considerando uma mudança de 15% nas empresas listadas entre um ano e outro. Para efeitos de comparação, o crescimento do PIB brasileiro no mesmo período foi menor, de 2,9%, e fechou o ano em 10,9 trilhões de reais.

“As empresas registradas no Ranking MELHORES E ­MAIORES 2024 apresentaram um desempenho melhor do que a economia brasileira como um todo, o que pode mostrar que o ano de 2023 beneficiou as grandes empresas do país”, diz Samuel Barros, reitor do Ibmec no Rio de Janeiro. O crescimento, destaca Barros, ocorreu em meio a um cenário macroeconômico ainda desafiador, como a taxa básica de juro, que encerrou 2023 em 11,75%.

Saneamento e Meio Ambiente: um dos setores com crescimento de receitas acima de 10% no período (Aegea/Divulgação)

O professor da FIA ­Business School Carlos Honorato também aponta questões no cenário macroecônico. “Em 2023, as taxas de juro mais altas limitaram o acesso ao crédito e frearam investimentos, especialmente em setores que dependem fortemente de financiamento. Por outro lado, empresas voltadas para o mercado externo foram beneficiadas pela desvalorização do real, que aumentou a competitividade das exportações”, afirma Honorato.

A lista deste ano analisou um total de 1.287 empresas, das quais 1.000 foram classificadas para o ranking. Dos 22 setores analisados, seis apresentaram crescimento de receitas superior a 10% no período abordado, como Transporte, Logística e Serviços Logísticos; Educação; e Saneamento e Meio Ambiente.

No cômputo geral das 1.000 maiores empresas, além dos 5,51% de melhoria nas receitas líquidas, foram observados aumentos de 9,23% nos ativos das empresas listadas e de 7,77% nos patrimônios líquidos delas. O setor com maior número de representantes no ranking é o de Energia, com 113 companhias avaliadas, seguido pelo de Bancos, com 105 instituições. O menor setor é o de Educação, com 13 empresas. Na média, foram 45 companhias por setor.

Destaques setoriais

Com 1,61 trilhão de reais de receita líquida total registrada no ano passado, o setor de Energia permanece como grande destaque. Além da maior receita somada entre todas as modalidades avaliadas, o segmento integra a lista dos dez setores com maior crescimento do lucro líquido no ano passado, em relação ao ano anterior: 16,93%. Empresas do segmento energético, como a Raízen Combustíveis e o Grupo Raízen, estão entre as seis mais bem posicionadas no ranking geral de EXAME MELHORES E MAIORES 2024.

Em cifras, a margem líquida das companhias de energia registrada no ano passado — 101,1 bilhões de reais — também foi muito positiva e perde apenas para as margens líquidas registradas pelos Bancos e companhias de Petróleo e Químico: 163,80 bilhões de reais e 138,97 bilhões de reais, respectivamente. Embora ostentem cifras numericamente superiores, o desempenho percentual do lucro líquido dos Bancos foi bem mais tímido do que o registrado no setor de Energia. As instituições bancárias tiveram uma redução de 0,27% nas margens líquidas entre 2022 e 2023.

O setor energético no Brasil é beneficiado pelas características naturais que favorecem a adoção de energias renováveis. Com abundância de recursos hídricos, luz solar e ventos, as fontes limpas, incluindo o etanol, respondem por mais de 80% da energia produzida no país. Para efeito de comparação, a média de utilização de fontes sustentáveis em outros países é de 30%.

Nos últimos anos, as fontes solares e eólicas ganharam destaque cada vez maior. Em relação à solar, por exemplo, a potência atual instalada de geração fotovoltaica no país é de 41 gigawatts (GW) — 17,4% de toda a matriz energética brasileira. A marca equivale a quase três vezes a capacidade de produção da usina de Itaipu, cuja potência é de 14 GW.

Setor de Energia: com o maior número de representantes no ranking, 113 empresas foram listadas, entre elas a Engie (iStockphoto/Getty Images)

Outros setores analisados pelo Ranking EXAME MELHORES E MAIORES 2024, como Imobiliário e Construção Civil, Farmacêutico e Beleza e Seguradoras, apresentaram bom desempenho em relação à margem líquida. No caso das Seguradoras, a margem líquida registrada foi de 36,5 bilhões de reais no total, 72,09% mais em relação ao período anterior. “O brasileiro está aprendendo a utilizar cada vez mais os seguros, a se prevenir. Consequentemente, isso aumenta a quantidade de ofertas e proporciona o crescimento do setor”, diz Barros.

Considerado um dos principais motores da economia brasileira, o segmento de Agronegócio sofreu queda na receita e no lucro líquido no ano passado. Em 2023, a receita das 56 empresas agropecuárias classificadas somou 434,7 bilhões de reais, queda de 2,3% em relação ao ranking de 2022 (444 bilhões de reais). O lucro líquido também­ registrou queda de 7,02% em 2023, em relação a 2022, e fechou o ano em 14,4 bilhões de reais. Por outro lado, o patrimônio líquido das empresas agropecuárias registrou crescimento de 10,5% em 2023, em comparação ao período anterior.

A queda na receita não representa perda da força econômica produzida no campo. “O agronegócio registrou crescimento muito grande em 2022. Para 2023, era natural que houvesse uma estabilização ou até uma pequena queda, que foi o que aconteceu”, explica Barros. O reitor do Ibmec ressalta que o agronegócio é um setor muito relevante para a economia nacional, mas também está sujeito a oscilações que não dependem do empresário em si. “Oscilações no dólar e questões climáticas acabam influenciando os resultados no setor como um todo”, diz.

No caso de Transporte, Logística e Serviços Logísticos, porém, o crescimento das receitas não se traduziu em resultados nas margens líquidas, que apontaram redução de 391% entre 2022 e 2023. A margem líquida é como um termômetro que mostra a saúde financeira de uma empresa. Ela indica qual foi o lucro real da corporação depois de pagar todos os seus custos, como aluguel, folha de pagamentos, impostos, insumos etc.

Os preços dos combustíveis contribuíram para os resultados negativos em Transporte, Logística e Serviços logísticos. “A alta no custo dos combustíveis provocou efeito direto nesse setor, que apresentou os piores resultados em diversas análises”, diz Barros. Os desafios do segmento também incluem, segundo ele, a questão da armazenagem e do transporte de produtos, especialmente no setor agropecuário, cuja produção cresce mais rápido do que a capacidade de estocagem dos silos e armazéns.

As Operadoras de Planos de Saúde, por sua vez, apresentaram pior desempenho no ano passado em relação ao crescimento do lucro líquido. De acordo com o levantamento da ­EXAME MELHORES E MAIORES 2024, os planos de saúde apresentaram margem líquida negativa de 961,3 milhões de reais, equivalente a 191,1% a menos do que o registrado no ano anterior.

No caso das empresas de saúde, diz Barros, o impacto negativo na margem líquida ocorreu por causa dos reajustes aplicados pelas operadoras aos beneficiários dos planos, que foi inferior à necessidade de equilíbrio das contas das operadoras. “Mas é uma área que hoje encontra dificuldades para repassar ao cliente final os custos e a inflação médica, que tem um comportamento mais agressivo do que a inflação econômica geral”, pondera.

A Porto está entre as seguradoras em destaque: setor teve margem líquida de 36,5 bilhões de reais em 2023 (Porto Seguro/Divulgação)

Distribuição regional

São Paulo é o estado mais representado no Ranking EXAME MELHORES E MAIORES 2024, com 511 empresas listadas, seguido do Rio de Janeiro, com 132. “São Paulo continua sendo o grande motor propulsor da economia brasileira. Isso fica demonstrado na lista deste ano. Mais da metade das empresas tem suas sedes no estado”, diz Barros, que também destaca o crescimento das receitas e dos lucros das empresas localizadas em estados das regiões Norte e Nordeste. Entre as maiores empresas do país por lá estão a Suzano, de Salvador, Hapvida, de Fortaleza, e Grupo Mateus, de São Luís.

O Amazonas observou crescimento de 45% em receitas. Esse índice foi de 22% no Maranhão. Estados como o Pará experimentaram aumento nas margens líquidas médias. “Os valores absolutos de receitas desses estados são pequenos quando comparados a São Paulo, mas mostram forças regionais”, diz.




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