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Depois da Fogo de Chão, os Coser voltam aos restaurantes

Três anos depois de ganhar uma fortuna com a venda da rede de churrascarias Fogo de Chão, os irmãos gaúchos Arri e Jair Coser voltaram a investir em restaurantes, com volúpia incomum — mas agora é cada um por si

Arri Coser, na NB Steak: já trabalhava separado do irmão na Fogo de Chão
 (Germano Lüders/EXAME)

Arri Coser, na NB Steak: já trabalhava separado do irmão na Fogo de Chão (Germano Lüders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 11 de julho de 2014 às 07h00.

São Paulo - Os irmãos gaúchos ­Arri e Jair Coser fizeram fortuna com o churrasco. Eles começaram a carreira lavando pratos em 1975. Em 1981, compraram a primeira churrascaria, batizada de Fogo de Chão, em Porto Alegre, e introduziram uma forma inovadora de servir as carnes — o espeto corrido, como era chamado na época o rodízio que se universalizou nas décadas seguintes.

Cinco anos depois, chegaram a São Paulo. Em 1996, os irmãos decidiram conquistar o exterior. Jair se mudou para Dallas na tentativa de repetir o sucesso nos Estados Unidos — e conseguiu. Em 2011, a Fogo de Chão chegou a 23 churrascarias, sete no Brasil e 16 nos Estados Unidos.

Havia planos para chegar a novas cidades, para ir a outros países e para abrir o capital. Mas, em 2011, os Coser decidiram aceitar uma oferta do fundo de private equity GP Investimentos e vender sua empresa por cerca de 300 milhões de dólares.

Juntos, eles haviam feito o maior negócio da história do setor no Brasil — superado em agosto do ano seguinte, quando o GP vendeu a Fogo de Chão para o fundo americano de private equity THL por 400 milhões de dólares. Hoje, os multimilionários irmãos Coser estão voltando a investir em restaurantes. Mas em lados separados. 

Nos últimos dois anos, os Coser abriram ou compraram mais restaurantes do que em toda a vida. São, no total, 35 unidades. Em 2013, Arri virou sócio de sua irmã Mairi na rede de churrascarias NB Steak, que tinha duas unidades em Porto Alegre.

Desde então abriu mais um restaurante no Sul e três em São Paulo. Eles têm decoração similar à da Fogo de Chão — luz baixa, adega, salas para almoços de negócios. Arri também tem cerca de 80% das ações da MDPZ Participações, dona da rede de pizzarias Maremonti, com sete unidades no estado de São Paulo.

Jair adquiriu, em maio, 60% de participação na rede de restaurantes Corrientes 348, especializada em cortes argentinos e que tem três unidades em São Paulo, uma em Curitiba, uma em Brasília e uma recém-inaugurada no Rio de Janeiro.

Ele também é sócio do fundo de investimento JMGEP, dono da rede de restaurantes mexicanos Si Señor, com 17 unidades em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. 

As estratégias são parecidas, mas os Coser fazem questão de frisar que não têm mais negócios em conjunto. Não toparam sequer posar juntos para as fotos desta reportagem. Para quem os conhece, a separação não é uma surpresa. Os dois têm estilos diferentes. Arri é mais expansivo, Jair é mais reservado.

Desde que a Fogo de Chão ganhou o segundo restaurante, ainda nos anos 80, cada irmão seguiu seu caminho. “Ficou uma loja para cada um, depois um estado para cada um e depois um país para cada um”, diz Arri. Enquanto ele coordenava a operação no Brasil, Jair se dedicou 15 anos a expandir a rede nos Estados Unidos. Encontravam-se uma vez por mês.

Mesmo a distância, apimentavam uma competição velada por quem conseguia os melhores resultados. “A equipe brasileira queria sempre ficar à frente da americana, e vice-versa”, diz um executivo que ainda está na Fogo de Chão. “Eu brincava dizendo que um dia a gente teria de se separar”, diz Arri. A oferta da GP só acelerou as coisas. 

Os dois irmãos levaram para seus novos negócios a filosofia de trabalho que fez a fama da Fogo de Chão. Num setor conhecido pela alta rotatividade de funcionários, Arri e Jair mantinham os garçons por anos a fio. Todos os restaurantes da Fogo de Chão nos Estados Unidos, por exemplo, são comandados por brasileiros que começaram servindo linguiça e coração de frango.

Jandir Dalberto, atual presidente da Fogo de Chão no Brasil, começou como garçom na rede, há 20 anos. Muitos desses antigos garçons e gerentes foram recrutados pelos Coser para os novos empreendimentos. A preocupação com o serviço já permitiu que, em apenas 40 dias, Jair aumentasse 25% o faturamento da Corrientes 348 ao cobrar agilidade no atendimento das mesas e no fechamento de contas.

Assim, os clientes ficam menos tempo no restaurante, e mais pessoas podem ser atendidas. Em sete meses, seu irmão Arri tirou a rede de pizzarias Maremonti do vermelho.

Concorrência 

Para quem vê de fora, a situação é curiosa: os irmãos competem não só entre si mas com a empresa que comandaram por décadas. Isso só é possível porque, na negociação de venda da Fogo de Chão, eles exigiram não assinar nenhuma espécie de quarentena.

Queriam poder voltar a investir em restaurantes no dia seguinte. Essa exigência fez deles uma exceção. Segundo uma pesquisa da consultoria EY, só 15% dos 158 empresários que embolsaram mais de 100 milhões de dólares ao vender seus negócios nos últimos cinco anos no Brasil voltaram a investir no setor em que atuavam.

É o caso de Gerson Lucena, que vendeu a fabricante de massas e biscoitos Vitarella para a M. Dias Branco por 600 milhões de ­reais em 2008 e, neste ano, abriu uma empresa para competir com os compra­dores.

Outro exemplo é Omilton Visconde Júnior, que abriu — e vendeu — três farmacêuticas, entre elas a Segmenta e a Biossintética. Arri e Jair também querem seguir a rotina de abrir e vender restaurantes. Em maio, Arri vendeu sua participação na Hamburgueria Nacional, em São Paulo.

Em vez de 30 anos, ficou dez meses no negócio. Após décadas na frente da churrasqueira, os Coser descobriram que há formas mais rápidas de ganhar dinheiro. E um quer ganhar mais rápido do que o outro.

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