Revista Exame

COP30: o mundo chega à floresta

O Brasil se prepara para sediar a maior conferência climática do planeta, em meio a desafios locais e busca por protagonismo global

A cidade de Belém, que será o palco da COP30: o encontro mundial sobre a urgência das mudanças climáticas e o impacto ambiental acontece pela primeira vez no Brasil (Leandro Fonseca/Exame)

A cidade de Belém, que será o palco da COP30: o encontro mundial sobre a urgência das mudanças climáticas e o impacto ambiental acontece pela primeira vez no Brasil (Leandro Fonseca/Exame)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 06h00.

Quando as delegações de quase 200 países desembarcarem na COP30 em Belém, no Pará, em novembro, encontrarão uma cidade que respira a urgência do desafio climático. Pela primeira vez, o maior encontro ambiental do planeta acontecerá no Brasil, mais precisamente no coração da Amazônia, testando tanto a capacidade organizacional do país quanto seu papel de liderança global em um momento crucial.

Em conversa com a EXAME durante a COP29, no Azerbaijão, Helder Barbalho, governador do estado anfitrião, afirmou que a expectativa é de que a “Conferência da Floresta” — alcunha que tem sido usada para se referir à edição brasileira — seja palco de uma grande virada de chave, que inclui revisitar metas do Acordo de Paris, oportunidade­ de financiamentos e redução de emissões, com soluções que têm a natureza como base.

Semanas mais tarde, porém, com a Conferência já encerrada e maior clareza sobre a herança a ser resolvida na COP seguinte, Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, adotou tom mais cauteloso. “Teremos o grande desafio de colocar os acordos em prática”, alertou em um evento no Rio de Janeiro, enfatizando que o encontro precisará transcender declarações e resultar em acordos mais efetivos e urgentes.

Herança do Cáspio para águas amazônicas

Do legado azerbaijano, especialistas destacam quatro temas prioritários: a eliminação gradual dos combustíveis fósseis — pauta que nem sequer entrou efetivamente na discussão anterior, muito em função da dependência petrolífera do Azerbaijão —, o avanço do balanço global, a implementação dos fundos para perdas e danos, e o objetivo global de adaptação. Soma-se ainda ao roteiro o necessário debate para mobilização do 1,3 trilhão de dólares previsto no acordo final de Baku para financiamento climático.

No âmbito da adaptação e perdas e danos, o panorama é particularmente preocupante. De sete itens originais da COP29, apenas o Objetivo Global de Adaptação permaneceu na agenda. E o Brasil, com seu Plano Nacional em atualização contemplando 16 setores, surge como mediador natural entre economias desenvolvidas e emergentes nessa questão.

Com a transição justa seguindo sem resolução em Baku, debates que transitam entre mudanças energéticas e transformações sistêmicas mais amplas, alinhados ao plano de transformação ecológica do governo federal, podem encontrar na Amazônia o cenário ideal para avanços significativos. Mas também aumentam o leque das apostas em resoluções que serão cobradas na COP30.

Entre rios e marés, à espera de um Líder

Enquanto as pautas se definem, a escolha da presidência da Conferência brasileira permanece em aberto, causando inquietação pelo injustificado atraso na definição. Além de Marina Silva, que entrou no páreo mais recentemente, são cotados André Corrêa do Lago, atual embaixador do Brasil na China, Ana Toni, secretária nacional de Mudança do Clima, e o vice-presidente Geraldo Alckmin — todos presentes na delegação que representou o Brasil no Azerbaijão.

Com 2,5 milhões de habitantes, a cidade já se prepara para receber 60.000 participantes. O sucesso do evento dependerá muito da capacidade diplomática de quem assumir a presidência, assim como da superação dos desafios logísticos substanciais que Belém enfrenta. É consenso que o cenário amazônico proporciona uma oportunidade única de aproximar negociações globais e realidades locais, aprofundando a compreensão sobre territórios vulneráveis às mudanças climáticas. Uma perspectiva que pode transformar a abordagem internacional sobre proteção florestal e comunidades tradicionais, e repensar modelos de desenvolvimento e estratégias ambientais.

Contudo, a capital paraense tem vivenciado, historicamente, os impactos da emergência climática em seu cotidiano, que resultaram em períodos de seca extrema alternados com chuvas intensas no passado recente.

Escolha política versus desafios climáticos

A escolha de Belém, em detrimento de Manaus, que tem melhor infraestrutura, refletiu uma decisão política do presidente Lula, considerando o alinhamento do governador do Amazonas com Bolsonaro. Contudo, as alternativas propostas para equalizar problemas como o de hospedagem, incluindo o uso de navios de cruzeiro, estão diretamente sujeitas a variáveis climáticas. As secas nos rios da região, por exemplo, podem inviabilizar essa solução.

Até novembro de 2025, há ainda marcos internacionais cruciais que influenciarão no êxito da COP30, com destaque para as negociações das partes na Conferência sobre Mudança Climática de Bonn (SB60), realizada anualmente na Alemanha. Prevista para junho, será o principal encontro técnico que precederá Belém, e determinará grande parte da pauta e dos possíveis acordos em território amazônico, já endereçando algumas questões pendentes de Baku.

O sucesso da cúpula, portanto, começa a ser desenhado meses antes, dependendo tanto da capacidade brasileira de mediar consensos sobre temas essenciais para o futuro climático global quanto dos avanços obtidos nesta etapa preliminar, fundamentais para transformar a “Conferência da Floresta” em um momento decisivo para a ação climática mundial.

Lia Rizzo

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