Revista Exame

Algar cresce na pandemia com maior demanda por internet

A operadora Algar Telecom consolida sua posição após um forte crescimento

Centro de operações da Algar Telecom: a pandemia elevou o tráfego de dados em até 40% nos últimos meses (Divulgação/Divulgação)

Centro de operações da Algar Telecom: a pandemia elevou o tráfego de dados em até 40% nos últimos meses (Divulgação/Divulgação)

DG

Denyse Godoy

Publicado em 19 de novembro de 2020 às 05h35.

A popularização da internet como mídia de massa não tem nem 20 anos e a disseminação dos smartphones conta pouco mais de uma década. Porém, mesmo antes de o novo coronavírus aparecer, já não conseguíamos entender como a humanidade vivia sem essas ferramentas.

Com o surto de infecção pelo coronavírus, maior crise desde a Segunda Guerra Mundial, as telecomunicações definitivamente entraram na lista dos serviços essenciais da vida moderna. No momento mais grave da pandemia até agora, permitiram que parte significativa da economia seguisse rodando e continuam possibilitando o intercâmbio internacional de conhecimento dos cientistas empenhados em encontrar formas de prevenção e tratamento para a doença, além de nos manter próximos de amigos e familiares enquanto obedecemos ao ainda necessário distanciamento social.

Talvez o imigrante português Alexandrino Garcia nem sequer imaginasse o grau de sofisticação a que a tecnologia chegaria quando, em 1954, comprou uma pequena companhia telefônica no Triângulo Mineiro para ajudar a fomentar os negócios dos membros da Associação Comercial e Industrial de Uberlândia, que liderava. Mas, neste caótico 2020, seus herdeiros tiveram a exata medida da importância dos avançados serviços prestados pela operadora fundada pelo empresário com o nome de Companhia de Telecomunicações do Brasil Central (CTBC) e rebatizada em 2009 com as sílabas iniciais de seu nome: Algar Telecom.

“Estamos muito felizes em levar às empresas e à casa de nossos clientes a internet, que é o canal da grande revolução de nosso tempo: a digitalização”, diz Luiz Alexandre Garcia, neto de Alexandrino e presidente do conselho de administração da operadora. “Somos três gerações de uma família trabalhando e dedicando a vida para construir a melhor empresa do Brasil.”

Alexandrino Garcia, fundador da Algar Telecom, em foto dos anos 1960: cuidado com a qualidade do serviço e do atendimento (Divulgação/Divulgação)

Esse esforço está sendo reconhecido por MELHORES E MAIORES. A Algar Telecom foi escolhida a Empresa do Ano desta edição ao cabo da construção de uma estratégia que lhe permitiu atender com rapidez e eficiência ao súbito aumento, neste ano, da demanda por serviços de telecomunicações ­— principalmente de dados.

Quinta maior do setor, a operadora mineira é uma das subsidiárias do Grupo Algar, que nasceu no ramo de beneficiamento de arroz, em 1930, e hoje atua nos setores agropecuário, de tecnologia e entretenimento. A unidade de telecomunicações serve, atualmente, cerca de 370 municípios nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia, Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Norte, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além do Distrito Federal.

Sua controladora, a família Garcia, tem como sócio o Fundo Soberano de Singapura (GIC), que comprou uma fatia de 25% da empresa em 2018. No ano passado, período considerado na elaboração do ranking do especial da EXAME, a Algar Telecom viu sua receita aumentar 6% na comparação com 2018, para 342,4 milhões de dólares, e o lucro subir 14%, para 78,1 milhões de dólares, com margem de vendas de 22,8%. A maior parte desses ganhos é proveniente do serviço de dados, ainda mais requisitado em 2020.

(Arte/Exame)

Na pandemia, muitas empresas precisaram reforçar sua estrutura de internet para continuar funcionando e até mesmo lançar produtos e serviços digitais em substituição a seu portfólio do “velho normal”. “Ajudamos nossos clientes empresariais a crescer e a capturar novas oportunidades. O tráfego de dados em nossa rede subiu entre 30% e 40% nos últimos meses”, diz Jean Carlos Borges, presidente da Algar Telecom.

Os trabalhadores que puderam adotar o home office e os estudantes que passaram a ter aulas remotas também se viram diante da necessidade de contratar uma internet mais rápida para permanecer conectados. Assim, o faturamento da operadora com o serviço de dados para empresas subiu 7,2% nos nove primeiros meses deste ano em comparação com o mesmo intervalo de 2019, para 649,4 milhões de reais.­

A receita do mesmo serviço para o consumidor, tanto fixo quanto móvel, avançou 16,6%, para 335,5 milhões de reais. O acelerado crescimento do serviço de dados tem sido possível por causa de uma tática que a Algar Telecom começou a usar há cerca de quatro anos. Lançou um projeto de franquias a fim de atrair pequenos empreendedores com disponibilidade de recursos para investir na expansão da rede de fibra óptica. A operadora entra com a marca e o suporte técnico tanto para a tecnologia quanto para a gestão do negócio. Ao longo dos anos, vai pagando o franqueado pelo aporte inicial na rede até se tornar dona da estrutura. O parceiro faz a instalação e a manutenção do serviço para o cliente.

No serviço de dados, a elevação da demanda alimenta a ampliação da rede, e a ampliação da rede atrai mais clientes. Em 2019, com investimentos de 754,6 milhões de reais, a Algar Telecom adicionou 16.800 quilômetros de fibra óptica à sua rede, que alcançou 77.900 quilômetros. Usando cada vez mais as ferramentas de voz, mensagens e vídeo pela internet, esses clientes empresariais ou residenciais e móveis têm abandonado a telefonia tradicional.

O número de acessos da Algar Telecom na telefonia fixa caiu 5,4% entre o terceiro trimestre de 2019 e o mesmo intervalo deste ano, para 675.000. Na telefonia celular, a queda foi de 2,3%, para 1,24 milhão. Mas a composição da base da Algar Telecom nesse serviço ficou mais saudável e lucrativa, com elevação de 5% nos celulares pós-pagos e redução de 8% nos pré-pagos.

A operadora mudou neste ano também seu serviço de TV. Deixou de oferecer os produtos das tecnologias via satélite e cabo para concentrar recursos e energia na IPTV (internet protocol television), a TV pela internet de banda larga. Hoje, os 8.000 clientes de TV da Algar Telecom usam a IPTV. Com todos esses ajustes, a companhia tem condições de acelerar o crescimento e ganhar mais quando a economia brasileira voltar a avançar.

(Arte/Exame)

Não consta do plano de expansão da empresa no médio prazo estender as fronteiras para outros estados. O foco é conquistar novos clientes nas regiões em que a Algar Telecom já atua, aproveitando a infraes­trutura construída, o que aumentaria a taxa de retorno sobre seus ativos. A operadora pretende também participar do leilão das faixas de espectro que serão usadas para implementar o 5G no país, mas dá sinas de que não aceita pagar qualquer preço.

“Defendemos um leilão com viés de infraes­trutura e não arrecadatório, principalmente neste momento de retomada econômica”, diz Borges. “O lançamento de uma rede 5G exige alto volume de investimento por parte das operadoras.” Essa tecnologia é apenas um dos campos de batalha para as empresas.

A venda da unidade de telefonia móvel da Oi, operadora que nasceu para ser uma “campeã nacional” mas acabou protagonista da maior recuperação judicial da história no país, pode acirrar a concorrência. Nas localidades em que opera, a Algar Telecom já precisa brigar com suas grandes rivais — Vivo, Claro e TIM.

Para tirar assinantes dos gigantes nacionais e das operadoras pequenas que disponibilizam internet via rádio no interior do país ou conectar quem ainda não tem banda larga na empresa ou na casa, um dos trunfos da companhia mineira é a qualidade de atendimento.

Na mais recente edição da Pesquisa de Satisfação e Qualidade Percebida da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), de 2019, seu serviço de banda larga fixa ganhou nota de satisfação geral 6,86 (de um máximo de 10), à frente das maiores concorrentes, exceto a TIM. Sua nota de canais de atendimento foi 7,65, a mais elevada entre as cinco grandes operadoras.

No site Reclame Aqui, tem um índice de 92,4% de problemas resolvidos e nota 8,7 (de 10) do consumidor, enquanto as rivais ignoram completamente a plataforma. Antes de existir qualquer indicador de satisfação do cliente, entretanto, a aprovação à Algar Telecom já era bastante eloquente: livrou-a de ser estatizada na década de 1970, quando a ditadura militar tomou o controle das companhias telefônicas regionais e as reuniu na Telebras.

Ao ouvir rumores de que os serviços das empresas de outros estados que passaram para as mãos do governo federal haviam decaído e sabendo que a ameaça de estatização pairava também sobre a Algar Telecom, um grupo de empresários e políticos de Uberlândia e cidades próximas foi até Brasília para pedir ao Congresso Nacional que impedisse uma medida desse tipo. Conseguiu.

Loja da Oi: o mercado brasileiro está à beira de uma grande transformação com a venda do negócio de telefonia móvel da operadora que nasceu para ser uma ”campeã nacional“ (Dado Galdieri/Bloomberg/Getty Images)

A aprovação vem passando de pai para filho enquanto o Grupo Algar tenta manter a cultura familiar nas subsidiárias. Seguindo o costume instituído por Alexandrino, os cerca de 4.500 funcionários da Algar Telecom são chamados de “associados” para salientar sua importância para o sucesso da empresa.

“Funcionário bom é o que se sente dono”, diz Borges. A gestão é profissionalizada, e os Garcia cuidam do planejamento estratégico. Além de Luiz Alexandre, estão no conselho de administração da operadora de telecomunicações seu pai, Luiz Alberto — que liderou o Grupo Algar de 1977 a 1989 e atualmente é presidente de honra do conselho de administração —, e sua prima Eliane Garcia Melgaço — vice-presidente de recursos humanos do conglomerado.

A família tem uma Constituição e um conselho para gerenciar os interesses dos descendentes do fundador, garantindo que não se misturem com os da empresa. Programas educacionais treinam os herdeiros que pretendem entrar nos negócios. “Desde 1989, estabelecemos normas de governança corporativa e familiar. A quarta geração e a quinta estão sendo preparadas para assumir posições no grupo se tiverem vontade e competência para tanto”, diz Luiz Alexandre. “Acreditamos que o acionista de referência agregue muito valor às organizações porque preserva o legado de princípios com uma visão de longo prazo.”

Em um setor que demanda inovação constante, a experiên­cia acumulada ao longo das décadas constitui um grande capital. Foi a Algar Telecom que criou, meio por acaso, o telefone celular pré-pago no Brasil em 1998. Ao vender 100.000 linhas em um único fim de semana daquele ano, a operadora percebeu que não conseguiria cadastrar todas na loja. A solução? Dar aos clientes um kit de ativação e pedir que enviassem o contrato preenchido posteriormente.

A operadora mineira também foi a primeira no Brasil a interligar duas centrais telefônicas com fibra óptica em 1980. Lançou neste ano um chip de telefonia móvel multioperadora de olho na internet das coisas (IoT, na sigla em inglês). Para desenvolver novos produtos e serviços, a Algar Telecom não tenta adivinhar o futuro, mas busca acompanhar as tendências mundiais e entender o desejo do consumidor.

Jean Carlos Borges, presidente da Algar Telecom: gestão profissionalizada (Leandro Fonseca/Exame)

Quando fala em visão de longo prazo, o presidente do conselho de administração da companhia quer dizer longo prazo mesmo. A operadora tem um plano chamado Algar 2100 para projetar sua operação até o final do século, desvinculando-a das disposições dos atuais acionistas e gestores.

Como, no futuro distante, provavelmente nada restará do negócio como é hoje, o principal patrimônio da empresa não é seu core business, mas, sim, sua core competence — a base de valores sobre a qual a Algar Telecom foi erguida. “Nossa competência é servir bem todos os nossos stakeholders com uma equipe diversa e complementar”, afirma Luiz Alexandre. Com essa arma, dá para enfrentar a concorrência no mercado, ser escolhida a melhor entre as melhores empresas e sair de uma pandemia maior do que entrou.

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