Tomás Martins, CEO e fundador da Tembici: startup de aluguel de bicicletas captou 5 (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Negócios e PME
Publicado em 20 de abril de 2023 às 06h00.
A profusão de unicórnios nos últimos anos deixou boa parte do ecossistema mal-acostumada sobre o ritmo adequado para a expansão dos negócios — a coisa ficou acelerada demais. É o que pensa o empreendedor paulistano Tomás Martins, fundador e CEO da Tembici, startup de bicicletas compartilhadas cuja frota é onipresente nas metrópoles brasileiras em razão da parceria com o Itaú.
A frota pintada de laranja e alugada pelo app do banco é de propriedade da Tembici, e são os funcionários da startup os responsáveis pelo conserto delas. “Ninguém vira uma Apple ou um Google em dois anos, embora seja essa a crença das startups de uns tempos para cá”, diz Martins.
A desconfiança dele com o oba-oba de muitas lideranças de negócios de tecnologia vem de anos de dureza até o modelo de negócios da Tembici vingar. Aberta na virada dos anos 2010, a startup propunha desde cedo algo à frente do tempo: alugar bicicletas a baixo custo para elas virarem uma alternativa viável ao trânsito caótico dos grandes centros. No início, a ideia esbarrou numa profusão de desafios. A começar pela falta de ciclovias.
De lá para cá, muita coisa mudou. Rio de Janeiro e São Paulo, os dois principais mercados da Tembici, somam mais de 1.000 quilômetros de faixas exclusivas para bicicletas. A pandemia forçou gente antes acostumada ao aperto do transporte público a rodar por aí com os cabelos ao vento. Tudo isso não virou realidade da noite para o dia. “Com tanta coisa envolvida no nosso mercado, sabíamos que nosso modelo não conseguiria disruptar o mercado rapidamente”, diz.
O ritmo “devagar e sempre” blindou a companhia dos excessos comuns aos anos de euforia do venture capital. Em dez anos, a Tembici nunca deixou de ter a bicicleta como o DNA e o core da operação. Era uma estratégia capaz de render olhares de desconfiança dos investidores até bem pouco tempo atrás.
Vide o caso da startup de patinetes elétricas Grow, cuja expansão acelerada por vários aportes forçou a entrada no mercado de bicicletas (em especial as elétricas) em poucos meses de operação. Com custo alto de operação e demanda irregular, a Grow saiu do mercado brasileiro em 2020. “Cada bicicleta colocada na rua sempre teve uma margem de contribuição muito forte e, por isso, o segredo é pensar na rentabilidade a todo tempo”, diz Martins, para quem a sobrevivência no longo prazo é uma sucessão de decisões certas — e bem executadas — no curto prazo.
Até hoje, Martins tem certa urticária à ideia de superapps em que é possível encontrar uma infinidade de produtos. A energia ali está empregada em parcerias para fazer o propósito da Tembici chegar a mais gente.
No início de abril, a Tembici e o Uber anunciaram a intenção de colocar o anúncio das bicicletas da Tembici no aplicativo do Uber nos próximos meses — um canal de vendas com potencial de ampliar a presença da Tembici para grandes centros de outros países da América Latina. “A busca por novos negócios como esse é a tarefa de 10% da mão de obra da Tembici”, diz Martins.
O restante é focado no dia a dia. E, no fim das contas, a atenção ao essencial acabou atraindo investidores. Em fevereiro, o BNDES anunciou um financiamento de até 274 milhões de reais para a Tembici até 2026 como parte da agenda ESG do banco. O valor será usado para melhorias tecnológicas e para a expansão de 50% da frota de bikes comuns e elétricas, para mais de 30.000 unidades até o fim de 2023.
TEMBICI
O que faz: startup para aluguel de bicicletas compartilhadas
Como driblou a crise: foco no longo prazo e alinhamento às tendências de sustentabilidade
O resultado: parcerias com grandes empresas e expansão da frota de bicicletas pela América Latina
580 milhões de reais captou a Tembici com investidores como BNDES, Crescera Capital, Valor e Redpoint desde 2021