Luis Henrique Guimarães, presidente da Raízen: em busca do aproveitamento máximo de resíduos na produção de etanol (Germano Lüders/Exame)
Da Redação
Publicado em 16 de novembro de 2017 às 05h26.
Última atualização em 27 de novembro de 2017 às 10h43.
Numa usina em Piracicaba, no interior de São Paulo, a Raízen está dando o primeiro passo na aplicação de uma tecnologia capaz de aumentar em 50% sua produção de etanol sem o acréscimo de um hectare sequer de área plantada. Ou seja, a maior empresa de etanol de cana do Brasil seria capaz de elevar de 2 bilhões para 3 bilhões de litros sua produção anual com a mesma quantidade de matéria-prima utilizada hoje. A técnica em questão cria o etanol de segunda geração, também conhecido como etanol celulósico. Nela, a palha e o bagaço descartados após a fabricação do etanol de primeira geração são reaproveitados para extrair mais combustível.
Um dos primeiros passos para o projeto acontecer na Raízen foi um acordo de longo prazo com a Novozymes, fabricante de enzimas dinamarquesa. Os testes foram feitos em laboratório no Canadá, onde engenheiros da Raízen passaram uma temporada trabalhando com biomassa enviada do Brasil. Em 2013, após quase dois anos de estudos, a empresa partiu para a escala comercial. A usina de Piracicaba foi construída ao lado de uma unidade de fabricação do etanol de primeira geração, com investimentos de 237 milhões de reais, e começou a operar em novembro de 2014.
No primeiro ano, com os ajustes tecnológicos feitos, 1 milhão de litros foram produzidos. Em 2016, foram 7 milhões de litros e, neste ano, a produção já terá dobrado. “Há meia dúzia de projetos de etanol de segunda geração no mundo buscando escala. Hoje podemos dizer que nossos desafios tecnológicos estão superados”, afirma João Alberto Abreu, vice-presidente de etanol, açúcar e bioenergia da Raízen. “O etanol de segunda geração deverá ter custo semelhante ao etanol de primeira geração nos próximos dois anos.” Hoje, a maior parte do etanol de segunda geração é exportada, já que outros países pagam um prêmio pelo combustível produzido com menos emissão.
Para chegar aos 50% de aumento da produção nas áreas existentes, o próximo passo é ampliar a usina de Piracicaba. A Raízen acredita que haja espaço para outras sete unidades no Brasil, mas não detalha planos e prazos para a expansão. No longo prazo, uma usina modelo será erguida para estudar novas aplicações para todos os subprodutos do processo produtivo, como a lignina, óleo encontrado no bagaço. Hoje queimada como combustível, pode ser usada no mercado cosmético e farmacêutico. “O aproveitamento máximo de resíduos converge com nossos esforços de buscar uma economia circular”, afirma Luis Henrique Guimarães, presidente da Raízen.
No final de 2015, a Bunge assumiu o compromisso de eliminar o desflorestamento das cadeias de suprimentos agrícolas ao redor do mundo até 2025, respeitar os direitos de comunidades locais e indígenas e melhorar a rastreabilidade e transparência com seus fornecedores. “Nossa parceria com o produtor tem a finalidade de ajudar com novas técnicas, levando ferramentas e mostrando como crescer de forma sustentável”, afirma Michel Santos, diretor global da área de sustentabilidade da Bunge. A ideia, segundo ele, não é simplesmente barrar o produtor e dar as costas para ele, mas, sim, mostrar o caminho para uma expansão sem prejudicar o meio ambiente.
A empresa desenvolveu um protocolo para monitoramento por satélite que foi implementado em 2017. Por meio dele, monitora mudanças do uso do solo em mais de 6 000 locais no Brasil, no Paraguai e na Argentina. O sistema permite que a empresa bloqueie transações com produtores embargados pelo Ibama. Em 2016, 127 foram bloqueados. Na região agrícola Matopiba, formada pelos estados de Mato Grosso, Tocantins, Piauí e Bahia, a rastreabilidade da empresa cobre 90% de 13 municípios críticos. Outras 52 cidades têm 68% de rastreabilidade. Em Mato Grosso, o índice é de 80%.
Em 2017, a companhia participou do lançamento do Agroideal.org, uma ferramenta de suporte de decisão que facilita a expansão sustentável da soja na América Latina. A iniciativa contou com o envolvimento da ONG The Nature Conservancy e uma coalizão de 15 outras empresas, ONGs e órgãos governamentais.
O sistema online e gratuito permite aos usuários criar cenários, considerando 25 bancos de dados ambientais, econômicos e sociais, para identificar as áreas de baixo risco para a expansão agrícola, bem como áreas que devem ser priorizadas para conservação. O sistema traz inicialmente dados sobre o cerrado, mas há uma atualização prevista para contemplar o bioma amazônico e a região do Chaco argentino e paraguaio. “Queremos mostrar quais são os caminhos para que a expansão da produção, quando necessária, ocorra de forma correta e sustentável”, afirma Santos.
A Bunge também produziu dois guias de boas práticas agrícolas. O do ano passado foi voltado para a conservação dos recursos hídricos nas propriedades rurais do oeste da Bahia. O deste ano tem foco na realidade dos produtores de Alto Teles Pires, em Mato Grosso. O guia online reuniu informações de como fazer a gestão ambiental da propriedade com 13 práticas agrícolas diferentes.
A população mundial deve chegar a 8,6 bilhões de pessoas em 2030, segundo estimativa da ONU. A demanda por alimentos aumenta na mesma proporção da pressão pelo fim do desmatamento no mundo todo. Para a americana Cargill, 2030 também será o ano em que pretende zerar o desmatamento. A empresa foi uma das signatárias de um compromisso global para reduzir à metade o desmatamento até 2020 e zerá-lo dez anos depois.
No Brasil, a empresa reforçou uma parceria com a The Nature Conservancy, ONG global que atua na conservação do meio ambiente, para cuidar de dois produtos estratégicos e cuja demanda não para de crescer: soja e cacau. Desde 2004, o principal projeto conjunto está em Santarém, no Pará, onde a Cargill opera um terminal de soja com o objetivo de promover a produção responsável e garantir o cumprimento da legislação ambiental pelos produtores.
O trabalho resultou num desmatamento quase zero nas propriedades. Hoje, são 383 fazendas de soja registradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR) aptas a fornecer para a Cargill. O percentual geral, porém, de propriedades que fornecem para a Cargill e são monitoradas está num patamar inferior. Apenas 60% de toda a soja que a Cargill compra no Brasil está coberta pelo CAR.
Uma nova frente de trabalho com a The Nature Conservancy visa expandir o projeto para Mato Grosso. Já passaram por análise ambiental detalhada 847 propriedades. Também há avanço em São Félix do Xingu, onde a empresa pretende ampliar o cultivo de cacau, planta nativa da região amazônica, que precisa de sombra para crescer, num sistema agroflorestal, estimulando os produtores a recuperar a floresta, ao mesmo tempo que geram renda extra. “A Cargill tem aumentado a produtividade investindo em tecnologia e inovação para satisfazer a procura alimentar de amanhã”, afirma Luiz Pretti, presidente da Cargill no Brasil. “Queremos garantir que nossa atuação não contribua para o desmatamento de regiões importantes para a conservação do clima, da biodiversidade e da produção de água.”
No início de 2017, a Cargill teve de lidar com um relatório da organização Mighty Earth apontando o desmatamento do cerrado para cultivo de soja adquirida pela empresa. A área concentra mais da metade da produção de soja do país e está sofrendo com a perda de cobertura vegetal. A companhia afirma que não tinha produtores de sua cadeia nas áreas identificadas pela organização. Mas reconhece que, como se vê na Amazônia, monitorar e educar os produtores locais continua sendo o maior desafio.
A Usina Coruripe, uma das maiores produtoras de açúcar e álcool no Norte e no Nordeste, tem uma meta ambiciosa para garantir o cumprimento do Código Florestal, a nova legislação ambiental. A empresa promete que, até o final do ano, 100% de seus fornecedores terão o Cadastro Ambiental Rural — cerca de 20% estavam com o processo em andamento no terceiro trimestre deste ano. Uma equipe dedicada à gestão ambiental, com biólogos e engenheiros agrônomos e ambientais, mapeia as áreas e orienta os produtores sobre os requisitos a ser cumpridos.
A empresa possui duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural que somam 9 000 hectares. A reserva Pereira fica bem próxima à sede da Coruripe em Alagoas. Já a reserva Porto Cajueiro faz parte do Mosaico Sertão Veredas e preserva o bioma do cerrado no norte de Minas Gerais. Nessas áreas, há trabalhos de preservação da fauna e da flora, parceria com pesquisadores em educação ambiental. “Criar esses maciços florestais é uma maneira de compensar o impacto e preservar a natureza”, diz Bertholdino Teixeira Junior, gerente de sustentabilidade da Usina Coruripe.
Agora a companhia está começando a encarar o desafio de mensurar o próprio impacto ambiental. Em 2016, a empresa, que tem plantações de cana e unidades industriais em Alagoas e Minas Gerais, desenvolveu seus primeiros indicadores nesse sentido. O foco inicial está principalmente nos temas de resíduos, água e energia. Foi criado um comitê de sustentabilidade ligado à diretoria e à presidência da empresa e, para cada uma das três áreas, há um grupo técnico de trabalho.
Participam das discussões funcionários dos diferentes setores da companhia, como industrial, operacional e campo. Eles se reúnem uma vez por mês para discutir melhorias e soluções. Foram estabelecidas metas para cada questão considerando os números dos anos anteriores. A meta para geração de resíduos, por exemplo, é diminuir 5% em 2017. Com o projeto em andamento, a empresa deve ter os primeiros resultados para divulgar no próximo ano. Outro processo que teve início em 2017: mapeamento e inventário dos gases de efeito estufa.
O trabalho ainda não foi concluído, mas, assim que isso acontecer, passará a integrar a lista de indicadores de sustentabilidade na Coruripe. No ano passado, a empresa investiu 1 milhão de reais em programas socioambientais, como a produção de quase 60 000 mudas, utilizadas para o reflorestamento e para a recomposição de floresta e na recuperação de nascentes do Rio Coruripe.