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Como pagar bem sem aumentar os salários

1 - Sou empresário e minha empresa presta serviços de alta tecnologia. Nosso time é muito qualificado e procuramos mantê-lo com bons salários. Porém, temos perdido muitos negócios para empresas que cobram menos, entre outros motivos, porque não possuem uma equipe tão boa nem tão bem remunerada. Parece que a cada ano a coisa fica pior. O que fazer? […]

Dinheiro: notas de 50 reais (Marcos Santos/USP Imagens)

Dinheiro: notas de 50 reais (Marcos Santos/USP Imagens)

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Da Redação

Publicado em 15 de julho de 2014 às 20h10.

1 - Sou empresário e minha empresa presta serviços de alta tecnologia. Nosso time é muito qualificado e procuramos mantê-lo com bons salários. Porém, temos perdido muitos negócios para empresas que cobram menos, entre outros motivos, porque não possuem uma equipe tão boa nem tão bem remunerada. Parece que a cada ano a coisa fica pior. O que fazer? Ivair Ardenghi, do Paraná

Pagar bem não quer dizer pagar salários muito acima da média do mercado. Lembre-se que a prioridade deve ser a sobrevivência da organização. Primeiro a empresa tem de ser competitiva, para depois pagar bem. Como conciliar competitividade com uma remuneração justa e que atraia os melhores? A resposta é, num primeiro momento, pagar menos. 

Ou melhor, o jeito é pagar bem pagando os piores salários. Explico: procure saber quais são os salários no mercado para o tipo de técnico que você tem empregado. Pague a eles uma parcela fixa de 70% desse patamar. Chame todos os funcionários numa mesma sala e estabeleça uma política de bônus e venda de cotas para sua empresa. 

Como sugestão, separe 20% do lucro líquido anual para o bônus e distribua de acordo com o atingimento de metas de cada um. Ao mesmo tempo, venda parte de sua empresa para os funcionários pelo valor patrimonial com a salvaguarda de que quem deixar a empresa deve revender suas cotas pelo valor patrimonial em determinado momento.

Seja bem generoso na distribuição da venda das cotas (que pode ser de  50% do total do valor patrimonial inicialmente), de tal maneira que os dividendos possam ser generosos. Faça com os funcionários uma projeção do futuro mostrando que agora todos eles são donos e vão ganhar se os resultados estiverem bem. Cada um ganhará muito mais do que jamais sonhou. Mas somente se houver bons resultados. 

Faça com que todos se sintam donos e corresponsáveis. Aproveite para criar uma cultura de parcimônia nos gastos. Na medida em que a remuneração dos funcionários também dependa disso, você verá que todos vão mudar a maneira como se comportam dentro da empresa. Afinal, cada real economizado também vai para o bolso de cada funcionário. Assim, custos baixos, salários fixos baixinhos e muita generosidade em distribuir lucros e cotas vai fazer com que você prospere. 

No linguajar técnico, você vai procurar ter os custos fixos baixos e o pagamento focado no variável. Repare que, fazendo desse modo, você terá custos muito competitivos e retomará as vendas da empresa. Mais adiante poderá tomar medidas para melhorar a rentabilidade em outras frentes. Aposto que sua empresa vai bombar.

2 - Um dos pontos que têm impactado negativamente a empresa em que trabalho são as constantes mudanças dos gerentes, com a perda da continuidade. A cada hora chega alguém com um estilo diferente. Até que ponto é possível padronizar? Como diminuir o impacto das diferenças no estilo de cada novo executivo? Anônimo

Trocar as chefias de tempo em tempo é, por definição, algo bom. Dá chance aos mais novos de subir na hierarquia e se desenvolver. Somos todos a favor disso. Quem é bom quer crescer como profissional, e seria muito pior se não quisesse. No entanto, a troca não pode ser tão rápida a ponto de causar o desconforto que você menciona. Recentemente, acompanhei de perto o estrago que isso pode causar numa grande empresa brasileira.

Com muita rotatividade dos chefes em determinada área, percebi que o efeito era uma enorme perda de produtividade. Sem vínculo forte com os chefes, os subordinados tinham um sentimento de “não pertencimento”. O chefe é muito importante na identificação do grupo. Além disso, detectei que, quando o tempo de uma chefia é visto de antemão como muito curto, a pessoa promovida acaba adotando políticas de “terra arrasada” para atingir resultados que a farão receber uma promoção.  

Quem vem depois sofre os efeitos. Uma das medidas adotadas foi a instituição da “chefia dos 1 000 dias”. Na prática, a política impõe que cada chefe, ao ser promovido, permaneça durante pelo menos 1 000 dias no cargo antes de dar o próximo passo. Ele terá, portanto, de arcar com as consequências de seus atos.

Outra coisa que essa empresa está adotando é o “manual da chefia” — ou seja, um conjunto de instruções do que deve ser feito para não perder a continuidade da boa gestão. Esse é um dos temas mais importantes para o nosso país nos dias de hoje. A taxa de desemprego no Brasil se mantém no patamar de 5% e as pessoas começam, com todo o direito, a escolher lugares melhores para trabalhar.

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