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Como o dono da Even perdeu o posto de presidente da empresa

Após quase 13 anos, Carlos Terepins foi demitido do posto de presidente da incorporadora Even, uma das maiores do país. Detalhe: ele era o dono da empresa

Terepins, fundador da Even: fim de sua história na empresa (Germano Luders/Exame)

Terepins, fundador da Even: fim de sua história na empresa (Germano Luders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 26 de fevereiro de 2016 às 14h53.

São Paulo — Um dia depois de ter sido demitido da própria empresa, o engenheiro Carlos Eduardo Terepins tomava café da manhã em seu apartamento na zona sul de São Paulo, após a natação de rotina, quando a ficha caiu. Ele folheava calmamente o jornal — naquela quinta-feira, afinal, não precisava mais ir à sede da Even, incorporadora fundada por ele em 2002.

Foi surpreendido com um anúncio de página inteira. “Terepins, você provavelmente não aprovaria este texto, mas precisamos te agradecer”, dizia o anúncio, encomendado por diretores da Even. Aconteceu, então, o que havia conseguido evitar na véspera, quando fez um discurso de despedida para 350 funcionários: desabou em lágrimas.

O motivo do choro de Terepins é um raríssimo caso, em terras brasileiras, de fundador que perde o comando de sua empresa para investidores “hostis”. Sua saída foi resultado de meses e meses de longas reuniões com seus algozes — um grupo de acionistas liderado pelo empresário gaúcho Alexandre Grendene, dono da calçadista Grendene, e Leandro Melnick, sócio da Even no Rio Grande do Sul.

Naquele dia 22 de outubro, a Even passava a ser administrada pelos acionistas rebeldes. Terepins vendeu suas ações por aproximadamente 60 milhões de reais e deixou para trás a empresa que ele mesmo criou. A saída de Terepins começou a ser desenhada muito tempo atrás, quando, como muitos empreendedores, ele foi sendo obrigado a vender ações para financiar o crescimento da empresa.

A Even foi fundada com a fusão das incorporadoras Terepins e Kalili Engenharia e ABC Construtora. Em 2006, atraiu o fundo americano Spinnaker, que comprou uma participação de 40%. Em 2007, a Even fez uma oferta de ações na Bovespa e captou 460 milhões de reais para competir com as grandes do setor, Cyrela, Gafisa e Rossi, e uma nova captação de 506 milhões em 2010.

Com as duas transações, a participação do fundador foi diluída e Terepins ficou com 7% da empresa —mas continuava no bloco de controle da construtora, composto por seu irmão Luís Terepins e o fundo Spinnaker. Em 2012, o bloco de controle se desfez quando a Spinnaker vendeu suas ações.

Terepins, “dono” com apenas 7% das ações e sem um bloco de controle, tornou-se presa fácil para um investidor que quisesse lhe dar um passa-fora. Faltava apenas o candidato. E ele surgiu no início do ano. 

O empresário gaúcho Leandro Mel­nick, sócio da Even em uma construtora regional, e o gestor de investimentos Rodrigo Arruy, responsável pela administração da fortuna de Grendene, bateram à porta da Even em março e comunicaram a Terepins o interesse em investir na empresa e se tornar acionistas relevantes.

O engenheiro nunca se preocupou com a entrada de novos sócios no capital da Even. Achava inevitável para a empresa manter-se capitalizada e confiava nos resultados de sua gestão e de sua história para se manter à frente da companhia.

Nas conversas, os interessados elogiaram a estabilidade da empresa em meio ao temporal do setor — o retorno sobre o capital da Even é o terceiro maior entre as 18 construtoras listadas em bolsa, a companhia pouco se aventurou em segmentos que desconhecia e, diferentemente das concorrentes, conseguiu se manter longe dos rankings de reclamação dos clientes.

Por outro lado, a empresa cresceu menos do que suas concorrentes. A proposta inicial era manter Terepins à frente da gestão da empresa e com cargo de conselheiro, e os novos acionistas indicariam o presidente do conselho. Terepins permaneceria por mais dois anos, preparando um substituto — por isso criou, em maio, duas vice-presidências.

Ele esteve uma única vez com os “donos do dinheiro”, como Grendene e o empresário Hermes Gaz­zola. Mas passou a ter encontros frequentes com os representantes do grupo, Melnick e Arruy, para discutir a estratégia da empresa. As primeiras reuniões na sede da Even tinham tom conciliatório e respeitoso. À medida que os novos acionistas compravam mais ações, no entanto, isso mudou.

Em maio, eles tinham 5% da empresa e três meses depois já tinham chegado a 15% (hoje têm 32%). “Eles começaram a deixar claro quem estava no comando”, diz um diretor da construtora.

Em um episódio em agosto que deixou desconfortável até mesmo Leandro Mel­nick, Arruy comparou o investimento feito pela gestora ao valor do iate comprado em janeiro por Grendene por 250 milhões de reais — “claramente para mostrar desdém pela história da empresa”, diz um executivo ligado aos novos acionistas. O investimento da gestora de Grendene na Even equivalia, até ali, a meio iate, 120 milhões de reais.

No início de outubro, a relação entre o fundador da Even e os novos acionistas já tinha azedado. Para os novos acionistas, ficou claro que não seria possível fazer os ajustes que entendiam necessários na empresa mantendo seu fundador — como aumentar a distribuição de dividendos e cortar a folha de pagamentos. Nem assim, no entanto, Terepins previu o que aconteceria.

Melnick e Arruy comunicaram Terepins que ele estava dispensado da função de diretor-presidente no dia 20 de outubro. Foi substituído por dois copresidentes, Dany Muszkat e João Eduardo Azevedo, diretores da Even há anos — os mesmos que, sete meses antes, tinham sido promovidos a vice-presidentes.

Em “prol do bom relacionamento e respeito à história da companhia”, segundo ex-conselheiros da Even, convidaram o executivo a compor o novo conselho, agora presidido por Melnick. Não teria força de voto e, por meio de um acordo de não competição, também seria proibido de exercer qualquer outra função no mercado imobiliário.

No dia 21 de outubro, Terepins comunicou sua saída aos funcionários. Em novembro, resolveu vender suas ações. “Terepins nunca separou a vida pessoal da profissional e não saberia acompanhar a Even sem fazer parte dela”, diz um diretor da empresa.

Os amigos que frequentam seu apartamento e sua casa do interior de São Paulo trabalham na construtora e suas férias se limitavam a dez dias por ano no recesso de Natal. A venda das ações lhe garantiu cerca de 60 milhões de reais, dinheiro que será investido em uma nova empreitada imobiliária, segundo tem dito a amigos. Even, Mel­nick e Terepins não deram entrevista.

(Arruy não retornou aos pedidos.) Em nota por e-mail, a assessoria de Terepins diz que ele antecipou uma decisão de deixar a empresa e “se desligou da Even para empreender em novos projetos profissionais”. 

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