Operadores na bolsa brasileira: a maioria dos analistas recomenda aplicar em ações, mas aos poucos (Germano Lüders/Exame)
Da Redação
Publicado em 29 de março de 2018 às 05h45.
Última atualização em 29 de março de 2018 às 09h42.
Nem os mais premiados analistas esperavam que, a esta altura, a taxa básica de juro do país estivesse onde está. Menos ainda que o Banco Central sinalizasse que cortes adicionais ainda podem ser feitos. Os investidores tiveram pouco tempo para se acostumar com a ideia de que, se o Brasil caminha de fato para se tornar um país normal — pelo menos no que se refere ao patamar de juros —, é preciso reavaliar a carteira de investimentos. Mesmo os conservadores podem buscar opções um pouco mais rentáveis na renda fixa. Quem quer ter retornos maiores precisa arriscar. Veja, a seguir, as principais recomendações de assessores financeiros consultados por EXAME.
TÍTULOS PÚBLICOS COM VENCiMENTO A PARTIR DE 2025
Os títulos públicos com prazos longos ainda oferecem rendimentos interessantes. No fim de março, os papéis prefixados (que determinam hoje o retorno que será pago no futuro) pagavam em torno de 9,5% ao ano. Os vencimentos desses papéis estavam marcados para 2025 e 2029. Mesmo que os juros básicos subam um pouco, como projetam alguns economistas num cenário de crescimento mais forte da economia, esses papéis valem a pena. Já os títulos públicos atrelados à inflação que oferecem os melhores rendimentos são os que vencem a partir de 2035: o retorno é de cerca de 5%, além da variação do IPCA.
Para quem são indicados: investidores de todos os perfis que puderem deixar seu dinheiro aplicado por, no mínimo, sete anos.
TÍTULOS DE EMPRESAS
Outra opção é migrar para os papéis de dívida das empresas. As debêntures, em especial as incentivadas, cujo rendimento é isento de imposto de renda, estão entre os papéis mais indicados. Quem compra esses títulos empresta dinheiro para a empresa, que deve devolver tudo no futuro, pagando juros. No caso das incentivadas, os recursos são utilizados no desenvolvimento de projetos de infraes-trutura. Como o risco de uma empresa dar um calote é bem maior do que o do governo, esses papéis costumam ter uma rentabilidade superior à dos títulos públicos. As debêntures incentivadas lançadas pelas empresas de energia nos últimos seis anos, por exemplo, oferecem uma remuneração média de quase 7% ao ano mais a variação do IPCA, de acordo com um levantamento do Ministério da Fazenda. Para diminuir o risco, o melhor é optar por papéis emitidos por empresas grandes e sólidas ou por fundos de debêntures incentivadas, em que a análise e a escolha dos investimentos são feitas por gestores profissionais. O prazo de vencimento varia de quatro a 18 anos.
Para quem são indicados: investidores não conservadores que puderem deixar seu dinheiro aplicado por, no mínimo, quatro anos.
FUNDOS MULTIMERCADOS
Há meses, esses têm sido os fundos mais procurados pelos investidores. No último ano, receberam 127 bilhões de reais, quase metade de todo o capital aplicado em fundos no período no Brasil. A principal vantagem é o fato de poderem aplicar em diferentes ativos, como ações, moedas e títulos de renda fixa, aqui e no exterior. “Eles não são tão voláteis quanto as ações e, por isso, são indicados para quem quer diversificar correndo menos riscos”, afirma Samuel Oliveira, gestor da administradora de pa-trimônio Azimut Brasil. Mas, para conseguir bons retornos, é preciso escolher gestores qualificados: pesquise como os gestores se comportaram durante as crises e qual foi o histórico de rendimento, e fique com os que conseguiram ser mais consistentes.
Para quem são indicados: investidores não conservadores que puderem deixar seu dinheiro aplicado por, no mínimo, dois anos.
FUNDOS IMOBILIÁRIOS
Esses fundos, que são negociados na bolsa, podem investir em prédios de escritório, agências bancárias, galpões industriais, shoppings e outros tipos de imóvel. Quem investe neles pode ganhar dinheiro com a valorização dos imóveis e também com a renda que os fundos recebem de aluguel. Os juros mais baixos tornam esse rendimento, que também é isento de imposto de renda, ainda mais interessante. Por isso, os fundos têm atraído investidores, e isso valorizou suas cotas na bolsa. Um levantamento da corretora Coinvalores mostra que um terço dos quase 90 fundos mais negociados do mercado rendeu acima de 20% nos últimos 12 meses. Mas, se os imóveis em que os fundos investem tiverem problemas, o retorno pode decepcionar. Por isso, a recomendação dos especialistas é diversificar em, no mínimo, cinco fundos de perfis diferentes.
Para quem são indicados: investidores não conservadores que puderem deixar seu dinheiro aplicado por, no mínimo, dois anos.
AÇÕES
A maioria dos analistas acredita que aplicar na bolsa brasileira hoje é um bom negócio. Com a recuperação da economia, os lucros das empresas tendem a aumentar, beneficiando suas ações. Uma dificuldade é aguentar a volatilidade esperada para um ano eleitoral. “Para quem está habituado a ter rentabilidade positiva todo mês, perder uma vez ou outra é muito frustrante. O sujeito acha que chegou no final da festa, sai pulando de galho em galho e só piora a própria situação”, diz Richard Ziliotto, diretor da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais. Além disso, se a retomada da economia decepcionar ou se o próximo governo indicar que deverá suspender o plano de reformas, a bolsa deverá desvalorizar. Por isso, os assessores financeiros recomendam aplicar em ações aos poucos, respeitando seu perfil. Para o banco UBS, os investimentos em bolsa não devem superar 20% do patrimônio — até de investidores agressivos.
Para quem são indicadas: investidores agressivos que puderem deixar seu dinheiro aplicado por, no mínimo, quatro anos.