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Com governo reformista Índia vive euforia econômica

Com o impulso de um governo reformista, a economia indiana deverá crescer mais do que a chinesa neste ano — um caminho que poderia inspirar o Brasil


	Narendra Modi: meta de criar 100 milhões de empregos com a ajuda da iniciativa privada
 (Amit Dave/Files/Reuters)

Narendra Modi: meta de criar 100 milhões de empregos com a ajuda da iniciativa privada (Amit Dave/Files/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 15 de maio de 2015 às 05h56.

São Paulo - "Existe alguém em algum lugar da Índia que não admire a China?” Essa pergunta foi feita por Yi Jing, estudioso chinês que viveu alguns anos na Índia no século 17. Mas ela poderia muito bem ser feita hoje. Nos últimos anos, os indianos mal disfarçaram a inveja do enriquecimento dos vizinhos.

Na briga particular dos dois gigantes asiáticos, que juntos somam quase 40% da população mundial, os chineses vêm dando um banho nas três últimas décadas. A Índia, é verdade, teve um bom momento em meados dos anos 2000, mas faltou fôlego. Desde 1980, apenas em quatro anos a Índia apresentou uma evolução do PIB superior à da China. Neste ano, isso voltará a acontecer.

Segundo as últimas previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), a Índia será, entre as maiores economias do mundo, a de melhor desempenho em 2015, com uma taxa de 7,5% — a previsão para a China é de uma elevação do PIB de 6,8%. (A economia brasileira, como sabemos, sofre de “estaginflação” — estagnação com inflação — e deverá encolher. A belicosa Rússia também.)

A matemática do crescimento ajuda a explicar a euforia dos investidores em relação à Índia: mantida por uma década, a taxa atual de crescimento é suficiente para dobrar o PIB. “Para o investidor, o que interessa é o ritmo de crescimento, pois isso determina a taxa de retorno”, diz Tirthankar Roy, professor de economia indiana na London School of Economics.

O otimismo em relação à Índia deriva de vários fatores. Um dos motivos é a demografia. Quase metade de sua população, de 1,2 bilhão de pessoas, tem menos de 25 anos. A China conta com 1,3 bilhão de habitantes, mas lá a proporção da população em idade de trabalhar em relação à dos dependentes já é declinante.

Em menos de duas décadas, a Índia será o país mais populoso e terá a maior força de trabalho do mundo. A cada ano, cerca de 10 milhões entram no mercado de trabalho. Para os empresários, isso é uma garantia de que não faltará mão de obra e não haverá grandes pressões por aumentos salariais. “Uma questão pouco falada é que os indianos têm boa educação se comparados aos trabalhadores de países no mesmo grau de desenvolvimento”, diz Sukumar Rajah, diretor de investimentos para a Ásia da gestora Franklin Templeton.

Também conta a favor o fato de a economia indiana estar numa clara rota de correção. Depois de vários anos de inflação alta, o índice de preços está em queda e deverá fechar neste ano em 5,8%, bem abaixo dos 8% previstos para o Brasil. A taxa de juro e o endividamento público também estão caindo. As contas externas melhoraram com a recente redução do preço do petróleo no mercado internacional.

Mas o que mais entusiasma os investidores é a agenda de reformas do primeiro-ministro Narendra Modi, eleito em maio de 2014. E é nesse ponto que a perspectiva indiana e a brasileira parecem mais distantes. “Diante de um governo que parece guiar o país na direção certa, estamos otimistas”, diz Tushar ­Poddar, economista para a Índia do banco americano Goldman Sachs.

Na Índia, o sistema tributário consegue ser mais arcaico do que no Brasil. Uma mercadoria é taxada cada vez que cruza as divisas entre quaisquer dos 29 estados. Isso significa que, se determinado produto passar por quatro estados até seu destino final, terá de pagar imposto quatro vezes.

Para mudar isso, o governo Modi enviou ao Parlamento uma reforma tributária que unifica o recolhimento de todas as taxas sobre o consumo, como fazem vários países europeus e os Estados Unidos. “É uma simplificação que o Brasil, com seus impostos federais, estaduais e municipais e com a guerra fiscal entre estados, faria bem em copiar”, diz Anwar Shah, consultor do Banco Mundial para economias emergentes.

Ainda há muita incerteza sobre se o governo conseguirá aprovar a reforma tributária da mesma forma que a enviou ao Parlamento. Mas o simples fato de ter tomado a iniciativa já rendeu frutos. “A Índia está se beneficiando da percepção de que Modi é um líder disposto a fazer as mudanças de que o país precisa”, diz Paul Christopher, diretor de estratégia global do banco americano Wells Fargo.

Desde que assumiu, Modi já conseguiu algumas vitórias. Em janeiro, vendeu uma fatia de 10% da Coal India, estatal que domina o setor de carvão. Antes, aumentou o teto para a participação de capital estrangeiro em setores como o de seguros, construção e ferrovias.

Ciente de que vai precisar criar empregos se quiser continuar no mesmo posto, Modi lançou o Make in India (Produza na Índia), uma iniciativa para atrair investimentos estrangeiros na área industrial. A meta é ousada. O governo pretende criar 100 milhões de empregos até 2022 e elevar a participação da indústria na economia de 16% para 25% até 2020. Para promover seu projeto, Modi não tem economizado empenho. Em abril, esteve na Alemanha, onde abriu a feira de Hannover ao lado da chanceler Angela Merkel.

Ainda que o vento esteja a favor, o FMI ressalta que há muito por fazer. O estado do Rajastão modernizou recentemente suas leis trabalhistas, permitindo que empresas com menos de 300 funcionários possam demitir sem pedir a permissão das autoridades. O governo central apoiou a medida, mas o FMI diz que é preciso avançar mais.

A expectativa é que outros estados sigam o mesmo caminho. Mudanças também são esperadas na abertura do mercado para estrangeiros — vários setores, como o varejo, sofrem limitações. Na área financeira, o maior perigo é um aumento da volatilidade no mercado internacional, o que pode afetar o financiamento das empresas locais.

Mesmo com todos esses riscos, para os indianos o clima hoje é de exaltação. Sim, os chineses ainda estão muito à frente. Mas, neste ano, fica o gostinho de ver o país vizinho crescendo menos.

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