Revista Exame

5 produtos por dia para inovar na DuPont

Como a bicentenária DuPont atingiu um nível recorde de inovação ao se aproximar de países emergentes

Ellen, presidente mundial da Dupont: investimentos em inovação mesmo em tempos de crise (Alexandre Battibulgi/EXAME.com)

Ellen, presidente mundial da Dupont: investimentos em inovação mesmo em tempos de crise (Alexandre Battibulgi/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 16 de setembro de 2011 às 08h21.

São Paulo - Poucas empresas estiveram tão conectadas à história americana como a DuPont. A companhia surgiu em 1802 nas cercanias de Wilmington, no estado de Delaware, como uma fabricante de pólvora, utilizando uma técnica criada pelo francês Eleuthère du Pont, um dos fundadores da companhia e pupilo de Antoine Lavoisier.

Um século mais tarde, criou o náilon, tecido usado nos paraquedas da Segunda Guerra Mundial. Com uma história pontuada por grandes feitos, na década de 90, a empresa começou a andar de lado — seu faturamento ficou estagnado entre 1996 e 1998, na casa dos 24 bilhões de dólares.

Era preciso renovar os produtos e a si própria. Num esforço iniciado por Chad Holliday, presidente mundial de 1998 a 2008, a DuPont se desfez de alguns negócios e priorizou sua maior força: a inovação, desta vez concentrada em países emergentes. “É preciso estar presente para entender o que se passa no Brasil ou na Índia”, disse Ellen Kullman, sucessora de Holliday, em entrevista exclusiva a EXAME.

O ritmo de lançamentos quintuplicou numa década e atingiu o recorde de cinco por dia em 2010. O faturamento alcançou 31,5 bilhões de dólares — um terço disso vindo dos emergentes — e o lucro cresceu 71% em relação a 2009. A seguir, os passos mais recentes da DuPont para atingir esse resultado.

O futuro já chegou

“Em 2009, elegemos quatro megatendências que devem dar à dupont a chance de levar nossa ciência ao mercado com mais velocidade e potencial de crescimento. O aumento da necessidade por alimentação é uma delas. Segundo a onu, seremos 9 bilhões de habitantes no mundo até 2050.

Cada uma dessas pessoas precisará ser alimentada, o que significa que teremos de produzir mais comida na mesma quantidade de terra disponível hoje no planeta. Um exemplo de como acreditamos nisso foi a compra, por 6,4 bilhões de dólares, da fabricante de enzimas para produção de alimentos e combustíveis dinamarquesa Danisco, em maio.


A segunda tendência também está ligada ao aumento da população. Com mais gente precisando de energia, não poderemos depender apenas dos combustíveis fósseis. Por isso, buscamos criar tecnologias para energia alternativa — terreno no qual o Brasil tem sido bem-sucedido.

No nosso laboratório em Paulínia, no interior de São Paulo, estamos desenvolvendo uma parte da pesquisa que dará origem à nova geração do etanol, o butanol, um projeto em parceria com a britânica BP. A terceira megatendência é a segurança. Com tanta gente no mundo, proteger as pessoas e o meio ambiente será cada vez mais importante.

Essas três áreas — alimentação, combustíveis alternativos e segurança — consumiram 84% de nossa verba de 1,7 bilhão de dólares destinada à inovação em 2010. Por fim, acreditamos muito no crescimento dos mercados em desenvolvimento — a quarta grande tendência.

Estamos dando recursos e poder de decisão às operações locais para chegar mais perto desses consumidores. Nossa expectativa é que os países emergentes representem 36% de nossas receitas até 2015. No ano passado essa participação foi de 31%.” 

Força para as ideias locais

“Precisamos regionalizar nossa pesquisa e desenvolvimento para poder inovar perto dos consumidores. Isso significa colocar centros de pesquisa em todo o mundo. Até 2002, só fazíamos isso em nossa sede, em delaware, e em alguns lugares da europa. Desde então começamos a ir para outros lugares.

Hoje, dos 150 laboratórios de pesquisa da companhia, metade está fora dos estados unidos. Somente no brasil, passamos de três para 11 centros de pesquisa em um período de oito anos. Excluindo a estrutura da sede da companhia nos estados unidos, o laboratório de paulínia, em são paulo, é hoje o único no mundo que faz pesquisas em todas as 13 áreas de negócios da dupont.

Também estabelecemos processos disciplinados para criação de novos produtos em países emergentes. Um deles, surgido no brasil em 2003, reúne uma vez por ano clientes, parceiros e governo locais para discutir ideias de produtos.


É um processo bem rigoroso, já que poucos projetos chegam até o final — de 70 ideias surgidas a cada ciclo de discussões, apenas de duas a seis amadurecem e viram negócio. Em 2010, decidimos exportar o programa para índia, indonésia, tailândia e china.”

Inovação de porta aberta

“Inovar em parceria com nossos clientes nos ajuda a acelerar o processo de inovação e a errar menos. Algumas de nossas maiores inovações têm ocorrido em parceria. É o caso da solecina, um composto de carne pré-cozida e proteína de soja lançado no méxico em 2006, por meio de uma associação com a fabricante de alimentos mexicana sigma.

O produto foi um grande sucesso entre a população de baixa renda do país, sobretudo graças a seu preço mais baixo que o da carne. Esse tipo de parceria claramente queima etapas de trabalho.

Muitas vezes achamos que temos uma grande ideia, mas, quando vamos apresentá-la ao governo ou aos clientes, percebemos que ela pode ter algumas falhas, algum gargalo regulatório ou simplesmente não ser tão inteligente quanto pensávamos.

Quanto antes entendermos os problemas de um projeto, mais cedo chegaremos às respostas — e mais rapidamente levaremos esse produto ao mercado. Esse trabalho é especialmente importante quando falamos de novas tecnologias, que exigem regulação, como modificação genética. Nesse sentido, ter parceiros competentes envolvidos com os projetos pode fazer toda a diferença.”

Resiliência na crise

“Investir em pesquisa é crucial mesmo em períodos de turbulência. Durante a última crise global, em 2008, nosso plano de investimento em inovação foi inteiramente mantido. Anunciamos, naquela ocasião, a primeira expansão do centro de pesquisa de paulínia, num investimento de 14 milhões de reais.


Nos últimos meses, vimos sinais claros de uma crise de confiança global. Mesmo assim, decidimos destinar mais 7 milhões de dólares para esse laboratório. Nossos resultados têm nos mostrado que a inovação ajuda a mover as coisas para a frente mesmo em tempos difíceis, e é por isso que mantemos o foco nisso.”

Ouvir o cliente é vital

“Na Dupont, fazemos inovação, não invenção. Há uma diferença enorme entre uma coisa e outra. Quando você inventa, o que importa é a ideia, não tanto o resultado que ela trará. Inovar, por sua vez, implica transformar ideias em dinheiro. Significa criar algo que o consumidor quer.

Por isso, precisamos ouvi-lo. Uma das maiores inovações da dupont no brasil, um sistema de blindagem para carros 65% mais barato que o tradicional, foi lançada em são paulo no final de 2008, após a companhia conduzir exaustivas pesquisas qualitativas e quantitativas com centenas de consumidores locais.

No méxico, entrevistamos 150 pequenos agricultores para desenvolver um novo sistema de distribuição de nossas sementes de milho. Até então, a empresa tinha dificuldade de chegar a esse público. Após o projeto, conquistamos 70 000 novos clientes, todos pequenos agricultores mexicanos.”

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