Revista Exame

Enquanto os formandos festejam, a Keeper ganha dinheiro

O bilionário mercado de festas de formatura, que custam em média 600.000 reais, atraiu uma fintech paulistana, a Keeper, que já fatura 20 milhões de reais

Mori e Zenatti, da Keeper: plataforma virtual para administrar os recursos e se comunicar com os formandos (Germano Lüders/Exame)

Mori e Zenatti, da Keeper: plataforma virtual para administrar os recursos e se comunicar com os formandos (Germano Lüders/Exame)

DR

Da Redação

Publicado em 31 de janeiro de 2019 às 05h48.

Última atualização em 31 de janeiro de 2019 às 05h48.

O administrador paulista Caio Zenatti, de 32 anos, até hoje lembra em detalhes de sua festa de formatura do ensino médio. Ele estudou no Bandeirantes, um dos colégios mais tradicionais de São Paulo, e fez parte da comissão que organizou o evento. As celebrações de encerramento de curso costumam reunir 5.000 pessoas, contando os alunos e seus familiares. Os próprios estudantes contratam empresas especializadas em eventos e escolhem quanto vão pagar por mês para ter a celebração dos sonhos.

Na formatura das faculdades, a dificuldade de organização e de gestão do dinheiro se mantém. Zenatti começou a acompanhar de perto o mercado de formaturas e seus gargalos e viu que havia oportunidade ali. Em 2014, criou a Keeper, startup de arrecadação e gestão do dinheiro de alunos de cursos universitários com a finalidade de pagar a festa de formatura. “Notamos que havia uma lacuna de negócios que administrassem de forma transparente os recursos financeiros depositados pelos alunos que vão usar o dinheiro para a formatura”, diz Zenatti.

A empresa, lançada no final de 2014, já atendeu mais de 200 turmas de formandos de universidades, como a Católica de São Paulo, a Unicamp e a Mackenzie. No ano passado, a receita da Keeper chegou a 20 milhões de reais. A meta é dobrar em 2019. O negócio ganhou corpo há quatro anos, quando Zenatti conheceu Ricardo Buckup, de 39 anos, fundador de uma das maiores empresas de festas de formatura do país, a B2, de São Paulo. Ambos frequentavam a Endeavor, ONG que oferece apoio a empreendedores. Buckup já havia percebido que existia uma demanda por negócios que se dedicassem exclusivamente a gerenciar o dinheiro dos formandos. Os valores são coletados durante ao menos dois anos para bancar festas que custam em média 600.000 reais.

O mercado de festas de formatura e casamento fatura cerca de 17 bilhões de reais por ano no país. Mais de 1 milhão de universitários se formam todos os anos. Desses, ao menos 40% fazem festas de formatura. Mas é um negócio em que são comuns as histórias de empresas que quebram ou não conseguem entregar o produto prometido, um problema que se acentuou nos últimos anos com a retração econômica e o aumento da inadimplência. O mercado é pulverizado, e está nas mãos de centenas de companhias regionais, que passaram por dificuldades nos últimos anos. Empresas como a Celebração Eventos, do Piauí, e a Original, de Goiânia, faliram em 2018, cancelando mais de 100 festas de formatura que estavam programadas para os próximos anos.

Como os clientes são jovens acostumados a realizar transações online, os sócios decidiram criar uma plataforma virtual. Os empreendedores chamaram Guilherme Mori para participar do negócio. Mori foi coordenador da área de análise de dados e estratégia da 99 (antiga 99 táxis), aplicativo de transporte que, no ano passado, se tornou a primeira startup brasileira a atingir um valor de mercado de 1 bilhão de dólares. No início, todos os clientes vinham por meio de indicações da B2, que já existe há 16 anos e é uma das líderes do setor.

Para expandir a base de usuários, os empreendedores investiram em campanhas em mídias sociais e na comunicação direta com os consumidores. A plataforma permite simulações de festas de diversos jeitos e de quanto é preciso pagar mensalmente para chegar lá. As regras de como será aplicado o dinheiro e o resultado das operações financeiras podem ser acessados, em tempo real, no site da Keeper. É dada preferência a investimentos conservadores, de bancos tradicionais, com perfil de baixo risco. A startup fica com cerca de 5% sobre o valor total depositado pelos formandos. Os rendimentos são devolvidos aos formandos — em média, chegam a 0,5% ao mês.

A Keeper é um exemplo de como as empresas do tipo fintech, as startups financeiras, abrem terreno em nichos de mercado cada vez mais específicos. Hoje, o Brasil já tem algumas centenas de fintechs. A metade delas foi criada de 2016 para cá e, como costuma acontecer em negócios muito novos, apenas 12% conseguiram conquistar faturamento anual superior a 10 milhões de reais, segundo um estudo da consultoria PwC.

Nos Estados Unidos e na Europa, startups de serviços financeiros receberam mais de 40 bilhões de dólares de investimento em 2018, de acordo com uma pesquisa da consultoria KPMG. “O mundo está assistindo a uma expansão desses serviços, que atendem a necessidades específicas de certos públicos e contam com ferramentas de aproximação com os clientes”, diz Oliver Cunningham, sócio em inovação e transformação digital em serviços financeiros da KPMG no Brasil. “Mesmo quem inova num segmento logo ganha novos concorrentes.” A festa da Keeper deve ganhar novos convidados em breve. Para os formandos, quanto mais opções, melhor.

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