Revista Exame

Flexitarianismo: saiba mais sobre a dieta que mistura carnes e vegetais

Adeptos do estilo alimentar transformam os acompanhamentos verdes nos protagonistas das refeições — mas não todo dia

 (EVErything/EVE/Getty Images)

(EVErything/EVE/Getty Images)

JS

Julia Storch

Publicado em 19 de agosto de 2021 às 05h10.

Última atualização em 26 de agosto de 2021 às 14h48.

“O melhor dos dois mundos”, diz Patricia Cavalcante, nutróloga especializada em medicina do estilo de vida, sobre a dieta flexitariana. Sem abrir mão da proteína animal, no flexitarianismo leguminosas e grãos entram no cardápio como substitutos às carnes. Mas não todo dia. Trata-se de uma espécie de segunda-feira sem carne em versão estendida, visto que um bife mal passado ainda é bem-vindo — desde que com parcimônia.

Mais do que um modismo, o flexitarianismo é uma tendência alimentar. Com o aumento das preocupações com a saúde e com o meio ambiente, aceleradas pela pandemia, a adesão a essa dieta passou de 29% em 2018 para 50% em 2020, segundo dados da pesquisa O Consumidor Brasileiro e o Mercado Plant-based, realizada pelo Ibope e coordenada pelo The Good Food Institute (GFI).

É fácil entender a boa aceitação do flexitarianismo. Para quem tem preocupação com saúde e ambiente, mas aprecia um bife suculento, é um caminho bem mais suave do que adotar de vez o vegetarianismo. A pesquisa do Ibope apontou ainda que os entrevistados reduziram a ingestão de carne em 50% durante um ano. Para 47% destes, houve a preocupação de substituir a proteína do prato por legumes, verduras e grãos.

Sem abrir mão da textura e do sabor das carnes animais, alimentos plant-based surgem como uma opção para os flexitarianos e impulsionam o mercado de proteínas alternativas. Nas gôndolas dos supermercados surgem cada vez mais opções de congelados como salmão de ervilha, hambúrguer de beterraba e almôndega de shitake. Atualmente, as foodtechs dos alimentos plant-based ocupam 30% da seção de hambúrgueres congelados da rede de supermercados Pão de Açúcar. Entre elas está a marca The New Butchers. Com produção mensal de 80 toneladas, para além dos discos de carne vegetal, o cardápio da empresa inclui itens pouco convencionais, como peixes vegetais, como bacalhau e salmão.

Para Bruno Fonseca, fundador da marca, a proposta é levar ao consumidor um produto com textura e sabor de carne animal, porém feito à base de plantas. “Para isso usamos tecnologia de extrusão que transforma as fibras vegetais”, diz ele. Com uma planta fabril de 2.000 metros quadrados, a empresa conta ainda com um laboratório de pesquisa e desenvolvimento dos produtos. “Temos uma escolha criteriosa dos ingredientes que inserimos em nossos produtos porque possuí­mos um grande foco na questão da saudabilidade”, explica.

(Curtoicurto/Freeman56/Getty Images)

Para a nutróloga Patricia Cavalcante, porém, é importante ficar atento aos ingredientes dos produtos. “Até que ponto é melhor trocar um alimento pouco processado por outro ultraprocessado?”, questiona. De fato, segundo o relatório, a troca de consumo de carne animal por proteínas vegetais processadas nem sempre é a opção mais saudável. O problema, segundo o relatório do Ibope, pode ser a alta concentração de sódio.

Na tentativa de ser um ponto fora da curva dos alimentos artificiais, o Açougue Vegano faz da alimentação saudável seu posicionamento de marca. Criada em 2016 pelos amigos Celso Fontes e Michelle Rodriguez, a empresa possui restaurantes próprios e seis franquias com delivery no país. Entre os pratos prontos estão moqueca de banana e estrogonofe de shitake e grão-de-bico. Do total de consumidores da marca, 58% não se dizem veganos ou vegetarianos. “Muitas pessoas vão aos nossos restaurantes pela experiência de provar um prato diferente e nem por isso se tornarão veganos e vegetarianos”, comenta Fontes, que se declara flexitariano. Já Rodriguez é vegana há mais de 15 anos.

A marca da dupla carioca já foi degustada pela cantora americana Alicia Keys e pelos músicos do Guns N’ Roses e do Red Hot Chili Peppers em suas passagens pelo Rock in Rio, em 2019. De lá para cá, o número de clientes aumentou, assim como os pedidos de franqueados, que já passam de 300. O Açougue Vegano registrou crescimento de 70% no ano passado em relação ao anterior, com um aumento de 52% em pedidos por delivery. Para Fontes, o diferencial dos produtos está no sabor e na textura. “Muitas vezes os rótulos dos produtos de outras marcas não têm nada de plant-based”, critica o empresário, fazendo referência aos aditivos artificiais presentes na lista de ingredientes. “Prezamos por uma produção natural.” E completa, com o que poderia ser considerado o mantra do flexitarianismo: “O ideal é sempre buscar equilíbrio em tudo”.  

  • No podcast ESG de A a Z, Letícia Gonçalves, CEO global da divisão de nutrição humana da ADM, fala sobre a tendência de consumo que está tirando do prato as proteínas animais, sem aderir ao vegetarianismo. Ouça
Acompanhe tudo sobre:AlimentaçãoAlimentosCarnes e derivadosVegetarianos

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda