Revista Exame

Carlos Carvalho, o dono da Barra da Tijuca

Carlos Carvalho é o maior proprietário de terras da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Aos 87 anos, ele se prepara para construir a Vila Olímpica dos Jogos de 2016

Praia da Barra da Tjuca (Patrícia Figueira/ Creative Commons)

Praia da Barra da Tjuca (Patrícia Figueira/ Creative Commons)

DR

Da Redação

Publicado em 15 de junho de 2012 às 15h49.

Rio de Janeiro - Nos últimos 30 anos, a Barra da Tijuca deixou de ser um grande areal para se tornar o maior canteiro de obras do Rio de Janeiro.

A partir da década de 80, passaram a ser erguidos na região centenas de condomínios residenciais, torres de escritórios, hipermercados, shopping centers e vias de alta velocidade, formando um cenário que lembra cidades americanas, divididas em áreas comerciais e residenciais.

A semelhança é proposital e nem sempre de bom gosto — um dos pontos de referência da avenida das Américas, que corta a região, é uma réplica da estátua da Liberdade, construída em frente a um centro comercial. Hoje, a Barra — na zona oeste carioca — abriga nove de cada dez lançamentos imobiliários do Rio.

O engenheiro Carlos Carvalho, hoje com 87 anos, foi um dos primeiros a enxergar que a cidade encravada entre o mar e as montanhas teria de crescer para algum lugar além de Copacabana e do Leblon. Na visão dele, o areal­ que era a Barra da Tijuca funcionaria como a área de escape para a população de alta renda.

Carvalho comprou os primeiros lotes na região na década de 70, depois de ver o plano diretor traçado pelo amigo arquiteto Lucio Costa, parceiro de Oscar Niemeyer no projeto de Brasília. "Ali, ficou claro que o Rio cresceria naquela direção", diz.

Em poucos anos, ele acumulou 10 milhões de metros quadrados na região. Quase metade deles já se transformou em empreendimentos.

Mas ainda restam 6 milhões de metros quadrados de terrenos em suas mãos. Em um deles será construída a Vila Olímpica, que hospedará 10 500 atletas durante os Jogos de 2016.


Embora o projeto ainda não esteja pronto, sabe-se que o complexo terá cerca de 40 prédios com 2 800 apartamentos. Após o término dos Jogos, eles serão transformados em residências.

Os terrenos de Carvalho chamaram a atenção do Comitê Olímpico Brasileiro por ser vizinhos do complexo onde será realizada a maior parte das competições. O fato de atuar no setor imobiliário lhe rendeu o convite do COB e da prefeitura do Rio para entrar como investidor (com a área) e responsável pela empreitada.

As oportunidades para sua empresa, a Carvalho Hosken, são enormes. Os riscos idem. Primeiro, as oportunidades. Estima-se que a venda dos apartamentos gere 800 milhões de reais, o equivalente a quatro vezes a receita da empresa em 2010.

A Vila Olímpica também deve acelerar o desenvolvimento da região, valorizando outras propriedades de Carvalho — a prefeitura se comprometeu a levar luz e água até o local, além de uma linha de BRT (sigla em inglês para sistema de ônibus de alta velocidade). "Sem a Olimpíada, não seria possível negociar essa área em menos de 20 anos", diz Carvalho.

Agora, os riscos. A Carvalho Hosken terá de se endividar em 1 bilhão de reais para executar o projeto da Vila Olímpica, que dobrará de uma só vez a oferta de imóveis na Barra. Como os preços se comportarão, a partir de então, é impossível dizer. "Se o mercado desaquecer, os apartamentos vão encalhar", diz um executivo do setor.

Carvalho também tem o desafio de desfazer a má impressão deixada pela Vila Pan-Americana, conjunto de 17 prédios erguidos na mesma Barra da Tijuca para receber os 5 000 atletas que vieram para os Jogos Pan-Americanos de 2007. O projeto, da construtora Agenco, gerou e continua gerando muita dor de cabeça para os compradores.

A prefeitura, que deveria construir a estação de esgoto e as ruas de acesso ao local, deu para trás. As ruas foram pavimentadas às pressas e racharam pouco tempo depois. A estação de esgoto começou a ser construída um ano após o fim dos Jogos, quando o governo federal assumiu a obra.


De sucesso de vendas — todos os imóveis foram vendidos no dia do lançamento —, o empreendimento se transformou em um mico gigante para a Agenco, que quebrou depois do episódio.

"Não tenho medo", diz Carvalho. "Faço isso há 60 anos." Ele fundou a empresa em 1951, aos 27 anos, como empreiteira de obras públicas. Logo depois, ingressou no mercado imobiliário. Desde então, a Carvalho Hosken cede o terreno a um incorporador e recebe imóveis prontos como pagamento.

Casado pela terceira vez e pai de quatro filhos, Carlos Carvalho continua trabalhando das 7 da manhã às 7 da noite. Nos fins de semana, costuma visitar empreendimentos, sempre acompanhado pela mulher, a arquiteta Heliana Lustman, 30 anos mais jovem que ele. Centralizador, envolve-se em detalhes dos projetos.

"Certa vez, ele mandou botar granito na portaria de um prédio, para sofisticá-la", diz Rogério Zylbersztajn, sócio da RJZ Cyrela. "Éramos contra, mas, no fim, conseguimos vender os apartamentos por um preço 10% maior." Há 14 anos, Carvalho sofreu seu maior revés. A Encol quebrou enquanto construía o primeiro minibairro projetado pela Carvalho Hosken.

Ele assumiu as obras e as negociações com 1 800 mutuários, pediu empréstimo e finalizou o projeto em quatro anos, com prejuízo de 150 milhões de reais. No caso da Vila Olímpica, Carvalho terá de entregar tudo até dezembro de 2015, oito meses antes de o evento começar. Terá, então, 91 anos.

Acompanhe tudo sobre:cidades-brasileirasEdição 0995EsportesExecutivosMetrópoles globaisOlimpíadasRio de Janeiro

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda