Revista Exame

O capital com jeito americano da Monashees

Especializada em empresas de internet em fase embrionária, a Monashees se consolida como um dos fundos de capital de risco mais ativos do país

Gomes e Tanaka, da Boo-Box: a empresa só existe graças à intervenção da Monashees (Alexandre Battibugli/EXAME.com)

Gomes e Tanaka, da Boo-Box: a empresa só existe graças à intervenção da Monashees (Alexandre Battibugli/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 13 de janeiro de 2012 às 15h56.

São Paulo - O programador brasiliense Marco Gomes tinha 20 anos quando começou a desenvolver, de casa, em seu tempo livre, um software para anúncios em blogs e sites de internet. Gomes tinha talento para programar — mas quase nenhum conhecimento sobre o mundo dos negócios.

A história bem poderia terminar por aí. Mas, cinco anos mais tarde, é possível dizer: Gomes teve a sorte de conhecer os sócios da Monashees, fundo de capital de risco com sede em São Paulo.

Por intermédio do fundo, ele foi apresentado a Marcos Tanaka, um admi­nistrador que conhecia bem os meandros dos negócios online, mas sem nenhum conhecimento técnico.

Foi uma parceria certeira. Três meses depois, os dois receberiam do fundo 300 000 reais para começar a Boo-Box, hoje uma empresa que exibe cerca de 3 bilhões de anúncios por mês pela rede. Três anos mais tarde, a companhia receberia novo investimento de valores não divulgados da Intel Capital, um dos maiores fundos do gênero no mundo.

Histórias como essa não são exceção no portfólio da Monashees, hoje o fundo de venture capital é líder em investimentos em empresas de internet no Brasil.

Criado em 2006, tempos antes do boom de startups, o fundo largou na frente ao reunir interessados em investir em um setor de risco no país (o fundo não revela a origem do capital, mas um dos sócios, Fábio Igel, é ligado à família controladora do Grupo Ultra).

Nos últimos anos, sua equipe vem se especializando na atuação junto a companhias de tecnologia em estágio embrionário (em algumas ocasiões, como no caso da Boo-Box, quando eram apenas uma ideia).

Tipicamente, os aportes são entre 250 000 e 5 milhões de reais. Hoje, a Monashees mantém investimentos estimados em 70 milhões de dólares em 20 companhias, entre elas algumas de destaque na internet brasileira, como Peixe Urbano, de compras coletivas, e Elo7, de venda de produtos artesanais. “Eles apostam nas pessoas”, diz Gomes, da Boo-Box. 


Ao praticamente dobrar o número de companhias investidas neste ano, a Monashees vem conquistando lugar de destaque em meio ao pulsante cenário de investimentos em empresas de tecnologia no país. Segundo a Fundação Getulio Vargas, há atualmente 140 gestores de venture capital e private equity em atividade no Brasil.

Diferentemente da maioria dos concorrentes nacionais, o fundo procura acompanhar o dia a dia das empresas investidas desde os primeiros meses de vida.

Fazem parte da estratégia a ajuda para estabelecer contatos no mercado, o auxílio para resolver burocracias de primeira ordem e reuniões periódicas sobre os rumos do negócio.

“Há muitos fundos que se denominam de venture capital, mas na prática se comportam como fundos de private equity, apostando apenas em empresas estabelecidas e com fluxo de caixa comprovado”, diz Hernan Kazak, ex-diretor do MercadoLivre e fundador do fundo Kaskek Ventures.

O paulistano Eric Acher, um dos sócios da Monashees, traz a experiência de cursos de negócios no exterior e de atuação em consultorias e grupos de investimento estrangeiros, como a General Atlantic. “Nos inspiramos no padrão de quem faz isso muito bem há décadas”, disse Acher durante um evento de comércio eletrônico ocorrido no final de novembro em São Paulo.

Internacional

Ao “arrumar a casa” e, na prática, ajudar a fundar empresas, a Monashees acaba funcionando como plataforma de divulgação da internet brasileira mundo afora. Quando investe em um negócio, é comum atrair a atenção de fundos estrangeiros, entre eles alguns dos maiores, como Accel, Tiger, Bench­mark e Intel Capital.

Com isso, em­preen­dedores nacionais passam a contar com a opinião de profissionais como Kevin Efrusy, gerente-geral da Accel e descobridor de empresas como Facebook e Groupon (em novembro, o fundo anunciou um aporte na elo7 em conjunto com a Monashees).


“Gosto muito da postura profissional do fundo, e é possível que façamos mais investimentos conjuntamente no futuro”, diz Efrusy. A proximidade com práticas do Vale do Silício também faz com que a Monashees traga para o Brasil estratégias de investimento em sintonia com o mercado americano.

Depois de o ator Ashton Kutcher investir em mais de 20 empresas jovens de internet, como Skype, Foursquare e Airbnb, a Monashees ajudou companhias de seu port­fólio a se associar a celebridades do mercado nacional.

Primeiro, o apresentador Luciano Huck fez um aporte no site de compras coletivas Peixe Urbano. Recentemente, Angélica, sua mulher e também apresentadora de TV, tornou-se sócia do site de comércio eletrônico de itens infantis Baby.com.br.

Apesar das conquistas, a Monashees ainda tem desafios sérios pela frente. Um deles diz respeito a uma etapa do ciclo de investimento bastante importante aos olhos do mercado: a saída.

Até hoje, empresas brasileiras de internet produziram poucos exemplos exitosos. O principal deles continua sendo a venda do BuscaPé em 2009 para o grupo sul-africano Naspers por 349 milhões de dólares.

Nenhuma das empresas investidas pela Monashees até agora teve destino parecido. Segundo especialistas de mercado, os primeiros ciclos devem se fechar em dois ou três anos. Já teriam aparecido ofertas de compra para empresas investidas, mas recusadas.

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