O espírito insurgente estimula a inovação cultural e impulsiona mudanças estruturais que constroem negócios mais resilientes (Tatiana Lavrova/Getty Images)
Office head
Publicado em 24 de abril de 2025 às 06h00.
À medida que uma empresa cresce, aumentam a complexidade e os desafios para sustentar seu desenvolvimento. Muitos executivos acreditam que a solução para manter o ritmo dos primeiros anos está no ambiente externo. Acabam focando em encontrar um novo mercado atraente, buscar novas estratégias, ou ir em busca de novos clientes.
No entanto, em 90% dos casos, as barreiras de crescimento estão dentro das próprias organizações, revela uma pesquisa conduzida pelos sócios da Bain & Company Chris Zook e James Allen, apresentada no livro A Mentalidade do Fundador. “Crescimento traz complexidade e a complexidade é a exterminadora silenciosa do crescimento”, resumem os autores na primeira frase do livro. Entre os obstáculos internos ao crescimento estão o distanciamento da linha de frente ou a proliferação de processos e burocracias.
Esses obstáculos são naturais no contexto de expansão das companhias, que acabam passando por crises previsíveis em momentos esperados. Acomete, mostram Zook e Allen, mesmo empresas saudáveis. No entanto, se essas questões não forem endereçadas corretamente, podem limitar o avanço e até levar ao declínio do negócio.
Com base em estudos realizados ao longo de uma década em mais de 40 países, Zook e Allen destacam três traços fundamentais que caracterizam companhias de alta performance. “São empresas com foco e senso de missão claros, que todo trabalhador entende e com os quais se identifica”, dizem os autores. Esses princípios — cabeça de dono, obsessão com a linha de frente e espírito insurgente — formam o que chamam de “mentalidade do fundador”, um modelo que resgata a velocidade, o foco e a conexão com os clientes. São princípios que estão cada dia mais atuais num momento de grande transformação no ambiente global de negócios. Aplicar a mentalidade do fundador no cenário atual não significa apenas sobreviver às mudanças, mas garantir um crescimento sustentável aliado à manutenção da cultura de cada companhia.
Cabeça de dono
Empresas que cultivam a mentalidade de dono esperam que seus colaboradores atuem com autonomia, assumam responsabilidades e evitem burocracias que dificultem a inovação. Esse modelo de gestão incentiva um ambiente mais dinâmico, no qual a progressão de carreira e o reconhecimento têm como base desempenho e impacto, e não apenas redes de relacionamento ou dinâmicas internas.
Além disso, estruturas organizacionais com menos entraves administrativos favorecem a tomada de decisão ágil e o protagonismo dos funcionários, impulsionando uma cultura organizacional focada em resultados. Esse modelo estimula os times a se envolverem mais ativamente nos desafios do negócio, promovendo inovação e maior engajamento.
Os números também comprovam a importância de manter a “cabeça de dono”. Um estudo da Purdue’s Krannert School of Management revelou que empresas lideradas por seus fundadores geram 31% mais patentes, desenvolvem soluções de maior valor e têm maior propensão a investir na renovação e na adaptação de seus modelos de negócios. Essa postura impulsiona a inovação, fortalece a competitividade e prepara as empresas para o futuro.
Obsessão com a linha de frente
Organizações que mantêm uma forte conexão com a linha de frente garantem que a experiência de clientes e colaboradores seja a base das tomadas de decisão. Esse princípio reforça a importância de ouvir diferentes perspectivas dentro da empresa e adaptar estratégias de acordo com as reais necessidades do mercado.
Empresas que priorizam esse contato direto com clientes e equipes operacionais conseguem, ao mesmo tempo, melhorar seu desempenho e aumentar a fidelização e a satisfação do consumidor. Comprovando esse conceito, pesquisas da Bain mostram que companhias com as mais altas pontuações no Net Promoter Score (NPS), métrica que avalia o nível de contentamento dos clientes, proporcionam a seus acionistas retornos totais de duas a três vezes o valor médio de mercado.
Espírito insurgente
O espírito insurgente representa a capacidade de desafiar o status quo e buscar constantemente novas oportunidades de crescimento. Organizações que cultivam esse traço mantêm uma cultura de experimentação contínua, na qual questionar normas tradicionais e propor soluções inovadoras são práticas incentivadas.
Esse ambiente favorece a transformação corporativa sustentável, permitindo que a empresa se mantenha competitiva. O espírito insurgente estimula a inovação cultural e impulsiona mudanças estruturais que ajudam a construir negócios mais resilientes e preparados para desafios futuros.
Em um cenário de constante transformação, empresas que incorporam os princípios da “mentalidade do fundador” têm maior potencial de expansão e inovação, garantindo sua relevância no longo prazo. Ao fortalecerem a autonomia, a conexão com a linha de frente e a cultura de questionamento, as organizações evitam que a burocracia e a complexidade comprometam seu desempenho. Esse pode ser um diferencial decisivo para que as companhias alinhem seu propósito à estratégia e ao modelo de negócios, ganhando robustez para enfrentar desafios estratégicos em sua trajetória.