Sede da Yahoo! (Noah Berger/Bloomberg/Bloomberg)
Filipe Serrano
Publicado em 8 de maio de 2017 às 05h55.
Última atualização em 8 de maio de 2017 às 07h21.
São Paulo — A AOL e o Yahoo são dois dinossauros da web. A primeira fez sucesso nos anos 90 com um serviço de internet discada. O segundo começou com um diretório de sites e ficou popular com um portal de notícias e um serviço de e-mail. Em junho, as duas empresas deverão começar a operar sob o mesmo guarda-chuva assim que os acionistas do Yahoo derem o voto final para aprovar a venda do site para a dona da AOL, a operadora americana Verizon, por 4,5 bilhões de dólares.
O negócio foi acertado em 2016, mas demorou para ser concluído depois que o Yahoo descobriu um roubo de dados de 1 bilhão de usuários. Quem ficará no comando é o americano Tim Armstrong, presidente da AOL e ex-presidente para as Américas do Google. Em entrevista a EXAME, Armstrong diz que o Brasil será uma peça-chave para a nova empresa.
EXAME: A AOL e o Yahoo estão prestes a se unir sob uma mesma companhia. Como pretende consolidar operações tão grandes e variadas?
Armstrong: Nada vai mudar na operação de cada um de nossos sites e serviços que hoje estão sob o comando da AOL ou do Yahoo. Os sites de notícias da AOL, como o Huffington Post e o TechCrunch, e as páginas do Yahoo vão continuar a ter equipes separadas. No entanto, criamos uma holding, chamada Oath, que reunirá os sites de ambas as empresas e será responsável por investir neles.
São mais de 25 serviços online diferentes. Em relação ao Brasil, espero trazer em breve os sites de notícias da AOL, como o TechCrunch e o Engadget, que cobrem a indústria de tecnologia. E, assim que a venda do Yahoo for concluí-da, também quero ampliar alguns serviços no Brasil, como o Yahoo Esportes, que faz a cobertura esportiva, e o Yahoo Finanças, que reúne informações para o mercado financeiro.
EXAME: A AOL saiu do Brasil em 2006, quando a economia do país crescia, e reabriu um escritório há um ano e meio, em plena recessão. Por que voltar a investir no Brasil neste momento?
Armstrong: Apesar de o Brasil ter passado por uma profunda recessão, isso não muda o tamanho do mercado consumidor e o potencial dele para nós. Nossa ambição na AOL é voltar a ser uma companhia global como fomos no passado, e não há como fazer isso sem estar no mercado de internet brasileiro. O Brasil tem mais de 200 milhões de habitantes, e boa parte da população já tem smartphone com acesso à internet e usa com frequência os serviços online, como as redes sociais. Não existem muitos países nessa situação. O Brasil é uma das economias mais importantes do mundo, e isso não mudou. Tenho dificuldade de encontrar um motivo para não investir no país.
EXAME: A recessão e a crise política não são motivos grandes o suficiente?
Armstrong: Não. O que importa para nós é o potencial do mercado. Quando trabalhei no Google, até 2009, supervisionava a operação brasileira e sei quanto o faturamento no Brasil pode ganhar importância dentro da empresa.
EXAME: Que potencial é esse?
Armstrong: É o crescimento da publicidade digital, nossa maior fonte de receita. Mesmo na recessão, os investimentos em publicidade online cresceram 26% no Brasil em 2016, para 11,8 bilhões de reais. Nossa estimativa é que, em 2020, esse valor chegue a mais de 15 bilhões de reais, ou 5 bilhões de dólares, o que é imenso. Só a publicidade nos smartphones deverá aumentar 60% até lá. É impressionante como esse mercado continua aquecido.
EXAME: Por que o mercado digital prospera na contramão da economia?
Armstrong: A principal razão é que milhões de brasileiros têm um aparelho com acesso à internet, e essas máquinas estão ficando cada vez mais rápidas, mais personalizadas. Isso atrai as empresas que desejam promover seus produtos entre os consumidores por esses canais. O meio digital é um vento de cauda para os negócios. É preciso aproveitá-lo.