Sede da Moblee, em Florianópolis: a startup recebeu 3 milhões de reais em investimento (Divulgação/Exame Hoje)
Da Redação
Publicado em 5 de outubro de 2017 às 05h12.
Última atualização em 5 de outubro de 2017 às 05h12.
Em Santa Rita do Sapucaí, cidade de 42.000 habitantes do sul de Minas Gerais, uma novidade repercute entre os moradores. Uma empresa local, a Alarmes Santa Rita, acabou de inventar uma tornozeleira eletrônica e se prepara para disputar uma licitação para fornecer 5.000 unidades para a Secretaria de Segurança Pública do estado.
Em tempos de Operação Lava-Jato e de mandados de prisão domiciliar em alta, o aparelho promete bateria de longa duração e melhor conectividade com as autoridades da Justiça. A tornozeleira embute tecnologias desenvolvidas no polo mineiro, que tem 153 indústrias e fatura 3 bilhões de reais por ano, majoritariamente com produtos eletrônicos.
Espalhados por cidades de vários pontos do Brasil, cerca de 30 núcleos de inovação tentam criar produtos e serviços para a nova economia digital. Outros 90 estão em projeto. A maioria dos polos depende de algum incentivo estatal. “A maneira mais rápida de mudar a base econômica de nossas cidades e do estado é com tecnologia”, diz Leonardo Dias, um dos principais líderes do Seed, programa governamental de aceleração de Minas Gerais que em 2017 investiu 6 milhões de reais em 40 startups — metade delas mineira. “Não podemos contar com o minério para sempre.”
Ainda que remotamente, e guardadas as devidas proporções, os polos brasileiros tentam tirar lições do que ocorre no Vale do Silício, na Califórnia. “O Vale deve ser visto como um modelo, como um referencial, mas precisamos encontrar os próprios caminhos de desenvolvimento”, diz Daniel Leipnitz, presidente da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia.
Estima-se que no Brasil estejam em operação hoje 5.000 startups, mais da metade delas concentrada nas capitais de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Minas Gerais. O ecossistema por aqui ainda é considerado pequeno e pouco inovador.
O Brasil ainda não produziu nenhuma companhia considerada unicórnio, aquelas com avaliação de mais de 1 bilhão de dólares (uma das candidatas da vez é a startup de finanças Nubank, nascida na cidade de São Paulo). O volume de investimentos no setor, porém, é cada vez mais significativo. De 2011 a 2015, cerca de 1,3 bilhão de dólares foram alocados em startups brasileiras.
Um dos ecossistemas mais atuantes no país é o de Florianópolis, em Santa Catarina, com 900 empresas na área de tecnologia e que faturam 5 bilhões de reais. Boa parte delas orbita em torno da universidade federal do estado. Muitas nasceram dentro da instituição de ensino ou dependem fortemente de mão de obra formada lá.
Esse é o caso da Moblee, fundada em 2011, que desenvolveu um aplicativo corporativo para que organizadores de eventos se comuniquem com os participantes. “Estamos vendo que muitas startups que começaram há cinco anos estão ganhando escala e se tornando referências em seus mercados”, diz André Rodrigues, um dos fundadores da Moblee. “Ainda precisamos amadurecer muito, mas é bom ter exemplos que dão certo.” Em maio, a empresa de Floripa recebeu uma rodada de investimentos de 3 milhões de reais.
Os entraves para as startups no Brasil são os de sempre, mesmo em cidades que querem incentivar as empresas de tecnologia. No bairro de São Pedro, em Belo Horizonte — apelidado de “San Pedro Valley”, uma alusão ao Vale do Silício —, a startup Monetus, de gestão robotizada de investimentos, levou cinco meses para ser registrada. “O tempo que se gasta com os trâmites legais é um desperdício”, diz Daniel Calonge, fundador da Monetus.
Por outro lado, os custos mais baixos na capital mineira têm dado mais fôlego para contratar talentos. Belo Horizonte tem hoje 200 startups, além de incubadoras, laboratórios de pesquisa e espaços de trabalho compartilhado. A redução da burocracia seria um incentivo bem-vindo — lá e em outras cidades do país.