Teo Musso com suas cervejas artesanais: depois de anos de um trabalho de convencimento, o empresário conquistou parte do público italiano
Da Redação
Publicado em 7 de outubro de 2011 às 15h38.
São Paulo - Aregião do Piemonte, no norte da Itália, é conhecida há séculos como berço do vinho Barolo, um dos melhores exemplares da produção vinícola do país. Nos últimos anos, o Piemonte também passou a ser reconhecido como o local de origem das microcervejarias italianas.
Foi na terra da uva nebbiolo que o empresário piemontês Teo Musso, de 48 anos, passou a produzir sua Birra Baladin nos anos 90 e deu início a um movimento que hoje reúne 380 produtores em todo o país. Irreverente, Musso não esconde que sua intenção era chocar: “Era rebelde e buscava desafiar meu pai com a cerveja”, disse Musso a EXAME.
Filho de agricultores envolvidos com a produção de vinho, Musso abriu um bar de cervejas europeias artesanais na cidade de Piozzo, no Piemonte, em 1986. “A minha revolução pessoal se resumia a aumentar a atenção dada à cerveja na Itália”, conta.
Anos depois, Musso mudou-se para a Bélgica, país de forte tradição cervejeira, para estudar técnicas de produção da bebida. Ao voltar para a Itália, em 1996, deu início à produção de cerveja em barril em seu bar.
O nome Baladin (comediante ambulante, em francês) é uma homenagem ao mundo do circo, uma de suas paixões. “A Itália é ligada à cerveja clássica, amarga e loira, mas eu queria fazer um produto com sabores distintos”, diz.
A reação inicial dos clientes de seu bar foi catastrófica. “Com a exceção de parentes e amigos próximos, quase ninguém gostou do meu chope”, relembra.
Mas a aceitação ruim não acabou com seu sonho de produzir na Itália uma cerveja gourmet de qualidade. Na época, no final dos anos 90, ganhava força no país o movimento slow food, que promovia a gastronomia local.
Musso apostou no uso de ingredientes locais na fabricação da bebida e, além do chope, passou a engarrafar suas cervejas para ser vendidas país afora.
Para conquistar o consumidor italiano, a estratégia foi divulgar o produto em 500 restaurantes, pedindo a seus proprietários que oferecessem cerveja aos clientes que não quisessem vinho.
“Queria associar a imagem da minha cerveja ao mundo gourmet”, diz. O processo, porém, não foi fácil. Muitos donos de restaurante compravam a bebida só para consumo pessoal, optando por não oferecê-la aos clientes.
Sucesso
Aos poucos os italianos foram despertando o interesse para os sabores e as cores singolari das cervejas artesanais. “O vinho sempre foi a estrela do show, mas a Itália viu que também pode produzir cervejas ótimas e food friendly como os vinhos”, diz Lauren Buzzeo, crítica da revista americana Wine Enthusiast.
Nos últimos anos, as microcervejarias se multiplicaram à medida que a demanda aumentou. Uma pesquisa da AssoBirra, associação da indústria da cerveja italiana, revelou que, em 2010, 36 milhões de italianos consumiram cerveja, 7 milhões a mais que em 2009.
“Com produtos novos e técnicas diferenciadas, a Itália está surpreendendo na produção de cervejas”, afirma o sommelier de cervejas Eduardo Passarelli, dono do bar Melograno, em São Paulo.
Atualmente, a Baladin tem 8 000 pontos de venda na Itália e é exportada para 15 países, incluindo o Brasil. Dado o sucesso dos últimos anos, hoje o trabalho de Musso não se restringe à produção da cerveja. Seus negócios na Itália incluem um restaurante, um hotel e dois bares de cervejas artesanais.
No exterior, tem um restaurante no Marrocos e um bar na Quinta Avenida, em Nova York, em parceria com o chef americano Mario Batali. Em novembro, Musso vai lançar duas cervejas produzidas em barris de vinho, obtidos de algumas das principais vinícolas italianas.
“É uma homenagem ao mundo do vinho e também a meu pai, que nunca entendeu minha opção pela cerveja”, diz Musso, o filho rebelde que, ao se rebelar contra a figura paterna, transformou a imagem da birra na Itália.