Revista Exame

Biotecnologia, a nova arma contra o câncer

Os medicamentos biotecnológicos avançam na descoberta de tratamentos para a doença e viram uma obsessão para as farmacêuticas

José Perez, presidente da Recepta: 50 milhões de reais para pesquisas (Germano Lüders/EXAME.com)

José Perez, presidente da Recepta: 50 milhões de reais para pesquisas (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 17 de julho de 2012 às 18h20.

São Paulo - Avastin, Humira, Rituxan, Enbrel, Lantus, Herceptin e Remicade. Esses são os nomes de sete medicamentos que até 2014 devem estar no ranking dos dez maiores do mundo em termos de receita, segundo a EvaluatePharma, uma das principais consultorias do setor.

Todos são fruto de uma frente de pesquisas promissora, a biotecnologia. Em vez de componentes químicos, a técnica usa células e outros organismos vivos para tratar doenças. Em 2000, havia apenas um biotecnológico na lista das dez drogas que geravam mais receitas para as farmacêuticas.

Hoje eles são cinco — indicados para tratar doenças que vão de artrite a diabetes. Esse crescimento se deu em parte por razões científicas. A evolução da engenharia genética e o mapeamento do genoma humano, concluído em 2003, permitiram aos cientistas desenvolver pesquisas para tratamentos mais eficazes.

Como as substâncias dos biotecnológicos caem na circulação sanguínea e só atacam as células que se combinam com seu antídoto, esses remédios causam menos efeitos colaterais e são considerados ideais para pacientes com  tumores. Nesse sentido, diferem de tratamentos como a quimioterapia, que combate qualquer célula que se reproduza rapidamente, mesmo saudável.

Na lista das drogas que mais faturam hoje, duas são biotecnológicas indicadas para o tratamento de câncer — número que deve crescer nos próximos anos. 

O interesse dos laboratórios pelos remédios feitos de células e organismos vivos tem também uma razão mercadológica. Recentemente, as patentes de alguns dos mais lucrativos medicamentos químicos começaram a expirar.

A fórmula do Lipitor, indicado para o tratamento do colesterol e, até o ano passado, detentor do título de remédio com maior faturamento do mundo, passou a ser compartilhada com os fabricantes de genéricos em março de 2010. Neste ano, o mesmo vai acontecer com outros 12 remédios de Roche, Novartis e outras companhias, que terão perda anual de 27 bilhões de dólares de receita até 2015.

“As corporações estão investindo em biotecnologia numa tentativa de recuperar uma parcela das fontes de receita perdidas”, diz Michael Rosen, vice-presidente do ForestCity, grupo que controla o parque tecnológico do Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Para os grandes laboratórios, as pesquisas em biotecnologia representam um vasto campo a ser explorado — uma realidade diferente das investigações com drogas químicas, há décadas o foco do setor. 


Uma das peculiaridades dos biotecnológicos é que a pesquisa e o desenvolvimento nessa área são mais caros do que a produção de remédios químicos. Por ser personalizados, é difícil testá-los em grande escala. Habituados às pesquisas químicas, alguns laboratórios deixaram o novo campo de lado por vários anos.

Numa tentativa de recuperar o tempo perdido, partiram para a aquisição de grandes empresas de biotecnologia — foi  o que fez a Pfizer ao comprar a Wyeth por quase 70 bilhões de dólares. Recentemente, o setor vem seguindo a lógica do mercado de internet, em que grandes corporações pagam bilhões por pequenas empresas que desenvolvem uma tecnologia considerada promissora.

Em abril, a inglesa AstraZeneca comprou por 1,2 bilhão de dólares a americana Ardea Biosciences, que estuda medicamentos para alguns tipos de câncer com menos de 100 funcionários. De certa forma, foi como a aquisição do aplicativo de fotografia Instagram pelo Facebook.

O que tem atraído a atenção das farmacêuticas em especial são as empresas dedicadas à pesquisa de um ou mais dos cerca de 200 tipos de câncer catalogados. Ao comprá-las, ganham alguns anos de pesquisa — em outras palavras, usam as aquisições como estratégia para atalhar o caminho até o lançamento de um remédio.    

No Brasil, a biotecnologia, embora nu­ma escala menor, também tem atraí­do investimentos. Após receber 50 milhões de reais de vários fundos, a Recep­ta Biopharma, de São Paulo, passou a desenvolver uma droga para combater o câncer de ovário batizada de RebmAb.

Baseado no que foi feito até agora, o Food and Drug Administration, órgão regulador americano, deu recentemente uma validação preliminar à fase final de testes.

Em março, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social anunciou investimentos em duas empresas: a Bionovis, formada pelos laboratórios Aché, EMS, Hypermarcas e União Química, e outra empresa ainda sem nome, dos laboratórios Biolab, Cristália, Eurofarma e Libbs.

Cada uma recebeu 500 milhões de reais. Mesmo os maiores entusiastas da biotecnologia concordam que os remédios químicos vão continuar sendo a grande fonte de receitas do setor — acima de 70% do faturamento global pelo menos até 2016.

Mas o futuro parece claro: a fronteira estará cada vez mais ligada à biotecnologia. É nela, também, que reside a esperança dos 12 milhões de pessoas diagnosticadas com câncer todos os anos.

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