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Até agora o tigre mexicano só miou

O México iniciou 2013 como o “queridinho do mercado”, mas uma economia fraca e dúvidas sobre o futuro das reformas tiraram o brilho do “Tigre Asteca”. A lua de mel vai voltar?


	Peña Nieto: o maior teste do presidente do México será  aprovar a reforma do setor de petróleo
 (AFP)

Peña Nieto: o maior teste do presidente do México será  aprovar a reforma do setor de petróleo (AFP)

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Da Redação

Publicado em 25 de novembro de 2013 às 05h00.

São Paulo - O presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, do PRI, assumiu em grande estilo em dezembro do ano passado. Um dia depois de sua posse, reuniu algumas das principais figuras da oposição no Castelo de Chapultepec, uma construção histórica na capital mexicana, e formalizou o que ficou conhecido como Pacto pelo México — o acordo para aprovar as reformas estruturais prometidas durante sua campanha eleitoral.

Ato contínuo, o México caiu nas graças dos investidores e passou a ser chamado de “Tigre Asteca”, uma versão latina das economias asiáticas de rápido crescimento. Passado quase um ano da cerimônia, porém, Peña Nieto e seu país perderam boa parte de seu charme.  

Em seu último comunicado, o Banco Central do México diminuiu a previsão de crescimento para este ano de algo entre 2% e 3% para entre 0,9% e 1,4%. De acordo com o FMI, as economias emergentes vão mesmo crescer menos em 2013 do que se esperava no início deste ano, mas a correção feita recentemente no caso mexicano foi uma das mais drásticas.

Em vez de 2,9%, a nova estimativa é 1,2%. Caso se confirme, será o pior desempenho desde 2008. “Logo após as eleições, os investidores ficaram muito otimistas com as perspectivas de reformas. Agora, com a economia em marcha lenta, estão mais cautelosos”, diz Lisa Schineller, analista responsável pelos ratings do México na agência de classificação de risco Standard & Poors.

A queda das expectativas para este ano tem razões pontuais. No segundo trimestre, a economia retraiu 0,7% em relação ao primeiro por causa, principalmente, do recuo das exportações para os Estados Unidos e da queda da entrada de recursos enviados por mexicanos — dois pontos pelos quais o atual governo pode argumentar não ser responsável.

São crescentes, porém, as dúvidas sobre a capacidade de Peña Nieto de promover a prometida reforma energética, que pretende quebrar o monopólio da estatal Pemex na exploração e no refino do petróleo. O México possui uma das dez maiores reservas de petróleo do mundo, mas a Pemex é hoje uma empresa ineficiente e sem capacidade de investimento.

É por isso que a produção caiu 25% desde 2004 e o país virou importador de derivados de petróleo e gás. “Como o petróleo de fácil extração está se esgotando, o desafio da Pemex será muito maior”, diz John Padilla, sócio da IPD, consultoria americana da área de energia e infraestrutura.


Pelos cálculos do governo, a reforma do setor permitiria aumentar a produção de petróleo em 1 milhão de barris por dia no prazo de cinco anos, o que poderia elevar o crescimento do PIB em 1 ponto percentual. “Aprovar a reforma energética é um passo tão importante quanto foi o ingresso do México no Nafta”, diz Duncan Wood, diretor do centro de estudos sobre o México do Wilson Center.

O histórico de Peña Nieto

Desde setembro, a proposta de mudança do setor de petróleo está sendo debatida no Senado, mas lideranças dos partidos de oposição que fazem parte do Pacto pelo México já disseram que são contra. Andrés Manuel López Obrador, principal nome do esquerdista PRD, enviou, no começo de novembro, carta para as grandes petroleiras estrangeiras pedindo para não investirem no país.

Com o objetivo de manter o monopólio, em vigor desde 1938, a oposição lançou uma campanha pela televisão e pretende tomar as ruas. Até o início dos debates sobre o futuro da Pemex, o histórico das reformas de Peña Nieto tinha resultados parcialmente positivos.

Em abril, o Congresso aprovou um teto de 50% para a participação de mercado das empresas de telecomunicações — uma ameaça ao poder do bilionário Carlos Slim, dono de uma fatia de mais de 70%. Mas a imposição da medida segue dependendo de uma lei complementar ainda não aprovada.

Em outubro, o governo passou uma reforma fiscal cujo objetivo era ampliar a arrecadação em até 4 pontos percentuais do PIB. O que foi votado, no entanto, deverá chegar, no máximo, a 2,5%. O México tem uma carga tributária de 14% do PIB, a brasileira é de 36%, o que acaba limitando o poder de investimento do Estado. 

Com o apoio dos partidos de direita, o governo mexicano ainda tem chance de ver a proposta de reforma energética aprovada. Se isso ocorrer, a questão será o grau de abertura que as petroleiras estrangeiras terão. Peña Nieto ainda pode se provar o grande reformador que encantou o mundo. Mas o teste de verdade começa agora.

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