Revista Exame

As startups na Agenda 2030

Os desafios sociais e ambientais viram oportunidades de negócios para jovens empreendedores, aliando inovação com uma visão de longo prazo

Não basta colocar inteligência artificial no modelo de negócios e não aplicá-la de maneira responsável nas oportunidades aos funcionários  (iStock/Getty Images)

Não basta colocar inteligência artificial no modelo de negócios e não aplicá-la de maneira responsável nas oportunidades aos funcionários (iStock/Getty Images)

Rachel Maia
Rachel Maia

Fundadora e CEO da RM Cia 360

Publicado em 23 de fevereiro de 2024 às 06h00.

Uma de minhas metas para 2024 é contribuir com mais afinco para que as práticas sustentáveis e os direitos humanos tenham alcance significativo nos novos negócios. Tenho observado que o “social” é, sem dúvida, um dos pontos altos em comum entre as empresas que oportunizam um ambiente de trabalho plural, com práticas inclusivas e de inovação rumo à Agenda 2030, definida pela Organização das Nações Unidas (ONU). O objetivo dessa agenda é desenvolver estratégias contra problemas como pobreza, fome, doenças e violência. A ideia é promover direitos humanos, inclusão e sustentabilidade.

As empresas têm um papel cada vez mais ativo ao priorizar essa agenda dentro de seus modelos de negócios. Como conselheira e investidora, percebo que chegou o momento de trazer para a roda dos debates os jovens e idealizadores de startups. Inovação e tecnologia caminham juntas naturalmente no modelo de negócios das startups, permitindo que liderem transformações em setores como comunicações, mobilidade, consumo. Agora, cada vez mais, os desafios sociais e ambientais entram na mira desses negócios, naturalmente ágeis.

As startups nascem com o objetivo de atender a demanda do momento, um modelo de negócios que se apresenta em sua maioria com time pequeno e voltado para ações tecnológicas e de soluções rápidas. Hoje sabemos que, em média, 45% das startups brasileiras têm até três colaboradores, apenas. Precisam mudar continuamente, para se adaptar às circunstâncias e abraçar novas oportunidades. Por isso, naturalmente, são early adopters de soluções como inteligência artificial (IA). A boa notícia é que um grupo crescente de empreendedores percebe que potencializa sua possibilidade de sucesso ao alinharem tecnologias de curto prazo com uma visão de negócios sustentável mirando o longo prazo — tanto da porta para fora quanto da porta para dentro.

Não basta colocar IA no modelo de negócios e não aplicá-la de maneira responsável visando novas oportunidades de empregabilidade e, também, de reskilling (ou requalificação), preparando e direcionando colaboradores para novos postos de trabalho a partir de suas soft skills (as habilidades pessoais). Para chegar a esse ponto de maneira assertiva é fundamental olhar o lugar em que estamos, para onde estamos seguindo e os resultados que almejamos.

O novo “bate à porta” e os avanços são necessários para o bom funcionamento e a organização social e de crescimento nos meios corporativos. Dessa forma, as empresas se deparam com o remanejamento de colaboradores (reskilling) e a expansão de oportunidades para novos talentos (upskilling). Ou seja: as startups, que já somam mais de 12.000 no Brasil, de acordo com pesquisa, utilizam cada vez mais práticas voltadas para os contextos sociais, socioambientais e econômicos, fazendo uso da tecnologia como ferramenta principal.

Já as empresas de médio e grande porte precisam estabelecer novas práticas de desenvolvimento, produção e expansão, incluindo na agenda da companhia consultoria especializada para atender às ações estabelecidas e implementar inovação de maneira responsável, equilibrada, consciente e assertiva. As novas disposições da Resolução CVM 59, que entrou em vigor em 2023, trazem a urgência das empresas se atualizarem e incluírem práticas ESG (environment, social and governance — meio ambiente, social e governança) no seu dia a dia. A resolução demanda que as empresas publiquem suas ações referentes a práticas sustentáveis. Investir em ESG, hoje, não é só uma vantagem competitiva, como também, cada vez mais, uma condição obrigatória para uma grande empresa fazer negócios. O mesmo passa a valer também para as startups.

Segundo mapeamento do ecossistema brasileiro de startups de 2023 da ABStartups, 59,4% consideram o apoio à diversidade como muito importante, e 29,4% praticaram ação de diversidade no processo seletivo. Revolução é a palavra de ordem e movimentação consciente é o que define o equilíbrio de um negócio que utiliza a tecnologia para avançar, mas que depende do social para existir.

A revolução digital vem munida de mudanças significativas, colocando à prova a maneira como olhamos para o todo. Os avanços tecnológicos propiciaram ganhos importantes na área da saúde tanto para o setor quanto para os pacientes. Ressalto a relevância de praticar o social enquanto negócio para fomentar as práticas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela ONU.

Soluções pensadas para atender o objetivo 6, “Água limpa e Saneamento”, são um ponto importante, pois afetam a saúde e a segurança da sociedade como um todo. O fator climático e os acontecimentos dos últimos meses escancararam o racismo ambiental, as mazelas e a vulnerabilidade de pontos específicos das cidades que sofrem com a falta de planejamento e estrutura socioambiental. Considerar a aplicabilidade da tecnologia e como as startups estão trazendo soluções para atender essa demanda são iniciativas que valem nossa atenção e engajamento. Tratarei dessas ações em textos futuros.

Esta passagem é para contextualizar sobre outras maneiras de pensar em soluções tecnológicas para além das redes sociais, e-commerce e -ChatGPT. É fato que a tecnologia traz discussões sobre uso e comportamento, mas traz também novas ferramentas que podem contribuir para a ampliação dos mecanismos de acesso a bens e serviços.

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