Revista Exame

"As pessoas riam da Petrobras"

Um dos maiores especialistas do mundo em petróleo, West diz que, hoje, a empresa brasileira é uma potência e a ingerência do governo não é um problema tão grave

West: para ele, os planos de investimento das empresas nunca ocorrem como planejado (André Valentim/EXAME.com)

West: para ele, os planos de investimento das empresas nunca ocorrem como planejado (André Valentim/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h38.

Lidar com governos pode ser um problema maior para as petroleiras privadas Exxon e Shell do que para a Petrobras, que está se tornando uma das líderes mundiais na exploração de petróleo. A opinião é de J. Robinson West, um dos maiores especialistas do mundo no setor, fundador da consultoria PFC Energy, com sede em Washington.

1) EXAME - Existe interferência estatal na indústria do petróleo. Isso é um problema?

J. Robinson West - Depende. Para companhias como Exxon e Shell, que precisam negociar com governos como o do Iraque e de outros países problemáticos, é. É mais difícil que o interesse do Estado nesses locais seja igual ao das empresas. No Brasil, a situação é bem diferente.

2) EXAME - Como assim?

J. Robinson West - O governo brasileiro quer desenvolver o setor de petróleo porque é estratégico para o país, e isso cria um ambiente favorável para a Petrobras. A indústria internacional de petróleo está mudando — as empresas estatais estão assumindo um papel mais importante por terem mais recursos para investir e mais reservas.

3) EXAME - Em que a Petrobras leva vantagem em relação a suas concorrentes internacionais?

J. Robinson West - A empresa tem um plano de investimento ambicioso, apoiado no gigantesco potencial do pré-sal, e um histórico positivo no desenvolvimento de novas tecnologias. As pessoas riam da Petrobras quando a companhia começou a explorar petróleo em águas profundas. Hoje, ela é reconhecida como líder nesse segmento no mundo.

4) EXAME - É possível que parte dos investimentos da empresa fique no papel?

J. Robinson West - Os projetos nunca ocorrem de acordo com o planejado — podem ir melhor ou pior. Mas a Petrobras provou que é uma das mais bem preparadas para tocar projetos de longo prazo. As empresas do Oriente Médio não criaram novas tecnologias. A exploração, ali, é muito mais simples e barata. Eu não usaria a Petrobras para operar no deserto, mas, no que ela faz, é campeã.

5) EXAME - A Petrobras precisa usar fornecedores locais em parte dos projetos. Isso não é um gargalo?

J. Robinson West - A exigência do conteúdo local é sempre um desafio, mas que existe em muitos países, como Noruega e Reino Unido.

6) EXAME - Quais devem ser as consequências do desastre da British Petroleum para o setor?

J. Robinson West - A regulação deve ficar mais dura. É preciso evitar descaso com a segurança e garantir que as empresas estejam preparadas para agir rapidamente quando houver problemas. A BP não fez nem uma coisa nem outra.

7) EXAME - O desastre pode afetar a exploração do pré-sal?

J. Robinson West - A Petrobras e o governo brasileiro precisam ter um plano de emergência consistente, e acho que têm capacidade de fazer isso. Os padrões da empresa melhoraram muito depois da perda da plataforma P-36, no começo da década.

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