Revista Exame

Trump tem início de mandato arrasador em muitas frentes — e com recorde de medidas desde a 2ª Guerra

Presidente fez mudanças profundas em diversas áreas nos primeiros meses no cargo, e agora ele e o mundo precisarão lidar com as consequências disso

Donald Trump: presidente dos EUA assinou mais de 100 ordens executivas antes de completar três meses no cargo (Chip Somodevilla/Getty Images)

Donald Trump: presidente dos EUA assinou mais de 100 ordens executivas antes de completar três meses no cargo (Chip Somodevilla/Getty Images)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 24 de abril de 2025 às 06h00.

Move fast and break things (“mova-se rápido e quebre coisas”), o lema adotado pelo Facebook em seus primeiros anos, resume o começo do segundo mandato de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. O republicano não tem apenas agido rápido, mas também em muitas frentes. Até 9 de abril, ele havia assinado 123 ordens executivas. É o maior volume desde 1945, quando Harry Truman emitiu 139 delas no começo do governo, no final da Segunda Guerra Mundial.

Em poucas semanas, Trump implantou alterações profundas em diversas áreas, como taxar o comércio exterior, endurecer o controle da imigração e reduzir o tamanho do governo americano. Ele havia prometido essas medidas na campanha, mas a velocidade e a intensidade impressionam.

“Trump está tentando fazer várias coisas disruptivas ao mesmo tempo. Nunca um presidente americano abriu tantas frentes com aliados. Além disso, obviamente, ele está na própria guerra da vingança dele, atacando universidades, a advocacia, os órgãos de imprensa”, diz Mauricio Moura, professor na Universidade George Washington.

De acordo com Moura, o segundo governo Trump tem poucos freios internos, pois ele centraliza cada vez mais as decisões. “Parece não haver filtro entre as ideias do presidente e a execução. Quando trazem uma ideia, ela é executada. Não há nenhum secretário com o poder de dizer não”, afirma. Assim, uma das principais perguntas é até onde Trump pode ir.

No Congresso, as duas Casas são dominadas pelo Partido Republicano, de quem o presidente tem apoio quase unânime. A Suprema Corte, de maioria conservadora, também chancelou ações dele, como a de usar uma lei de 1798 para deportar imigrantes. Na economia, no entanto, as limitações ficaram mais claras.

Em 2 de abril, o presidente determinou novas taxas sobre praticamente todos os países do mundo, mas, na semana seguinte — após momentos de vertiginosa volatilidade dos mercados e das empresas —, ele declarou uma pausa em meio ao risco de queda forte nos títulos da dívida pública americana. Essa perda de valor poderia desencadear uma crise de proporções similares à de 2008, alertaram publicamente economistas e alguns CEOs.

Depois disso, Trump adiou a maioria das tarifas recíprocas até julho, embora outras taxas continuem em vigor, especialmente contra a China. O presidente defende a mudança como uma dor necessária para conquistar um futuro melhor, no qual os Estados Unidos poderão exportar mais e reavivar sua indústria, gerando mais empregos para americanos.

Consequências ainda em análise

As consequências de tantas mudanças ainda estão sendo mensuradas. Alguns indicadores ajudam na leitura. Os cortes de gastos federais têm gerado críticas nos estados, onde diversos programas dependiam dessa verba. Em eleições locais fora de época no Wisconsin e na Flórida, realizadas nas últimas semanas, os republicanos ou tiveram derrotas ou diminuíram a vantagem em muitos pontos percentuais.

No campo externo, o fechamento de entidades como a Usaid, que fornecia ajuda humanitária, reduzirá a capacidade do governo de agir em emergências e minará seu soft power, o poder de influenciar os rumos do mundo sem usar armas. Além disso, as tarifas de Trump têm levado diversos países a buscar negócios que não envolvam os Estados Unidos. A União Europeia, por exemplo, sinalizou que pretende acelerar a implantação do acordo comercial com o Mercosul.

Ao mesmo tempo, muitas pessoas estão mudando planos de viagem e deixando de ir para os EUA. Em março, o número de visitantes do exterior caiu 11% em relação a 2024. “O dano para a reputação dos EUA é tão grande que a China e a Rússia não precisam fazer nada para se beneficiarem desse dano autoinfligido”, diz George Ingram, senior fellow do instituto Brookings.

Dentro do país, a aprovação de Trump teve uma ligeira queda, de 47% em janeiro para 43% no começo de abril. O dado mostra duas coisas: o presidente tem aprovação maior do que o antecessor Joe Biden tinha ao final do mandato (38%) e mantém uma base fiel de apoiadores, ao redor de 30% dos americanos. Os números mostram que ele mantém capital político, mas uma onda de protestos contra o novo governo tem ganhado força nas grandes cidades americanas. O cenário para os próximos meses continua uma incógnita, mas há uma certeza: abrir muitas frentes simultâneas demandará — bastante — energia e tempo de sua gestão.


As várias frentes de Trump

As principais ações que ele tomou no começo do mandato

TARIFAS - Impôs uma série de taxas de importação, por produtos e países, mas recuou de parte delas após crise no mercado de títulos americanos

AFASTAMENTO DE ALIADOS - Trump ameaçou anexar o Canadá e a Groenlândia e reduzir os gastos com defesa militar na Europa, além de taxar as importações de todos os parceiros comerciais americanos

IMIGRAÇÃO - Endureceu a fiscalização nas fronteiras e intensificou ações para prender imigrantes. A entrada de estrangeiros caiu, mas houve casos de deportações feitas por engano

DESMONTE DO ESTADO - Trump demitiu milhares de servidores públicos e praticamente fechou entidades como a Usaid e o Departamento de Educação

ATAQUES A UNIVERSIDADES - O governo ameaçou cortar verbas para entidades de prestígio, como Harvard e Colúmbia, sob a acusação de não combaterem o antissemitismo. Estudantes envolvidos em protestos foram detidos

COMBATE A MEDIDAS DE INCLUSÃO - O presidente determinou o fim de programas que ampliam o acesso de mulheres, negros e minorias a melhores oportunidades de trabalho

Acompanhe tudo sobre:1274Donald TrumpEstados Unidos (EUA)

Mais de Revista Exame

Instituto cultural de Porto Alegre atingido pela enchente prepara expansão e projeto de prevenção

Sem mau tempo: bar icônico de Porto Alegre retoma após enchente sem perder o bom-humor

Formas e funções: indicamos cinco gadgets para os seus momentos de lazer

Invasões bárbaras