Revista Exame

As lições que o Brasil precisa aprender com o tsunami do coronavírus

É hora de tirar a água a bordo, com uma leva de políticas anticíclicas que vêm sendo adotadas mundo afora, sem perder o foco das reformas no longo prazo

O empresário Renato Ticoulat, da Jan-Pro: sem crédito no pior momento  (Germano Lüders/Exame)

O empresário Renato Ticoulat, da Jan-Pro: sem crédito no pior momento (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 21 de maio de 2020 às 05h00.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 13h03.

Até um quarto dos 4 milhões de micro, pequenas e médias empresas brasileiras pode fechar as portas ainda neste ano em consequência da crise provocada pelo coronavírus. Esse grupo de empresas responde por 30% do PIB e emprega mais de 20 milhões de pessoas. Sua agonia é tema de uma reportagem especial desta edição da EXAME. Mostramos como a crise escancarou as dificuldades dos empreendedores em conseguir crédito e honrar seus compromissos mensais. É uma enorme leva de empresários brasileiros habituados a viver com o cobertor curto da falta de capital.

Nas últimas semanas, o que era difícil ficou inviável. O governo federal criou ferramentas voltadas para os empreendedores — mas as medidas foram mais tímidas do que em outros países, e boa parte delas simplesmente não chegou à ponta. Sem garantias de que conseguirão atravessar a tormenta, os pequenos negócios não conseguem recursos e, sem eles, são de fato tragados pela tempestade. É a profecia que se autorrealiza e que engolfa até mesmo startups de tecnologia em forte crescimento (mas sem lucro). Momentos de incerteza total, como o atual, porém, reforçam a importância da resiliência. Startups mais ágeis encontraram novos mercados.

Empresas de energias renováveis, que vêm trabalhando anos a fio para reduzir seus custos, seguem firmes mesmo com o petróleo em mínimas históricas. A revolução na energia é tema de outra reportagem desta edição. Numa escala mais ampla, a crise mostrou que países com as contas em dia tendem a resistir mais — como o Peru, tema de outro texto desta edição.

O Brasil, infelizmente, foi atingido pelo tsunami quando ainda pregava as primeiras tábuas no decrépito casco de seu navio. É hora de tirar a água a bordo, com uma leva de políticas anticíclicas que vêm sendo adotadas sem grandes contestações nem mesmo nos Estados Unidos, onde o liberalismo não é tema de briga de bar, como aqui. Também não há grandes dúvidas de que, quando o pior passar, o Brasil vai precisar retomar a agenda de reformas liberais — mas deveria ter os olhos atentos para as lições deixadas por estas semanas difíceis.

Uma delas é a importância de valorizar e reformar o Sistema Único de Saúde e de integrá-lo de forma mais coordenada à iniciativa privada, foco de outra reportagem. Como aponta o empresário Carlos Wizard, na entrevista da página 20, o momento atual é uma oportunidade para repensar o mundo. Wizard já havia separado seus últimos anos para entender as complexidades para além da área vip dos aeroportos. O objetivo final, de construir um país mais rico e mais justo, com um Estado mais eficiente e empresas mais inovadoras, une Wizard aos 4 milhões de pequenos empresários. Para isso, os imprevistos encontrados desde o início da crise têm de servir de lição.   

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