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As lições do gestor financeiro do MIT para as universidades

Para Israel Ruiz, que administra o MIT, uma das melhores universidades do mundo, melhorar a gestão nas instituições é crucial para desenvolver a ciência


	Israel Ruiz, do MIT: “O objetivo não é elevar a burocracia, mas ajudar os pesquisadores”
 (Divulgação/Exame)

Israel Ruiz, do MIT: “O objetivo não é elevar a burocracia, mas ajudar os pesquisadores” (Divulgação/Exame)

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Da Redação

Publicado em 28 de janeiro de 2016 às 04h52.

São Paulo — Em todos os rankings universitários, o Massa­chusetts Institute of Technology está entre as cinco melhores instituições do mundo. A universidade americana é referência no estudo de computação, física e química. Em seus 154 anos de história, nada menos que 85 de seus pesquisadores receberam o Prêmio Nobel.

O prestígio é resultado de um alto investimento em pesquisa que, em 2014, somou 700 milhões de dólares. À frente da gestão financeira está o espanhol Israel Ruiz. Desde 2011, Ruiz elevou o controle de despesas para melhorar a eficiência das pesquisas.

Hoje, cada pesquisador conta com o apoio de um grupo para auxiliar em tarefas administrativas e na prestação de contas. “Financiar a pesquisa de base com eficiência é a garantia de que o futuro será produzido aqui”, diz.

Exame - O senhor administra os recursos bilionários de uma das melhores universidades do mundo. O que diferencia o MIT de outras instituições de ensino?

Israel - Nossa estrutura é única porque está focada na pesquisa em ciências exatas. Dos 2,4 bilhões de dólares do orçamento, 700 milhões são destinados à pesquisa, mais do que em qualquer outra universidade de elite quando se considera apenas os campos de ciências exatas.

Exame - Qual é a origem do dinheiro das pesquisas?

Israel - O financiamento público ainda é a parte mais significativa. Hoje, 66% vêm de fontes do governo federal americano. Um quinto vem de empresas e o restante é dividido entre fundações internacionais e o financiamento interno do MIT.

Exame - Como garantir uma pesquisa de impacto?

Israel - Os contratos nos obrigam a indicar os resultados de cada pesquisa. Aquelas financiadas por empresas têm aplicação imediata. Mas as outras podem estar num nível fundamental, sem aplicação prática hoje ou em dez anos, como os estudos de física teórica. É o tipo de ciência mais distante do público. Mas, sem ela, não teríamos os computadores.

Exame - O que o senhor mudou na gestão de recursos?

Israel - Melhoramos o acompanhamento das despesas. Hoje, cada pesquisador é auxiliado por um grupo de especialistas que prestam assistência administrativa. Mas o objetivo não é elevar o fardo e a burocracia. É orientar. O grupo tira dúvidas sobre os gastos e avisa quando a data para a entrega da prestação de contas se aproxima, por exemplo.

Exame - Quais foram os ganhos desse modelo?

Israel - O maior ganho é de eficiência. O número de funcionários administrativos é o mesmo de 30 anos atrás, apesar de termos mais docentes e estudantes. Centenas de contratos de pesquisa são assinados ou auditados a todo instante.

E é preciso ter um grupo dedicado para que a máquina funcione. Financiar a pesquisa de base com eficiência é a garantia de que o futuro será produzido aqui pelos pesquisadores.

Exame - Há mais controle de como o dinheiro é aplicado?

Israel - Há mais transparência. Mas a aplicação do dinheiro não é tanto o problema. Quando recebemos o financiamento, ele já tem um destino definido por contrato.

Exame - As universidades brasileiras não costumam dar bons exemplos de gestão. Como podemos melhorar?

Israel - Não posso comentar sobre o estado das universidades brasileiras. Mas estamos conversando com elas para usar o conteúdo das aulas em plataformas online. Acho que esse é um passo para preparar o modelo de educação do futuro.

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